Duas histórias que PRAGA me pediu para contar no BigSlam!
Praga é a capital da república Checa. Pelo facto de se encontrar na Europa Central é o ponto de encontro de diferentes culturas, o que faz com que se torne um importante centro turístico, com uma vida cultural intensa. Tem um vasto património arquitectónico com milhares de anos de história, grande parte na cidade velha na margem direita do rio Moldava, com monumentos, edifícios e igrejas onde os estilos gótico e barroco co-habitam com o moderno. Atravessando o rio pela ponte Carlos IV (a principal e mais bonita) para a margem esquerda, bem no alto de uma colina fica a jóia da coroa da cidade: O castelo de Praga que como eles dizem: “uma cidade dentro da cidade”, outrora habitado pelos reis da Boémia, hoje residência presidencial.
Praga é bonita de se ver! Nem a língua é problema, porque na cidade predomina o inglês. É mais uma capital que vale a pena visitar!
Praça principal de Praga,
onde se encontra o célebre relógio astronómico.
Arco de entrada na ponte Carlos IV vendo-se lá no alto o castelo.
1.ª História
Esta é a igreja ortodoxa de São Metódio. Situada não muito longe da parte velha da cidade, que para além de ser um lugar de culto, tem também história trágica para contar :
Corria o ano de 1942 a Checoslováquia estava ocupada pela Alemanha de Hitler. Quem comandava essa ocupação era o temível carrasco das SS general Reinhard Heydrich, instalado em Praga.
O governo da Checoslováquia no exílio, com ajuda de Londres trama um golpe de mão para o liquidar. Aos britânicos cabia a tarefa de dar treino especifico a 2 comandos checos, Gabcik e Kubis, e depois lançá-los de pára-quedas numa aldeia dos arredores de Praga, onde para lhes prestarem assistência e apoio estavam outros elementos de resistência.
Eles sabiam que o atentado não podia falhar, estavam em jogo não só as suas vidas, mas também a de outros resistentes! Para isso estudaram pormenorizadamente durante dias os percursos utilizados por Heydrich nos trajectos para casa. Verificaram que o local ideal para o golpe era numa curva fechada onde a viatura do general tinha de diminuir de velocidade, sendo assim mais fácil acertar no alvo. Só que!….. Na hora “H” a pistola metralhadora de Gabcik que tinha sido alterada para cometer o atentado, encravou, e deu tempo ao condutor de os ver! Kubis teve de consumar o acto com recurso a granadas de mão.
A vingança dos alemães foi terrível !!! Porque lhes foi dito que os 2 comandos estavam escondidos numa aldeia ali perto, foram lá com o intuito de os apanharem; como não os encontraram, arrasaram-na matando e deportando os aldeões para campos de concentração. Não satisfeitos ainda, para que constasse como represália e acto de intimidação, fizeram o mesmo a uma aldeia vizinha, e avisaram os checos que se não os entregassem ou não dissessem onde estavam escondidos, a situação dos massacres e deportações iam piorar.
Memorial com os nomes dos aldeões. Existe ainda outro lateral a este, que se vê de perfil
Um desertor da resistência a troco de 10 milhões de coroas checas (cerca de 400.000€) denunciou-os e disse onde eles estavam escondidos juntamente com outros elementos da resistência. O local era precisamente esta igreja! Cercaram-na, e para os intimidar a entregarem-se metralharam a parede lateral dizendo-lhes que se não o fizessem, arrasavam-na.
Parede lateral da igreja onde se podem ver as marcas das balas, e um ramo de flores.
Após uma troca de tiros vendo que não tinham saída possível, sabendo o fim que os esperava, resolveram suicidar-se juntamente com os outros resistentes.
Esta operação foi planeada sob o nome de código de “Operação Antropóide”; foi-me relatada ao pormenor acompanhado de fotografias no museu existente na igreja, que depois confirmei na internet, e julgo que também foi passada para filme.
2.ª História
A “Primavera de Praga” foi um movimento reformista iniciado em 5 de Janeiro de 1968, liderado por Dubcek, apoiado por intelectuais dissidentes do partido comunista checo e pela maioria da população, com o fim de democratizar pacificamente o regime comunista transformando-o num regime socialista democrático assente nos moldes ocidentais. A União Soviética vendo que com este movimento a Checoslováquia lhe fugia ao “controle”, resolve em 21 de Agosto de 1968, utilizar as forças militares do Pacto de Varsóvia para invadir o país, pondo assim fim a essas reformas, e portanto à chamada “Primavera de Praga”. Esta ocupação durou até 1990.
Avenida de São Venceslau em Praga, vendo-se em segundo plano a sua estátua.
Esta é a avenida mais importante da parte nova da cidade de Praga: “Praça de São Venceslau“, equivalente à avenida da Liberdade em Lisboa, aos Campos Elíseos em Paris, ou à antiga avenida da República em Lourenço Marques, ou……. a outra principal avenida de qualquer capital.
Nesta rua à frente do Museu Nacional, no passeio central está a estátua de São Venceslau, padroeiro da República Checa.
Estátua de são Venceslau em frente do museu Nacional
A cerca de 50 metros desta estátua existe uma placa memorial com as fotografias e os nomes de dois estudantes, Jan Palach e Jan Zajic.
Estes dois estudantes, em 1969 como forma de protesto pela invasão da Checoslováquia pelas forças militares do Pacto de Varsóvia, que puseram fim à “Primavera de Praga”, cometeram o suicídio através da auto-imolação. O facto de a placa ter sido colocada neste local, é porque foi aqui em frente ao museu Nacional, que Jan Palach se auto-imolou.
Há relatos de outros checos que noutras cidades seguiram o seu exemplo.
João Costa junto da placa em memória dos dois estudantes.
Existem também memoriais com referências a estes estudantes, noutras cidades Europeias.
Quero-vos pedir desculpa por qualquer erro de linguagem que possa existir no texto, onde tentei ser o mais fiel possível, assim como pela qualidade das fotografias em que algumas tiveram de ser alteradas.
Os meus agradecimentos a toda a equipa do “nosso ponto de encontro” – BigSlam na pessoa do Samuel, pela publicação destes dois factos históricos.
João Santos Costa – 05.09.2013