Palmira Pedro Francisco, uma Senhora Moçambicana! – “Milénio” de Alexandre Ribeiro Franco

Palmira Pedro Francisco – Uma Senhora Moçambicana!

Por: Alexandre Ribeiro Franco

Permitam-me que justifique o titulo desta entrevista: Uma Senhora Moçambicana!

Quando se está perante alguém de estatura tão elevada e de créditos que ultrapassaram todas as expectativas, e se trata de uma senhora reconhecida por mundos muito superiores àqueles a que nos habituámos, teremos que resumir em três palavras de grande significado: Uma Senhora Moçambicana!

Agora vamos saber quem é esta Grande Senhora. Para tal, nada como apresentarmos a nossa entrevistada, antes de entrarmos na conversa que travámos com Palmira Pedro Francisco.

“Palmira Pedro Francisco nasceu e passou maior parte da sua vida em Nacala. Iniciou o ensino primário em Nacala e como filha de um enfermeiro, acompanhou o seu pai tendo passado por outras escolas como Nova Freixo, Catur, Alto Molócue, Malvernia, Zobué e terminando os últimos anos do ensino secundário entre Nampula e Nacala.
Após isso, começou a interessante carreira profissional como mecanográfica no Montepio de Moçambique Sede, Nacala, Quelimane e Nampula como Caixa — Tesoureira no Banco Popular de Desenvolvimento. Continuou a sua carreira na área administrativa desempenhando funções de secretaria executiva e chefe de gabinete de relações públicas em empresas privadas.
Prosseguiu com a educação, formando-se em gestão de pequenos negócios no Botswana, assuntos de género na Holanda e relações publicas e protocolo em Portugal.
No setor do ambiente começou trabalhar em 1989 apoiando na área administrativa a Comissão Nacional do Meio Ambiente.
Após a criação do MICOA e devido à conjuntura que o país atravessava, passou a contribuir ativamente nas questões de género e HIV/SIDA ocupando o cargo de Assistente do Ministro em Assuntos de Género e Coordenação das Províncias. Foi Assessora do Ministro em Assuntos de Género e HIV/SIDA e ao mesmo tempo vem desenvolvendo atividades desportivas e comerciais a nível do setor informal.

Além de intensa vida profissional Palmira Pedro Francisco é muito ativa politicamente. É membro da FRELIMO desde 1981. A sua carreira politica começou no ano de 1976 trabalhando voluntariamente com a OJM e OMM.
Entre 1977-1982 foi eleita Deputada na Assembleia do Povo em Nacala. Em 1988 pertenceu ao grupo mobilizador para a criação da Célula do Partido no MICOA tendo sido eleita Segunda Assistente da mesma. A nobre tarefa de deputada voltou a desempenhar nos mandatos legislativos de 1994 até 2004. Em 2005 voltou a ser Deputada Suplente.
Palmira empenha-se muito nas áreas ligadas ao empoderamento de mulheres em várias vertentes – como empresarias, dirigentes no associativismo, desportistas. Ela é também membro de diversas associações da sociedade civil entre elas a Federação Moçambicana de Futebol, Associação Moçambicana de Mulheres Empresarias e Executivas onde é também fundadora.
Palmira Pedro Francisco é exemplo de mulher bem-sucedida na vida profissional, politica e privada. É casada com um desportista, mãe de 4 filhos e avó de 4 netos. Consegue dividir o tempo para realizar as suas obrigações domésticas, ambições profissionais e servir a sociedade e ao País. Ela é modelo de mulher moderna que luta para se realizar nas várias esferas do desenvolvimento e do combate a pobreza.
A moçambicana, Palmira Pedro Francisco, foi nomeada membro da FIFA por quatro anos, para o comité Organizador do Campeonato do Mundo de Sub-20 que está a ser disputado entre nós.
Para tomar posse diante da presidência da FIFA, Palmira Francisco viajou da Guiné-Equatorial onde decorria o CAN para Zurique e assumiu a responsabilidade que lhe foi incumbida.
Palmira é uma mulher ativa na Federação Moçambicana de Futebol (FMF) à qual está ligada há 18 anos, 16 dos quais a liderar o futebol feminino.

No seu palmarés internacional constam quatro “trabalhos” ativos em Copas Africanas, nomeadamente na África do Sul, Angola, Guine-Equatorial e Sudão, este último como primeira edição do CAN interno.
Trabalhou igualmente em seis CAN’s femininos, designadamente na Nigéria (dois), África do Sul (dois), Camarões e Guiné-Equatorial. É membro do CAN há 12 anos.
Palmira Francisco já exerceu também tarefas políticas, primeiro como deputada na Assembleia do Povo em Nacala entre 1977-1982 e, após a introdução do multipartidarismo em Moçambique, ela foi eleita deputada no mandato legislativo de 1994 até 2004 e, no mandato seguinte (2004-2009) foi Deputada Suplente.”

Palmira Pedro Francisco no Canadá

E é esta Grande Senhora Moçambicana que se dignou conversar com este humilde moçambicano, começando por nos dizer que apesar de estar entre nós por causa do Campeonato do Mundo de Sub-20 Feminino que está a ser disputado, também gostaria de procurar uma aproximação ainda maior entre o Canadá e Moçambique, entre os Moçambicanos-Canadianos e Moçambique e, de uma forma geral, entre os canadianos e Moçambique.

Foi Bento de São José quem proporcionou este encontro, o qual foi antecipado por uma excelente sardinhada, e com a presença de outros convidados, como foi o caso do amigo Carlos Oliveira, da Central Ticket Defense, antigo sindicalista e jornalista da nossa comunidade.

Alexandre Franco, Palmira Francisco e Bento José

“Julgo ser importante dizer que é essencial para Moçambique ter uma pessoa que durante tantos anos travou uma ligação forte com o futebol feminino moçambicano, ser agora membro da FIFA. É nessa condição que estou no Canadá, mais ligada à Comissão de Sub-20.”

“Estou e estarei sempre muito ligada à política moçambicana, fui durante três mandatos Deputada pelo meu Partido, que é a Frelimo, representando a Zambézia.”

Falemos sobre uma maior aproximação entre o Canadá e Moçambique…

“O Canadá é um velho amigo de Moçambique. Só para lhe dar um exemplo, o Canadá acaba de proporcionar ao meu país um Centro de Saúde, no meu circulo eleitoral que é a Zambézia. Para mim é uma dupla honra estar no Canadá. Não só como desportista, mas também como política.”

“O Canadá sempre esteve com Moçambique. Claro que temos que tomar em consideração as distâncias e, consequentemente, as oportunidades de negócios. Todavia, Moçambique, para o Canadá, não é um país esquecido.”

“Se conseguirmos aproximar mais os nossos países, poderemos certamente proporcionar o envio de produtos moçambicanos em maior quantidade, como por exemplo o camarão, o pescado moçambicano, a castanha de caju, e não podemos esquecer o aspeto turístico. Moçambique possui paraísos turísticos que bem podem ser oferecidos aos canadianos. E vice-versa. É uma questão de maior e melhor entendimento, mas nada está fechado e as possibilidades são incomensuráveis.”

Moçambique conseguiu ultrapassar uma fase catastrófica que durou mais de 25 anos…

“É verdade. O povo moçambicano é um povo que já sofreu e que não quer sofrer mais. Passámos por grandes dificuldades. O nosso país teve que lutar muito. E aquilo que hoje Moçambique está a desenvolver não dá para perder, não dá para voltar para trás.”

Uma ideia que partiu do Sr. Bento de São José, aquele que nos colocou cara a cara, é de tentarmos fazer com que os moçambicanos residentes no Canadá voltem a apontar forças para o seu país natal…

Alexandre Franco e Palmira Francisco

“Os moçambicanos, os amigos dos moçambicanos, os conhecidos dos moçambicanos, os luso-canadianos, os canadianos… O potencial é grande. Fiquei muito satisfeita com essa ideia, a qual irei transmitir ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do meu país. Embora a minha estadia no Canadá seja bem longa, aqui na cidade de Toronto, não é. Eu sei que é em Toronto que residem a maior parte dos moçambicanos e, infelizmente, não vou ter tempo para conversar com eles, mas vou expressar essa vontade ao Ministro dos Negócios estrangeiros de Moçambique para que ele possa escutar estes moçambicanos.”

“Ainda recentemente o Presidente de Moçambique esteve em Washington e eu soube que alguns moçambicanos se deslocaram a Washington, o que julgo ter sido um excelente passo no sentido da aproximação entre estes dois países, sem esquecermos que existem muitos mais moçambicanos que também poderão ser uma maior valia para o intercambio de negócios.”

“Recordo que em Moçambique temos a FACIM, que é uma Feira Internacional, anual, agora com uma dimensão bem maior do que anteriormente, uma vez que saiu do Maputo para Marracuene (a 30 quilómetros do Maputo), que bem poderá ser a plataforma de lançamento para um maior investimento em Moçambique.”

“Vamos então apelar a todos os moçambicanos que aqui residem para voltarem a pensar na terra onde nasceram, onde viveram, ou por onde simplesmente passaram.”

Vamos voltar ao desporto, mais concretamente ao futebol.

“Comecei como defesa e acabei como guarda-redes, em Nacala. Não havia futebol feminino na altura e eu jogava com os rapazes!”

A fazer lembrar a Lurdes Mutola…

“Isso, exatamente! Depois deu-se a minha mudança de Nacala para o Maputo e tive o Manuel Jorge como Presidente da Federação.”

Quando regressar diga ao Manuel Jorge que este seu amigo lhe manda um abraço.

Daí a ligação à Federação moçambicana de futebol, à Can e mais recentemente à FIFA. O que é, indubitavelmente, uma honra.

E para terminar…

“Antes de chegar a Toronto estive em Edmonton e gostei de saber o que os canadianos sentem e aproveito para os convidar para visitarem Moçambique. Estamos recetivos, de braços abertos, de portas escancaradas para as mais diversas atividades.”

“O Sr. Bento de São José ainda há pouco me falava na facilidade de instalação de bombas de gasolina. Nós precisamos de bombas de gasolina ambientalmente suportáveis… E é isto que nos interessa.”

Filipe Jacinto Nyussi vai ser o próximo Presidente de Moçambique

“O Presidente, Armando Emílio Guebuza, está prestes a terminar o seu mandato e Filipe Jacinto Nyussi vai ser o próximo Presidente, pessoa que, certamente, estará interessada na aproximação entre o Canadá e Moçambique.”

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