A lenda do Pescador da praia da “Catembe”
Será que depois de aconselhado ele fez a melhor opção?
E se tivesse seguido o conselho de abandonar Lourenço Marques e agora voltasse! Qual o estado de conservação que ia encontrar em alguns edifícios nos bairros nobres de Maputo?
Esta lenda podia ter sido adaptada a uma outra praia de um outro qualquer país!
Conta que um homem de altos negócios estava passar férias numa “linda cidade” e resolveu ir passear até à praia.
A “linda cidade” que escolhi foi a cidade Lourenço Marques. Que com criatividade, ficção e imaginação não foi difícil adaptar-lhe a lenda!
A “praia selecionada” foi a praia dos pescadores da Catembe. Porque depois de ler aqui no BigSlam o artigo do Manuel Terra com o título, “Catembe: Um outro olhar sobre a baía”, verifiquei que esta praia servia os meus propósitos.
Conta a lenda que aquele homem de negócios não esperava encontrar uma cidade tão bonita como “Aquela”. E para contemplar melhor a sua beleza resolveu atravessar a baía do Espírito Santo e ir até a Catembe.
Estava encantado na praia admirar a cidade e notou que ao seu lado estava a chegar um pescador, num barquito artesanal, com uma pequena quantidade de peixes frescos.
O homem ficou fascinado com a frescura e beleza dos peixes! Depois de o felicitar perguntou-lhe: “Quanto tempo demorou a pescá-los“.
“Foi só o tempinho de lançar a rede!” – Respondeu-lhe o pescador.
“Porque é que você não ficou mais tempo para pescar mais peixes?” Perguntou o homem de negócios.
“Como aqui há muitos peixes, eu só pesquei os suficientes para mim, minha família e para dar alguns aos meus amigos”, disse ele.
“Então o que é que você faz com o resto do seu tempo livre?” Perguntou-lhe o negociante.
O pescador sorriu e respondeu com um tom calmo e relaxado:
“Brinco com meus filhos e tiro uma soneca”.
“Ao fim da tarde dou uma caminhada na praia com minha esposa”.
“E à noitinha junto-me com os meus amigos, bebo cerveja e toco viola.
Eu sou feliz assim! Tenho uma vida muito boa.”
Ao ver a sua simplicidade o homem de negócios decidiu orientá-lo:
“Vou ensinar-lhe o que deve fazer para melhorar o seu negócio e ficar rico.”
E explicou-lhe:
“Para progredir na vida o que você deve fazer é passar mais tempo a pescar! E depois vender o peixe que não consumir.
Com esse dinheiro extra compra um barco maior e emprega algumas pessoas para o ajudarem. E assim arranjará dinheiro suficiente para comprar mais barcos, para depois abrir uma empresa!”
E continuou: …“Depois de a sua empresa crescer, começa a exportar o seu peixe e a vendê-lo diretamente ao consumidor, sem intermediário; controlando o produto, o processamento e a distribuição.
A seguir muda-se para a cidade de Lourenço Marques! Contrata os melhores gestores para o ajudarem a expandir o negócio da sua empresa.”
O pescador questionou: “Mas quanto tempo vai levar tudo isso?”
O homem de negócios respondeu: “Com sorte cerca de quinze anos.”
“E depois de tudo isso, o que faço com a empresa, Senhor?” Perguntou o pescador.
O homem de negócios vendo que o pescador estava interessado na sua lição, sorriu e respondeu:
“Aí é que vem a sua grande recompensa! Na hora certa você vende as ações da sua empresa e torna-se muito, muito rico, com os milhões de escudos que recebe, que se quiser depois troca por dólares”.
O pescador ainda não tinha entendido bem o propósito de tudo aquilo:
“Milhões de dólares? Tanto dinheiro! E o que faria com todo esse dinheiro?”
O negociante respondeu:
– “Vai descansar e levar uma vida boa! Abandona a cidade de Lourenço Marques” e como tem muito dinheiro, se desejar sai e muda-se para uma pacata vila de pescadores no litoral, ou para um outro país!”
“Depois aí dorme até mais tarde; brinca com seus filhos, ou melhor, com seus netos; tira umas sonecas; ao fim da tarde vai dar uma caminhada pela praia com sua esposa. E à noite vai beber cerveja e tocar viola com seus amigos.”
“Mas Senhor, para fazer tudo isso eu não preciso de esperar quinze anos. Porque é isso mesmo que eu já faço hoje! E até já estou a ensinar a minha arte aos meus filhos para poderem levar a vida boa que eu levo neste país.” – Respondeu o pescador.
Esta fábula tem sempre dois pontos de vista, e merece uma reflexão!
Quem estava certo o pescador ou homem de negócios?
Transportando esta lenda para a realidade, “o pescador“ ao ter ficado no país deveria, em conjunto com a sociedade civil, ter pressionado os políticos e governantes para o estado de degradação a que estão deixar chegar, alguns edifícios da Capital e não só!
Como é que a cidade de Maputo se encontra atualmente?
É verdade que foram construídos muitos edifícios novos.
Mas também muitos, dos que foram deixados pelos “colonialistas” em “locais nobres da cidade”, que deram nome a Lourenço Marques, estão degradados e votados ao abandono. Como mostram estas imagens.
Como devem ter notado a lenda foi a estratégia que encontrei para alertar a sociedade civil para o estado de abandono e degradação que estão a deixar chegar alguns bairros e edifícios daquela que foi a linda cidade das Acácias!
Se quiserem expliquem num breve comentário o que fariam na situação do pescador!
Fonte: Wikipédia e housesofmaputo.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno… Muito pequeno!
João Santos Costa – Julho de 2024
16 Comentários
Orlando Valente
Se os governantes feixaram chegar Mocambique a este estado de degradacao, voces acham que era um poercador que no meio do caus iria enriquecer vendendo o peixe que ele consumia e era o sustento da familia? Admitindo a hipotese que ele comessaria a ganhar dinheiro, o pobre do pescador havia de ser roubado… depois, mudava de ideias, voltaria com o rabo entre as pernas para fazer precisamente o que fazia anteriormente… assim, a alegria voltava a predominar entre a familia.
Sobre os arranha ceus que construiram no maputo quem orienta a conservacao dos mesmos? Vao apodrecer como estao a apodrecer os outros… ou nao acreditam que MOCAMBIQUE E TERRA QUEIMADA?
lutafnoorali@gmail.com
E tao triste. Podiam ter mantido os Portugueses e a cidade estaria em condicoes .
João Santos Costa
É mesmo isto que aqui referes, Manel. A partir do momento em que o governo, sem quadros e de incompetentes, passou a ser o dono e senhorio de tudo, os bairros nobres de Maputo chegaram a este estado!
Mas deixa que te diga: A sociedade civil também sai muito mal nesta fotografia. Não reclama aquilo a tem direito! Asseio e limpeza do que herdaram.
Umas boas férias e um grande abraço deste teu amigo, João.
Manuel Martins Terra
Caro amigo João, para este teu post escolheste e bem a bela praia dos Pescadores na Vila da Catembe, com que ilustras a lenda do pescador. Serve para refletirmos a filosofia de vida do ser humano, e neste caso depois do desenrolar do diálogo estabelecido com o bem sucedido homem de negócios, o pescador achou que era feliz , tendo o necessário para viver e amparando a família . Moral da história; há gente que sendo assim se sente realizada, e outra que nada lhe faltando se sente infeliz. Passando agora para a realidade da cidade de Maputo, no segundo ato do post, visas o estado atual de degradação de mutos edifícios da cidade. Todos nós nos lembramos, que no período pós-independência , o Estado moçambicano chamou a si a gestão do parque imobiliário da cidade, tornando-se o senhorio de todos aqueles que antes pagavam as rendas aos seus legítimos proprietários. Eu próprio até à data do meu regresso, pagava a renda da minha flat( era assim que se dizia) num departamento do MAI, tendo que exibir o contrato de arrendamento antes rubricado, e mais tarde já no aeroporto antes de deixar Moçambique, tive que exibir o célebre documento azul, onde constava que nada devia em termos fiscais, ao Estado de Moçambique. Geraram-se receitas que em principio deveriam servir para reparações e pinturas dos edifícios. Contudo, nos anos que se seguiram muitas vivendas, lojas, armazéns e flats, foram invadidas por população vinda da área suburbana e creio que se criou um estado de sítio, porque poucos foram ou quase nenhuns, os que pagavam rendas e tudo se foi deteriorando . Os prédios apresentam-se descoloridos, varandas cheias de grades, cimento a despregar-se e cheiros nauseabundos. A par e muito lentamente, vão-se reabilitando alguns edifícios públicos como o caso do Vila Algarve, que vai ser transformado em museu histórico. A verdade é que hoje se tem construído edifícios que ostentam traços da arquitetura moderna de grande beleza, sobretudo os da marginal da Costa do Sol, mas esses são geridos por consórcios privados e outros em regime de condomínio fechado, regras essenciais para devida manutenção. É com muita mágoa, que vejo que sendo Moçambique, um país maravilhoso, dotado de inúmeros recursos e de um turismo de excelência, seja também o retrato de um povo pobre e infeliz, que sofre na pele os desmandos dos seus governantes , que vão gerindo fortunas fabulosas e distribuindo dividendos pelos novos colonos, que não têm raízes naquela terra, e que tenho dúvidas que a amem como nós a amamos. Caro João, não me alongo mais e recebe um abraço do amigo Manel.
Wanda serra
Mais uma vez o m grande amigo
Está de parabéns.
Adorei adorei João
Beijinhos
Virgínia
Desde 1998 que tenho voltado a Moçambique com muita frequência. O katali chama a atenção para os enumeros prédios novos e tem razão, embora muitos deles com um cheirinho a lavagem de dinheiro, mas isso não justifica nem apaga a má administração a que o organismo (criado após a nacionalização dos prédios ) deixou chegar todo o enorme conjunto habitacional “oferecido “ pelos colonos.
E se fosse só na área da construção que tal sucedeu, estaria o povo moçambicano a rir de quem dele se ri.
Orlando Valente
Presentremente falar de Mocambique, nao nos podemos aconselhar do que possam falar os jornais, os politicos, ao ate receber conselhos de alguem… NOS MESMOS SOMOS AS FIEIS TESTEMUNHAS DE PODERMOS JULGAR E SO NOS TERIAMOS DE TIRAR AS CONCLUSOES… Mocambique e terra QUEIMADA, Mocambique foi entregue a um bando de terroristas… Nao quero que me deem razao, a penas que vemham me dizer na minha cara se estou certo ao errado. TENHO 81 ANOS DE IDADE, sou uma prova fiel como muitos mocambicanos da minha idade os sao.. Mocambique esta num caos PORQUE NAO TEM NINGUEM QUE SAIBA ADMINISTRA-LA, NEM NUNCA TERA… COM A MINBHA ESPERIENCIA, FALTA A MOCAMBIQUE A CABECA DO BRANCO MPARA PODER MANDAR… NEGRO NAO TEM A AUTORUDADE DE MANDAR AO NEGRO… NAO SOU RACISTA, FUI CRIADO COM COLEGAS NEGROS, MULATOS, INDIANOS, E TODOS NOS NOS CUMPRIENDIAMOS. MUIITO TINHA QUE CONTAR SOBRE O QUE ME ACONTECEU DESDE QUE NASCI EM MOCAMBIQUE… SOU BRANCO, COMO PODIA TER OUTRA COR… FUI CONSIDERADO E OUTROS COMO EU, BRANCO DE 2A CLASSE, FUI APATRIDA POR TER SAIDO MA MINHA TERRA PARA NAO SER MORTO… CUMPRI O SERVICO MILITAR NO NORTE EM ZONAS 100% OPERACIONAIS, FUI EMBOSCADO, ETC.ETC. SOU PORTUGUES PORQUE NASSCI NUMA PROVINCIA DE PORTUGAL… CONDENO O QUE ACONTECEU COM A MINHA TERRA QUANDO MEIA DUZIA DE ALGOZES “COMUNISTAS” SE APODERARAM DO GOVERNO PORTUGUES E VENDERAM AO INIMIGO AS PROVINCIAS E OS MOCAMBICANOS TIVERAM QUE FUGIR DO PAIS, COM UMA MAO A FRENTE E OUTRA ATRAS. PORTANTO, REPITO, MOCAMBIQUE E TERRA QUEIMADA, CHORO PELA MINHA TERRA, A ELA DEDICO-LHE OS MEUS POEMAS CUJAS PALAVRAS ME SAIEM DO CORACAO E SEI QUE MUITOS CONTERRANEOS FICAM ALIVIADOS DA DOR QUE OS CONSOMEM. Mas voltando a lenda do pescador… amigo pescador, continua na tua vida presente, nao te importes do passado, estre ja passou, nao te importes do futuro… nem sabes se la chegas… vai bebendo as tuas cervejinhas, confratenisa com os teus amigos e esposa, toca a tua viola…. vive a tua vida na graca de Deus. O dinheiro nao tras felicidade. Peco a todos que me desculpem pelo meu desabafo, ao BIGSLAM as minhas sinceras desculpas, CASO ME TENHA EXCEDIDO EM ALGO QUE NAO DEVERIA TER DITO. QUE TODOS FIQUEM NA GRACA DO SENHOR. QUE DEUS TENHA MISERICORDIA DA NOSSA TERRA, QUE CONTINUE COM A SUA BELEZA NATURAL… PORQUE QUEM NAO CUIDA DELA ESTAO DE PASSAGEM E A NOSSA TERRA FICA…
Katali Fakir
João, seguindo o raciocínio da lenda do pescador e com coerência, já agora faria mais sentido colocar também fotos da nova Maputo e os novos sumptuosos edifícios públicos e privados que em nada ficam a dever os edifícios coloniais.
Enfim, quem conta um conto costuma acrescentar um ponto….
PS – não estou nem de perto e nem de longe a defender a política e os políticos freliministas, apenas a sugerir que haja lugar ao contraditório, ainda que não seja necessariamente maquiavélico, tal como o pescador – são escolhas…
João Santos Costa
Caro Katali no texto também faço referência, que em Maputo, foram construídos muitos edifícios novos.
Mas como deves ter notado este artigo não precisa de “contraditório” porque não é um “confronto”, Lourenço Marque versus Maputo!
O que pretendo é mostrar a todos, e também aos moçambicanos que lá residem, que juntos fizémos de Lourenço Marques a “mais linda cidade de África” e passados estes anos, por culpa dos governantes e da sociedade civil, deixaram chegar os edifícios, em locais nobre da cidade, ao estado “lastimoso e de abandono” em que se encontram.
Falas em novos edifícios públicos sumptuosos que foram construídos. É verdade!
E eu pergunto: E o povo meu Deus! Como vive a grande maioria do povo?
E respondo: Os que podem vivem! Outros vivem de “esquemas “! Mas a grande maioria não vive “vegeta”.
Carlos
Lembro me que (segundo rumores), entre os convidados do Samora no acto da independência, que Siad Barre o presidente da Somália referiu se ao Samora ; vem visitar Mogadíscio para veres o q os italianos deixaram lá: dado q Samora “q se queixava q os portugueses foram se embora e não deixaram nada”, segundo a história dizem q Samora curtou relações diplomáticas com a Somália! Se houver alguém q tenha factos deste episódio seria interessante.
João Carlos Guerra Mendes de Almeida
João…o que fizeram com a nossa cidade?
Como é possível tratar tão mal, e de forma tão pouco cuidada, aquela que foi a mais bonita cidade africana, enquanto Lourenço Marques? Aquela cidade que era o orgulho de todos nós, de todos que lá viviam e a amavam, transformou-se num amontoado de velhos e descuidados prédios, separados por ruas esburacadas e passeios a desfazerem-se…que tristeza. Por isso, quando me perguntam se já lá voltei…eu respondo…fazer o quê?
Grande abraço meu Amigo João e restam-nos as memórias e a saudade.
João Santos Costa
Pois é caro João! Eu digo-te porque deixaram Lourenço Marques chegar ao estado a que chegou. É porque receberam de “mão beijada” aquela linda cidade que nada lhes custou. E como foi uma herança dos “colonialistas” não tem orgulho no que receberam. É para deixar cair!
Só quero recordar à sociedade civil moçambicana, (uma vez que os governantes nada fazem), o velho ditado : – “Quem o seu não cuida o diabo leva”.
Um grande abraço, e umas boas férias aí nessa tua linda ilha da qual eu também gosto.
José Alexandre Bártolo Wager Russell
Pois é. Quanto à lenda não me vou pronunciar, porque tem muito que se lhe diga. E como não gosto de pensar em ou é branco, ou é preto, ou é 0 ou é 1, passo adiante. É lamentável de facto o estado de degradação de uma boa parte dos prédios e casas em Maputo. Assim como é triste no que à limpeza, esgotos, salubridade, fornecimento de água potável e electricidade. Um país rico, que não aplica o dinheiro para melhorar as condições de vida do seu povo, porque o bolso de quem manda é muito fundo e tem de encher… e mais não digo.
Roberto Winston Woodcock
Difícil decidir. Na Catambe eu ficaria se não tivesse filhos
ricardoquintino@netcabo.pt
É com imensa tristeza que revejo mais uma vez mais o estado de degradação em que se encontram a maioria dos edifícios construídos no outro lado do tempo, da cidade capital da terra que me viu nascer bem como a da minha filha…😥😥😥…que por força das circunstâncias de uma “exemplar descolonização”, nos obrigou a sair em 1978.
Angelina neves
Fico com o pescador!
Ele não prejudica o ambiente em que vive. Não o “estraga” nem o polui e deixa-o para os seus filhos intacto em beleza e riquezas.
Além de que, as crianças precisam mais do tempo e carinho dos pais do que de dinheiro e bens materiais – vemos como são egoístas, hipócritas, vazios de princípios os filhos dos que “ricos” só em bens materiais e que nada mais têm a oferecer aos seus filhos… desprezam tanto o ambiente como as pessoas e animais e plantas que o habitam…