O homem com camisa preta
Nesse sábado as filas até nem eram muito compridas. Escolhi a que tinha menos gente: – Um homem de meia-idade, com camisa preta, a ser atendido na caixa; uma senhora com cerca de 60 anos que, pelas feições, na sua juventude devia “pedir meças” à Sofia Loren; uma rapariga que depois saiu da fila; e eu. Além de outros que entretanto chegaram.
No acto de pagamento aproximou-se do homem de meia-idade, com camisa preta, uma senhora morena, de cabelo preto liso e saia comprida – esposa (?) – entregou-lhe um folheto do supermercado, e fez mímica para que conferisse os preços.
A tirar e pôr produtos nos sacos. A mostrar o folheto à operadora da caixa e uma colaboradora, sem ter em conta as justificações que elas lhe davam, ele ateimava que estava a ser enganado. A demorar muito tempo sem se afastar, e com o carrinho a obstruir a passagem, estava a impedir que fôssemos atendidos.
Como já estávamos junto à caixa não mudámos de fila. A senhora que estava atrás, educadamente, pediu-lhe para se despachar e desviar ou arrumar o carrinho. O homem com camisa preta, possivelmente, porque esse sábado não lhe estava a correr de feição, começou a disparatar. Com modo grosseiro e agressivo virou-se para a senhora e proferiu palavras idênticas, se não exactamente estas:
– “O que é que a senhora quer? Não vê que estou a conferir os preços?
– Quero que se afaste para me despachar e arrume o carrinho ali – e apontou com o dedo – Como todos fazemos! Disse-lhe, a senhora.
– Não me dê lições. O carrinho estava lá, mas desarrumado porque não tem moeda. E não sou eu que o vou levar para o sítio”!
Eu, depois de olhar para todos os lados a ver se via alguma câmara de televisão a filmar para “os apanhados”,
porque só podia ser! Numa tentativa de acabar com a “ timaka 1”, decidi reforçar o pedido da senhora. – Não me atendeu! E ainda “entre dentes” me insultou.
Uma colaboradora teve intenção de tirar o carrinho, mas talvez para não quebrar a tradição, foi impedida por uma colega.
O segurança saiu do seu posto, falou com ele e também não levou a melhor. Pediu-nos, a mim e à senhora, – únicos da fila, – para mudarmos de caixa, porque ele já conhecia aquele “tipo de clientes”, e não o ia deixar sair! Só estava à espera da chegada do agente da autoridade, que é usual ali estar, para resolver a situação. – Que entretanto chegou.
Depois de uma rápida conversa a três, com o segurança exaltado e a gesticular; o homem com camisa preta, mesmo a resmungar e injuriar, passou pela humilhação de ser obrigado a arrumar carrinho no sítio donde disse que o não o arrumava.
Alguns dos presentes que até li tinham estado calados disseram-nos que, “mesmo tendo razão, com gente assim é preferível não ligar!”
Perguntei-lhe se conheciam a palavra “solidariedade”!!… E saí.
O homem com camisa preta, que ficou ao pé da caixa a insultar terceiros e com o carrinho a interromper a passagem! Se calhar:
– Está neste momento com a mulher no seu sítio de venda, a dizer que há pessoas que só vêm ao mundo para arranjar “milandos 2”. Ele não! Porque os seus pais sempre lhe ensinaram boas maneiras e ele cumpre religiosamente esses ensinamentos.
– Está neste momento num autocarro ou no metro, lotados, a dizer que no tempo da “outra senhora” havia civismo. E os mais novos cediam sempre os lugares aos mais velhos, porque a velhice era “um posto”!
– Está neste momento num café a dizer aos amigos que, nos outros países é que é! Que em Portugal não há civismo. Já ninguém respeita ninguém! E com gente assim o país não avança.
– Está neste momento, ou pelo menos deveria estar, numa “escola de boas maneiras” a aprender a comportar-se em sociedade.
(1) e (2) – Chatices, aborrecimentos, zangas, maçadas, problemas…e outros (em dialeto do sul de Moçambique).
Veja o vídeo seguinte “Comportamento social”
PS – Após os tristes acontecimentos de Inglaterra e Manila, este com 36 mortos. Peço-vos para lerem no meu blog “Xilunguíne” o post/artigo sobre o ataque à equipa do Dortmund, publicado aqui no Bigslam no dia 13 de abril de 2017. Clicar AQUI!
Para nós, com o bigslam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa – junho de 2017
Um Comentário
ABM
Pois. Tenta com que os problemas dos outros, especialmente os que não interessam, não sejam os teus, até serem.