Academia Mário Coluna: Do sonho ao pesadelo…
Quando em 2002, foi inaugurada na Vila da Namaacha a Academia Mário Coluna, ficou-se com a ideia de que a importante infraestrutura desportiva, iria definir um novo modelo capaz de impulsionar a formação de jovens futebolistas moçambicanos, e esperando os seus responsáveis contribuir para o desenvolvimento da modalidade tão a gosto das suas gentes. Jamais poderemos esquecer e com mais ênfase a partir da década 50 do século passado, a partida de jovens atletas com grande talento que se foi mantendo até ao período da sua independência, e que na Metrópole deram um determinante contributo e diria decisivo para a expansão do futebol português.
Deste modo, foi até relevante batizar a Academia com o nome de Mário Coluna, que regressara nesse período a Moçambique, pretendendo com a sua reconhecida valia e experiência ser a força motriz capaz de galvanizar o futebol por aquelas paragens, tornando-se treinador e campeão pelo Textáfrica,
Época 1976 – Seniores do Textáfrica
1º Campeão Nacional República Moçambique
Em cima: Joaquim, Gabriel, Brenque, Ângelo II, Mocuba, Nazaré, Nota, A. Jorge, Baptista, Zé Luis, Mário Coluna (Treinador) e Matapa.
Em baixo: Norberto, Janeiro, Sebastião, Mussa, Ângelo, Djão, Zé Pedro e Tereso.
orientando depois o Clube Ferroviário de Moçambique, nomeado selecionador nacional e ocupando posteriormente o cargo de Presidente da FMF. Argumentos de peso para ostentar o nome de Mário Coluna, que se tornou um dos expoentes máximos do futebol português, que ainda jovem deixou a cidade de Lourenço Marques e o seu Desportivo, para ingressar no Sport Lisboa e Benfica, tornando-se o motor de propulsão para as grandes conquistas nacionais e europeias do SLB.
Teve ainda o privilégio de capitanear a seleção lusa na grande campanha do Mundial de 1966, decisivo para a conquista do brilhante 3º lugar, onde teve a companhia dos seus conterrâneos Eusébio, Vicente e Hilário.
Pela forma, como Mário Coluna foi bem-sucedido no futebol e uma referência incontestável justificava-se que fosse ele o patrono da Academia, e obra nasceu com o apoio incondicional de Joseph Blatter, presidente da FIFA á época. No âmbito do projeto Golo foi concedido por aquela instância desportiva um apoio financeiro de 1 milhão de dólares para o investimento, marcando ele próprio presença na inauguração.
De recordar que o espaço pertenceu outrora ao Clube da Namaacha, passando ainda pela pertença do Matchedje e também do Estrela Vermelha. Porém bem cedo começaram os problemas e ao que se conseguiu apurar a função de formar jovens talentos, foi-se adulterando e passou doravante a ser um espaço destinado ao estágio de várias equipas militantes no Moçambola, e a outras atividades que nada tinham a ver com o fenómeno desportivo. A evolução dos petizes nos 3 campos relvados, foi sol de pouca dura e gorando-se assim a desejada escalada até aos escalões seniores.
Entretanto surgiu pelo meio um caricato imbróglio, de um acordo rubricado entre o Clube da Namaacha e a FMF, que previa que o organismo máximo do futebol moçambicano ao fim de 10 anos, devolvesse as instalações ao emblema local. Com o fim do reinado de Mário Coluna, mentor do projeto Golo e a ascensão de Feizal Sidat à presidência da FMF, estalou a rutura. Feizal Sidat, não foi apologista de o clube estar dentro e Mário Coluna já agastado com a situação, mandou retirar o nome também inscrito na zona dos balneários.
Dizem-me alguns amigos a residirem em Maputo, corroborados pelas notícias vinculadas na imprensa moçambicana, que a Academia vive hoje uma situação caótica. A Academia estava dotada com um recinto relvado, adequado ao microclima da vila, com medidas regulamentares onde se disputavam jogos oficiais, e mais dois campos de treino também com relva natural, torres de iluminação, balneários, salão de conferências, e bancadas com capacidade para três mil assistentes sentados.
Possuía ainda um recinto para a prática de basquetebol, 2 piscinas, “courts” de ténis e um parque infantil. A área social, estava equipada com salas de refeições, centro médico, secretaria e salas de apoio.
Os últimos anos tornaram-se penosos, caraterizados por divergências diretivas e total falta de organização, que ditaram a degradação total dos equipamentos da Academia, em que a relva antes vistosa desse agora lugar a campos secos, balizas a tombarem, piscinas sem água que são transformando em depósitos de lixo, balneários sem asseio, tubagens danificadas a verterem água, sanitas e torneiras danificadas. É do domínio público que grande parte dos compartimentos, albergam à noite os muitos sem abrigo da Namaacha, juntando-se marginais e há indícios que pela calada da noite para o local se movimentam prostitutas.
No meio de tudo isto, aquele espaço que se destinava a criar estrelas perdeu todo o seu esplendor, entrando em apagão completo sublinhado pelo retirar da fachada do empreendimento o nome da Academia Mário Esteves Coluna, a grande figura do futebol mundial que a FIFA procurou muito justamente homenagear. Perante estas atitudes de gente que deveria ser responsável, justifica-se perguntar:
– Senhor Presidente da Federação Moçambicana, então como vai o senhor ajudar a contribuir para a formação de jovens futebolistas, educando-os e concedendo-lhes todas as condições, ajudando-os inclusive a suprimirem as suas necessidades? Se tem memória, o futebol em Moçambique, tem que honrar os grandes nomes do passado que deixaram um legado inigualável no futebol dos dois povos irmãos, e por favor não desrespeitem a figura mítica do Senhor Coluna.
Manuel Terra – Dezembro de 2022
6 Comentários
Maria Bettencourt
Tenho visto vilas que conheci quase despovoadas de interesse. Hoje tem resorts de luxo. Cidades como LM com zonas de franco desenvolvimento, pontes, estradas, etc. Agora ao ler este artigo fiquei desiludida com certas atitudes tipicas de alguns mocambicanos e portugueses. Recebem apoio externo e em troca teriam que erguer todo um conjunto de estruturas e fazer funcionar visto que para mocambicano até não é dificil jogar a bola. O que acontece e que em certas areas há pessoas com poder e influencia capazes de travar qualquerprojeto. Lamento que Mocambique não tenha uma equipa de futebol e que o Mário Coluna tenha sido obrigado a desistir.
Bartolomeu Sousa
Não admira ninguem que conheça Africa esta situaçào, pois em toda Africa ñao se fàz obras de manutenção nem restauração é andar até acabar!!
António José Correia de Almeida
Será assim que Moçambique será um País prospero e desenvolvido???Tenho dúvidas.Pode ser que as novas gerações tenham orgulho no País que têm.Realmente é muito triste.
Vitor Teixeira
Nem com toda a papinha feita e dinheiro exterior conseguem manter o mais simples projecto. Simplesmente miserável.
Luiz Branco
O que é para estranhar???????
José Miguel Rodrigues
Tristeza…
Sem palavras.