FACIM- Evento que tornou Lourenço Marques cidade com Feira
A primeira edição da FACIM, Feira Agropecuária do Comércio e Indústria de Moçambique, constituiu a realização de um sonho concebido por um grupo de empresários moçambicanos ligados a várias atividades, gente dinâmica e com grande visão no mundo dos negócios, que após várias reuniões avançaram com um projeto ousado, capaz de mostrar além- fronteiras todas as potencialidades de Moçambique. em todas as vertentes. O impacto deste grande evento fez-se sentir na capital moçambicana, envolvendo a organização, expositores e visitantes.
As instalações da FACIM, achavam-se na Av. Freire de Andrade (hoje Av. 10 de Novembro) com belas vistas para o estuário da Baía do Espírito Santo.
Com as obras a decorrem em grande ritmo, no distante dia 24 de Julho de 1965, dia da cidade de Lourenço Marques, era inaugurada solenemente a Iª Edição da FACIM, que contou com vários pavilhões de muitos expositores, alguns do Norte e Centro de Moçambique. As vizinhas Rodésia e África do Sul, também marcaram presença no certame.
Estava ganha a primeira aposta, para gáudio da organização que deu o mote para todas as outras que se seguiram. A cada edição o entusiasmo redobrava, e mais expositores surgiam à espreita de oportunidades de negócios. Neste contexto, recordo que no meu bairro nos organizávamos em grupo e depois do jantar, quase em romaria tomávamos a direção até às instalações da FACIM. Por norma, o evento decorria entre a última semana de agosto e os primeiros dias de setembro. Os olhares curiosos recaiam sobre os pavilhões que íamos visitando, e tudo o que era inovador. As noites tornavam-se descontraídas e contagiantes, abrilhantadas pela atuação de ranhos folclóricos, músicas africanas e artistas em voga.
As áreas destinadas à restauração, registavam um constante rodopio. Estavam sempre bem preenchidas, com a gastronomia moçambicana a merecer os melhores elogios dos staffs dos pavilhões estrangeiros.
Á memória acorre-me os populares standes dos concursos de pintura destinados aos jovens, patrocinados pelas Tintas Robbialac e o salão para a realização dos concursos de redação apoiados pela Parker, muito concorridos. Aos visitantes mais adultos, a Sociedade Ultramarina de Tabacos, ofertava pequenas carteiras contendo cinco cigarros da sua vasta gama. Os pequenotes percorriam todos os pavilhões à procura de autocolantes comerciais, que colecionavam lá em casa.
A FACIM, tornava-se cada vez mais atraente permitindo a promoção, informação, pesquisa de mercado competitivos e, alguns casos de comercialização. De tal forma que a edição de 1971, foi a cereja no topo do bolo, ostentando o certame o título de membro da União de Feiras Internacionais e Nacionais e consagrando à bela Lourenço Marques, o título da primeira cidade com Feira, a sul do Saará, depois de preencher todos os requisitos exigíveis a um evento de nomeada. Para isso muito contribuiu a entrada de mercados exigentes como a Alemanha, Inglaterra, Itália, França, Espanha, Áustria, Estados Unidos e o emergente mercado Japonês no apogeu do seu potencial sector automóvel. Também empresas metropolitanas se fizeram representar, assim como o Instituto do Café de Angola, que emanava do interior do seu pavilhão o cheiro inconfundível de café de renome, que se espalhava por todo o ambiente.
A Feira acolhia o tradicional Concurso Pecuário de Gado Bovino, uma das grandes atrações onde os muitos produtores se apresentavam com excelentes exemplares de raça nativa, e algumas espécies importadas da Argentina e da Holanda. Havia também salões reservados a colóquios, subordinados a vários temas.
Em 2011, a FACIM, foi deslocada para a localidade de Ricatla, distrito de Marracuene, alteração que gerou forte controversa, considerando que os expositores tinham que percorrer cerca de 30 Quilómetros, regulados por intenso tráfego e consequentes engarrafamentos que caracterizavam a circulação automóvel na EN 1, provocando inevitáveis atrasos às delegações presentes.
Visando criar uma solução alternativa, o governo moçambicano mandou construir a Estrada Circular de Maputo, que ligava a cidade a Marracuene a partir do ex.- Bairro Triunfo (Costa do Sol) totalizando cerca de 20 quilómetros de via rápida., que em boa verdade acabou por assegurar a continuidade dos certames, que têm tido um peso considerável nas relações comerciais de Moçambique, com outros países incluindo Portugal, sempre muito assíduo nas participações.
Para trás ficaram as antigas instalações da FACIM, que foram alvo de demolição supostamente cedendo os responsáveis por tal decisão a interesses do ramo imobiliário, que passaria pela elaboração de um luxuoso projeto urbanístico de 83 mil metros quadros, a comportar hotéis e modernos escritórios. Por debaixo dos escombros de toneladas de cimento, outros materiais e entulho jazem lembranças de muitos encontros e momentos felizes que nos transmite uma “aura” de nostalgia e memória de um espaço desaparecido, que ainda hoje guardo em mim.
- Algumas fotos foram retiradas com a devida vénia do blog The Delagoa Bay World
Manuel Terra – Setembro de 2021
4 Comentários
iglesias
estive na sua abertura na representação da Radio Scala/ toshiba/Pioneer, perdurando enquanto trabalhei nesta grande firma do sr Gonçalves e filhos, que mais tarde em Portugal relançaram uma grande marca, que á data era mal representada e quase desconhecida em portugal, a PIONEER, uma bela feira e belos tempos.
Celso
É um interessante olhar retrospectivo…
António Mendes
Certame importante, sem dúvida. Belas recordações… parabéns pela iniciativa que nos transporta para tempos longínquos mas depois muito presentes.
Luiz Branco
Tudo passa…tudo mesmo