O cão não larga o osso! – “Da Planície e da Savana” de Pierre Vilbró

O cão não larga o osso!

Todos sabemos, da vida, que o cão após comer a carne, começa a roer o osso e que de modo nenhum permite perdê-lo. E ai de quem o tentar tirar: primeiro, ele rosna, várias vezes se fôr preciso, a avisar que o não consentirá; depois, perante a percepção do perigo iminente, utiliza o último recurso, a mordidela. Mas não mata, excepcção para os cães de raça perigosa, como o Pit Bull Terrier, o Rottweiller, etc.

Analogia se poderá estabelecer entre o comportamento canino perante o osso e o da Frelimo perante o poder. A Frelimo de modo nenhum aceita perdê-lo, utilizando todos os meios para o evitar, nomeadamente ilegais e criminosos. Assim tem sido desde sempre, e tal se está a verificar no presente, perante a perda real das últimas eleições gerais (9 de Outubro de 2024).

Recorre à falsificação do acto eleitoral e dos seus resultados, amedronta através de meios repressivos, silencia os adversários directos e os que ousam protestar e denunciar, recorrendo ao assassinato, e, finalmente, manipulando o aparelho do Estado que domina completamente (a Frelimo é o Estado).

Corroborando/suportando a análise que faço ao comportamento da Frelimo, passo a reproduzir excertos do que dizem (sob a forma escrita ou vídeo) alguns moçambicanos.

O actual maior opositor ao poder frelimista, Venâncio Mondlane, vencedor para o cargo de Presidente da República nas últimas eleições, escapou no dia 7 de Dezembro, a uma tentativa de assassinato em Johannesburg, onde se encontrava hospedado com a família no Hotel Santo. Este acto criminoso foi perpetrado por um Grupo de Operações Especiais a mando dos Serviços Secretos de Moçambique, em ligação com seus congéneres sul-africanos.

Por outro lado, o Presidente Filipe Nyusi determinara aos Esquadrões da Morte, que são autores de vários raptos e assassinatos, a procura e captura ou assassinato de Venâncio Mondlane, havendo mesmo uma recompensa monetária elevada para quem denuncie o seu paradeiro. Segundo as mesmas fontes, aquele Esquadrão é chefiado pelo comandante da Polícia, integra seis polícias, e o seu modus operandi passa pela coordenação das restantes forças policiais de modo a não estarem presentes nos locais dos raptos ou assassinatos. Não pode haver testemunhas, garantindo-se o anonimato dos executantes e dos mandantes.

Um outro vídeo que recebi também por reencaminhamento de um amigo, denuncia que a esta operação de eliminação física de Venâncio Mondlane, é associado o Procurador Geral da República, Américo Letela, que no passado recente estava conotado com actividades ilícitas ligadas ao branqueamento de capitais, de estupefacientes e terrorismo, e dá cobertura ao negócio da droga da família Nyusi. Vejam o vídeo, clicando no seguinte link:

Mais um crime, uma artimanha jurídico-constitucional, que passo a descrever. A CNE (Comissão Nacional de Eleições) deu como vencedores das eleições gerais de Outubro último, a Frelimo e o seu candidato para a Presidência da República, Daniel Chapo (11,61%), em total violação dos reais resultados expressos nas urnas, que davam a vitória ao partido Podemos e ao seu candidato, Venâncio Mondlane (75,81%). Até hoje a CNE não publicou as actas das mesas de voto e o CC (Conselho Constitucional) não homologou os resultados. Vejamos porquê.

Principalmente os concorrentes Podemos e Venâncio Mondlane protestaram oficialmente a decisão fraudulenta da CNE, apresentando cópia das actas, cópia que previamente tiveram o cuidado de guardar, avisados pelas fraudes das anteriores eleições. A existência destas cópias inviabilizam a apresentação de actas falsificadas que beneficiariam a Frelimo e o seu candidato. Não existisse o protesto e as provas, e tudo decorreria como sempre tem sido: a CNE apresentaria os resultados convenientes e o CC homologá-los-ia. Agora surge a artimanha, o crime jurídico-constitucional, de que fala um dos vídeos.

A CNE invoca que as actas foram roubadas, e o CC alegará que só pode trabalhar sobre originais, não servindo as cópias, pelo que deverá haver novas eleições. Até lá, a Frelimo continuará na governação do País e a Presidência da República continuará a ser ocupada pelo actual Presidente que depois invocará incapacidade por doença, vindo a ser substituído pelo concorrente da Frelimo, Daniel Chapo. Com esta artimanha, os reais vencedores das eleições ficarão a “ver navios” e a Frelimo não largará o “osso”. Pessoalmente, tenho algumas reservas que as próximas decisões venham a ser totalmente como descrito, mas não há como aguardar para ver. Dia 23 próximo é a data para o CC anunciar a sua decisão.

O tipo desta decisão poderá motivar a revolta incontrolável do povo, com consequências terríveis. Precavendo-se e para ajuda à respectiva repressão, o Governo solicitou o reforço das forças da “ordem”, com militares ruandenses.

Entretanto, o Governo da Frelimo decretara já o arresto das contas bancárias de Venâncio Mondlane e acusou-o dos crimes de incitamento à violência e desordem públicas. Assim, priva-o dos meios de subsistência e de movimentação, com o risco de prisão, julgamento e condenação. Imaginem só o tipo de julgamento e de condenação.

Tendo como suporte a muita informação que circula nas redes sociais e não só, e no reencaminhamento entre familiares, amigos e colegas, muito mais eu poderia acrescentar, mas o que deixo exposto é suficiente para que se fique com uma ideia do momento muito grave que Moçambique atravessa, e do muito que a Frelimo tem estado a fazer para não perder o poder.

Pierre Vilbró, Dezembro 2024

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