Belmiro Simango, o Sr. Manápula
Marcar Victor Cizonenko, um ucraniano de 2.34 metros, terá sido um dos momentos mais marcantes da longa carreira de Belmiro Simango, um basquetebolista que conseguiu, de forma marcante, transmitir o gosto e a mística da bola-ao-cesto sobretudo após a proclamação da Independência Nacional.
Chamavam-lhe o “Sr. Manápula”, o que podia ser lido em dois sentidos: por ter uma mão enorme, mas também devido ao facto de ser um “muana-ua-Nampula.
A jogar a poste ou a extremo, a sua enorme mão ditava as leis. Foram muitas as noites em que Belmiro Simango deu alegrias aos moçambicanos, devido às vezes em que envergou a camisola da Selecção nacional. O seu “bio-tipo” era invulgar: uma curvatura para a frente, de alguma forma escondia a sua real altura. Tinha porém capacidade para esconder a bola numa só mão, para depois a direccionar para onde entendesse. As armas principais – sem quaisquer dúvidas – eram a sua impulsão, aliada ao tempo de salto. Debaixo das tabelas, esperava o momento certo para “voar” e apoderar-se da bola. Depois, vinha a opção: umas vezes iniciava de imediato e em grande velocidade o contra-golpe – acompanhado pelo seu vozeirão de incitamento – e noutras guardava a “redondinha” para iniciar jogadas mais pausadas.
Simango, sem ser um superdotado, acabou transformando-se numa estrela de primeira grandeza, graças ao empenho e dedicação, numa modalidade exigente e que, até uma certa época era muito elitista. Não admirou que com as suas qualidades de liderança em campo, se tenha tornado um treinador motivado, transmitindo aos mais novos, toda a experiência ganha em mais de 20 anos de carreira.
De “frangueiro” a campeão de África
A sua estória desportiva começa como guarda-redes do Indo-Português, por alturas de 1968 e o apogeu é alcançado em 1986, já como basquetebolista ao serviço do Maxaquene quando, na qualidade de campeão de África, tomou parte no Mundial de clubes, em Barcelona.
Enquanto guarda-redes de futebol, amedrontava os avançados contrários devido ao seu poder de salto e às suas mãos enormes, que lhe permitiam sair com sucesso a soco, nas bolas altas. Mas “frangava” nas bolas rasteiras.
Recebeu do velho sportinguista Moura – sócio da empresa Moura, Correia e Aragão – um convite para se iniciar no basquetebol e não mais parou. Treinava muito. De outra forma, também não seria possível sonhar, aos 18 anos, em jogar num Sporting de Lourenço Marques então recheado de estrelas como Mário Albuquerque, Nelson Serra, Sérgio Carvalho, Molinha e outros. Jogava nas reservas, mas sempre espreitando a equipa principal, para onde ascendeu no Campeonato Ultramarino em 1972.
Época 1971/72 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique • Vice-Campeão Nacional
Em cima: Luis Pina (treinador), João Romão, Mário Albuquerque, John Hucks, Luis Almeida, Belmiro Simango, Victor Morgado e Rui Pinheiro.
Em baixo: Nelson Serra, João Morais, Sérgio Carvalho, Rogério Machado e José Rosal.
Em 1975, já com estatuto de estrela, o Maxaquene iniciou um projecto baseado na juventude, formando aquele foi um dos maiores esquadrões basquetebolísticos de todos os tempos no clube com uma nova designação. Brotaram atletas como Aníbal Manave, Hélder Nhandamo, Madoda, irmãos Moiane, Claudino Dias e João Chirindza, tendo chegado ao título de campeões de África, com direito a representar o Continente no Mundial de Barcelona, facto até hoje inédito para o país.
Seleção de Moçambique – Anos 80
Renato Caldeira – Março de 2021
2 Comentários
Manuel Martins Terra
Um basquetebolista de grande valor que entrou timidamente na grande equipa do SCLM, mas que rapidamente se foi desinibindo e que ganhava ressaltos nas tabelas como poucos. Tinha um grande poder de impulsão e acrescentou mais valia à sua equipa. A sua experiencia foi fundamental para levar o CD do Maxaquene, ao Mundial de Clubes em Barcelona. Parabéns, ao Belmiro Simango , pela sua brilhante carreira.
Rogerio Machado
“Papa das pernas altas”… não foi fácil, mas se tornou num ótimo… excelente jogador. Fomos colegas desde os juniores, ao time principal. No ano de nossa subida, foi o “desabrochar” do jogador agora exaltado. E fomos nesse ano, campeões distritais de juniores, vice províncionais, campeões distritais reservas, provincionais seniores e finalmente campeões nacionais seniores. Abraço do outro lado do mundo pra meu amigo Simango.