Quelimane: Hospitalidade fez 80 anos!
Escrever sobre Quelimane é, ao mesmo tempo, um sonho e um prazer, pois estando no meu dia-a-dia longe da vista, aquela cidade vive “dentrinho” do meu coração! Uma vez chegado a Nicoadala, após uma exaustiva viagem pela “Éne um” (N1) de quase três dias de autocarro a partir de Maputo, numa sucessão de contornos às curvas e contra-curvas, tendo como móbil o “saudoso crime” de (re)visitar, na apetecível celebração dos 80 anos, a terra em que nasci, foi difícil reter uma teimosa lágrima no canto do olho.
Que sensação/satisfação, entrar numa zona tão hospitaleira, sentindo o “frenesim” das bicicletas, numa terra em que nem a precaridade das condições de vida dos cidadãos, impede a tradicional hospitalidade do manamuchuabo!
Para quem saiu da terra do coco e da galinha assada há 60 anos, visitando-a sempre que possível, a primeira tentação é a de saborear a água de lanho.
A alegria é tão grande, que as dores nas costas da tumultuosa viagem e a necessidade de comentar as peripécias dos buracos, ficam para trás.
FESTA DOS 80 ANOS!
PAUSA À PAZ… MACEIRA!
A felicidade foi sentir que o respeito zambeziano continua intacto. Em data festiva, Quelimane que habitualmente dorme cedo, deu uma pausa a esse hábito e saiu à rua até altas horas.
Centenas, talvez milhares de visitantes, marcaram presença física ou virtual. Gente de vários quadrantes, aproveitando as tréguas do Covid, trocou abraços e beijinhos, lembranças e recordações. Diplomatas das grandes urbes, não se cansaram de referir que Quelimane é incomparável, porque… diferente.
Apesar das dificuldades que o país atravessa, houve retoques na urbe. Graças a quê e a quem? A opinião é unânime: ao desempenho do Município, cujo líder no saber ser e estar, tem nome: Manuel de Araújo um quelimanense que estando “lá em cima” na hierarquia, permanece, de alma e coração, com os que mais sofrem!
Na festa, houve de tudo um pouco. Carnaval de rua, feira do livro, cerimónias no Município, inauguração da nova catedral, patinagem, jogos de futebol, lançamento de livros, convívios por todo o lado e… muito mais.
Quem lá não conseguiu estar, não sabe o que perdeu.
Eu estive. E conversei com amigos, rebusquei memórias nos Restaurantes Nagardás, no Palheiro e noutros locais de passagem obrigatória para quem quer conviver com as referências zambezianas. Cito algumas: Chilo, Omargy, Roldão, Palha, Isac Ragú, Gito Fernandes, Fátima Capé… Porém, a presença dos que vivem longe, mas têm a Zambézia no coração, representou a cereja em cima do bolo. Alguns nomes: Humberto Nazaré, agora com 82 anos, um dos melhores guarda-redes da Zambézia e de Moçambique de todos os tempos e sua esposa Guida; Edma Santana Afonso e esposo; Ildo Magno, Leitão Marques, Hipólito Patrício, Buda, Júlio Dinis, Morais, Tó Barros e muitos outros, são alguns dos zambezianos que ajudaram a dar brilho à festa!
Felizmente para mim, não me faltou tempo para as primas Fernanda e Carmita Caldeira, que lideraram a parte do convívio familiar, com os saborosos menus da comida zambeziana. Foram emoções a rodos, tendo como “porta-bandeira”, em todas as horas, o amigão Kiko Trindade.
Nunca uma semana para mim tinha passado tão rapidamente, de tal forma que me atrevo a fazer uma confidência: a certa altura, fiquei com a inveja de não possuir um estômago idêntico ao do camelo, que me permitisse degustar em série tão apetitosas refeições para posteriormente as digerir! Afinal, aquela galinha zambeziana “à cafreal”, com mucuane e mucapata, rodeada de gentileza e boa disposição, não se “saboreia” todos os dias.
Quelimane fez a bela festa dos 80 anos, deixando como exemplo a restauração da velha catedral, à qual deitaram mãos amigos daquela terra, sem olharem a raças nem a religiões.
Renato Caldeira
2 Comentários
Manuel Martins Terra
Uma excelente citação do Renato Caldeira, que transporta consigo a linda cidade de Quelimane, acolhedora como sempre e orgulhosa dos seus 80 anos tão cheia de história. Houve festa rija, onde não faltou animação e a deliciosa gastronomia zambeziana. Lugar também para a reinauguração da bela catedral da cidade, que contou com o exemplar apoio do seu povo, independentemente de não olharem a raças ou credos religiosos. Tal como o rio, Quelimane continua a presentear-nos com Bons Sinais.
carlos m.d.silva silva
e eu tive uma irmão e o meu cunhado futebolista do Alto Maé,que viveram uns anos em Nicoadala .Sempre que vinham a L.M traziam uns belos e saborosos e grandiosos abacaxis que jamais esquecerei .Boa terra,boa gente.