Elarne da Silva Tajú, nasceu a 05 de Dezembro de 1949, em Lourenço Marques – Moçambique.
Iniciou a prática desportiva em 1966, como juvenil, no arranque do atletismo jovem do Ferroviário LM, sobe a orientação do Professor António Vilela, tendo-se destacado nas provas de velocidade, nos lançamentos e também nas provas de estafetas.
Representou sempre o Clube Ferroviário de Moçambique no atletismo, praticou ginástica aplicada e foi uma das bailarinas da Associação Africana. Destacou-se sobretudo na Dança da Marrabenta com o seu marido Alfredo Caliano da Silva.
No Atletismo destaque para a sua participação em vários Torneios de Divulgação do Atletismo pelas Províncias tais como no 1º Grande Prémio de Gaza e depois no de Inhambane representando o Ferroviário.
Também competiu pelo clube nas diversas Taças que se foram realizando especialmente como corredora de velocidade, lançadora e estafetas, tendo com as suas colegas batido o Recorde de Portugal dos 4×80 metros na categoria de Juniores.
Mais tarde em 1968, Elarne Tajú fazendo parte da equipa do Ferroviário na estafeta de 4×100 metros bateu por diversas vezes o Recorde Provincial, fixando-o em 55,8 seg. marca excelente para a época.
Competiu em provas oficiais desde Dezembro de 1966, estando presente nos campeonatos regionais de Juniores e Seniores até final de 1969.
A Marrabenta
Dança e género musical do sul de Moçambique, em particular de Lourenço Marques e depois da Independência em Maputo, que surgiu no início da segunda metade do século XX, na época colonial. Conhecida internacionalmente, a marrabenta teve origem nos meios urbanos. A palavra marrabenta vem do verbo “rebentar” (“arrebentar”, em vernáculo local), numa provável referência às guitarras baratas cujas cordas rebentavam com facilidade. As letras das canções, frequentemente em dialetos locais, cantavam o amor, a vida quotidiana, a história de Moçambique e faziam também críticas sociais inerentes ao desejo de liberdade do povo moçambicano.
Este género de dança e música surgiu de uma fusão da música europeia com os ritmos tradicionais de Moçambique. Normalmente, era tocada por um cantor masculino, acompanhado por um coro de mulheres, e tocada com instrumentos feitos de materiais improvisados, como latas de óleo, fios de pesca e pedaços de madeira.
Nas noites de festas, sobretudo dos bairros de Mafalala e Chamanculo, as culturas, dialogando entre si, começaram a mesclar compassos e miscigenar batuques.
O lado positivo do Bairro da Mafalala ficou mais saliente. Os becos, as ruas, as casas de madeira e zinco enferrujado viraram atracão turística. Os visitantes queriam conhecer os locais onde viveram as figuras que nasceram e/ou habitaram o bairro, como o lendário futebolista Eusébio, os poetas José Craveirinha e Noémia de Sousa, o antigo ministro, Pascoal Mucumbe, Samora Machel e Joaquim Chissano.
Nos anos 70, a marrabenta conheceu uma enorme projeção quando a Produções 1001 começou a realizar as primeiras gravações e a organizar vários concertos. A sua difusão internacional deve-se à Orchestra Marrabenta Star, liderada por Wazimbo.
Com o passar do tempo, a marrabenta tornou-se um símbolo cultural nacional e uma referência da identidade moçambicana.
A Dança
As mãos pendulavam de lado em lado, ora tocando os ombros, os joelhos ou a cabeça. Movimentos acentuados da cintura, pés criando um círculo imaginário no solo, jogo sensual de pernas e um requebrado pélvico terminavam de dar cara à dança, acompanhada pelo som dos materiais improvisados da festa.
Elarne Tajú e a Marrabenta
Elarne da Silva, Madalena Tajú e Alfredo Caliano, foram todos integrantes de um dos grupos de dança mais famosos da Marrabenta, o Conjunto João Domingos. São eles alguns dos responsáveis por dar forma ao ritmo, levando o estilo dos quintais para dentro dos salões. Elarne explica que em sua época a dança, sempre realizada com os pés descalçados, era aos pares e os movimentos seguiam os mesmos tanto para os homens quanto para as mulheres, que bailavam vestindo capulanas curtas, tops e lenços na cabeça. Sua irmã Madalena Tajú que também praticou atletismo, conta ainda que o nome marrabenta veio da junção da prefixação ‘ma’ com ‘rebentar’, palavra do vernáculo local para o movimento requebrado da dança, que desmontava o corpo em vários. “Dançava-se até se arrebentar”, conta rindo a ex-bailarina.
Capulana é um tecido característico de Moçambique, multiusos, caracterizado pela riqueza das suas cores e motivos. Faz parte integrante da cultura da mulher moçambicana, que a arte transforma em peças únicas, para cingir o corpo, fazendo as vezes de saia, podendo ainda cobrir o tronco e a cabeça. Utilizada largamente em todo o país, é vendida por vendedores ambulantes, embora haja lojas especializadas na venda destes panos. A riqueza de cores e motivos constitui uma característica da riqueza cultural do país. Muito utilizadas pelas bailarinas que vestiam capulanas curtas como saias, vestidos ou lenços na cabeça quando dançavam Marrabenta em Moçambique.
Resultados da atleta:
1966
10 e 11.12.1966 – Campeonato de Juniores e Seniores
Disco Jun. – 2º lugar – 20,20 m.
80 m – 1º lugar – 12,3 seg.
150 m – 1º lugar – 22,3 seg.
1967
20.01.1967 – Torneio de Captação do Ferroviário
60 m Juniores:
1º Elsa Penetra – 10,1 seg.
2º Elarne Tajú – 10,9 seg.
3º Cecília Larsen – 11,1 seg.
Disco Juniores:
1º Angélica Gomes – 23,46 m.
2º Elarne Tajú – 19,44 m.
11 e 12.02.1967 – Torneio de Abertura
Disco Jun. – 2º lugar – 19,44 m.
80 m Jun. – 2º lugar – 10,9 seg.
15 e 16.04.1967 – Taça António Araújo
Disco Jun. – 4º lugar – 21,10 m.
Peso Jun. – 2º lugar – 6,90 m.
05 e 06.08.1967 – Campeonatos Provinciais
80 m Jun. – 3º lugar – 11,8 seg.
150 m Jun. – 2º lugar – 22,6 seg.
Disco Jun. – 2º lugar – 26,46 m.
14 e 15.10.1967 – Torneio de Juniores Femininos
Disco – 4º lugar – 18,66 m.
150 m – 3º lugar – 22,9 seg.
4×80 m (CFM) – 1º lugar – 43,3 seg. – (Cecília Larsen, Elarne Tajú, Eugénia Caeiro e Arcângela Madeira) – Recorde Nacional.
1968
27 e 28.04.1968 – Torneio de Abertura
80 m Jun. – 2º lugar – 11,6 seg.
04,05,11 e 12.05.1968 – Taça Casa Lido
150 m Jun. – 1ª série – 1º lugar – 22,1 seg.
Disco Jun. – 2º lugar – 21,30 m.
Comprimento Jun. – 2º lugar – 4,16 m.
20 e 21.07.1968 – Pentatlo Técnico e Triatlo de Juniores
Triatlo Juniores:
80 m – 2º lugar – 11,7 seg. (413)
Altura – 6º lugar – 1,15 m. (300)
Peso – 2º lugar – 7,52 m. (208)
Classificação: 3º lugar – 921 pontos
100 m – 2ª Série – 4º lugar – 14,4 seg.
28.07 e 03.08.1968 – Campeonatos Regionais de Juniores
80 m – 2º lugar – 11,6 seg.
15.08.1968 – 1º Grande Prémio de Gaza
150 m Juniores:
1º Lucrécia Cumba (IND) – 21,1 seg.
2º Elarne Tajú (CFM) – 21,3 seg.
3º Angélica Gomes (CFM) – 22,6 seg.
Peso:
1º Rahema Colmobo (SCLM) – 10,24 m. – Recorde Provincial.
2º Angélica Gomes (CFM) – 8,36 m.
3º Elarne Tajú (CFM) – 8,04 m.
17 e 18.08.1968 – 1º Grande Prémio de Inhambane
80 m Juniores:
1º Lucrécia Cumba (IND) – 11,0 seg.
2º Elarne Tajú (CFM) – 11,2 seg.
3º Angélica Gomes (CFM) – 11,4 seg.
4º Arminda Banze (SCLM) – 11,9 seg.
5º Ofélia Cuna (SCLM) – 12,1 seg.
Disco Juniores:
1º Angélica Gomes (CFM) – 32,70 m.
2º Rahema Colombo (SCLM) – 22,36 m.
3º Ofélia Cuna (SCLM) – 21,72 m.
4º Elarne Tajú (CFM) – 21,00 m.
5º Arminda Xavier (CFM) – 18,74 m.
31.08 e 01.09.1968 – Campeonatos Regionais de Seniores
100 m – 1º lugar – 14,1 seg.
200 m – 1º lugar – 29,6 seg.
4×100 m (CFM) – 1º lugar – 57,3 seg. – (Cecília Larsen, Henriqueta Laforte, Judite Magaia e Elarne Tajú) – Recorde Provincial.
21.09.1968 – Dia dos Recordes
4×100 m (CFM) – 1º lugar – 57,1 seg. – (Judite Magaia, Elarne Tajú, Arminda e Cecília Larsen) – Recorde Provincial.
28.09.1968 – Pentatlo e Provas Extras
100 m Extra – 2ª Série – 4º lugar – 14,4 seg.
12 e 13.10.1968 – Campeonatos Provinciais de Atletismo
100 m – 2º lugar – 14,1 seg.
200 m – 1º lugar – 29,1 seg.
4×100 m (CFM) – 1º lugar – 55,8 seg. – (Elarne Tajú, Cecília Larsen, Judite Magaia e Eugénia Caeiro) – Recorde Provincial.
1969
19 e 20.07.1969 – Torneio Regional de Juvenis
100 m – 2º lugar – 14,4 seg.
04,05,11 e 12.10.1969 – Taça Casa Lido
100 m – 1º lugar – 13,9 seg.
Melhores marcas da atleta:
60 m – 10,9 seg.
80 m – 11,2 seg.
70 m Barr. – 14,9 seg.
100 m – 13,9 seg.
150 m – 21,3 seg.
200 m – 29,1 seg.
Comprimento – 4,16 m.
Altura – 1,15 m.
Peso Jun. – 8,04 m.
Disco Jun. – 26,46 m.
Triatlo – 921 pontos.
4×80 m (CFM) – 43,3 seg. – Recorde Nacional.
4×100 m (CFM) – 55,8 seg. – Recorde Provincial.
Victor Pinho – Junho de 2024
4 Comentários
Nino ughetto
So de ver as fotos me veem as làgrimas aos olhos, Serà que existiu mesmo esse sonho ” de gente de todas as cores ,todos juntos sem nenhum vestigio de racismo ??? Eramos uma grande familia e todos amigos uns dos outros ,todos juntos em tudo…Um Pais assim nào existe em nenhuma parte do mundo.. Enfim, tudo passa tudo acaba…Um abraço
Manuel Martins Terra
Parabéns à Elarne , pela forma como dignificou o Atlestismo e foi brilhante na dança da Marrabenta, estabelecendo na perfeição a ponte entre o desporto e a cultura. Obrigado, Vitor Pinho por esra citação.
LUIS BATALAU
OLÁ, CHOANE. NUNCA FUI UM GRANDE FÂ DO ATLETISMO DAÍ NÃO MELEMBRAR DESTA BRIOSA ATLETA. GOSTAVA MAIS DO FUTEBOL , BASQUETE OU HOQUEI. SEMPRE GOSTEI NDA MARRABENTA, MAS JÁ NÃO DANÇO, EMBORA DÊ UM JEITINHO. ABRAÇÃO PARA TODOS. HAMBANINE!
Luis 'Manduca' Russell
Ainda hoje danço a marrabenta, que aprendi com os meus amigos de infância, nos bairros deles, onde me acolheram nas suas palhotas, quando eu precisei. Agora, já com cabelos brancos, os meus mais novos começam por olhar de lado e fazer gestos e caretas, como se eu fosse maluquinho, mas quando explico o que foi a minha infância em Moçambique, percebem que tenho em mim uma outra dimensão, de uma outra vida, que nem toda a gente consegue entender … e acabam por entrar na dança. Elisa uê, Elisa Uá, Elisa uê, gomará saia…