Rogério Marques, nasceu em Moçambique e, tal como os seus irmãos Eurico de Jesus Marques e Fernando Marques, dedicou-se à prática do atletismo neste país.
Vida Desportiva
Iniciou a sua carreira desportiva em novembro de 1966, ao serviço do Clube Ferroviário de Lourenço Marques (CFM), onde passou a competir oficialmente na categoria de Juvenis. Desde cedo mostrou aptidão para as provas de lançamento, participando no lançamento do disco e do dardo.
A sua especialidade foram os lançamentos, com especial destaque para o lançamento do martelo, disciplina onde viria a obter os seus melhores resultados. Ainda na categoria de Juvenis, Rogério Marques destacou-se ao estabelecer um novo recorde no lançamento do dardo.
Em 1968, com apenas 16 anos, foi convocado para integrar os treinos de preparação com vista à participação num torneio internacional no Estádio Salazar. Este estágio decorreu sob a orientação dos técnicos António Matos, do Desportivo, e Orlando Costa, do Ferroviário.

Atletas convocados para provas de preparação com atletas Sul-Africanos. Rogério Marques é o 3º em baixo a partir da direita.
De 29 a 31 de Janeiro de 1971 realizou-se em Lourenço Marques o 2º Curso de Monitores de Atletismo com a inscrição de 27 candidatos e ministrado pelo Técnico Provincial de Atletismo Prof. António Vilela. Ficaram aprovados neste 2º curso: Manuel Lourenço, Abel Milheiro, A. Inácio Campos, Armando Lopes Barrocas, Eduardo Ferreira, Jean Pierre, João Basílio, A. Lourenço, Hélder Melo, Jorge Pité, José Fidalgo, José M. Crespo, Luís Massiuana, Rogério Marques, Sérgio Candeias, Maria Casimiro, Helena Relvas, Manuela Soeiro e Maria da Conceição.
Com o objetivo comum de promover o atletismo não só a nível provincial, mas também nacional e internacional, um grupo de monitores provenientes de Lourenço Marques e de outras províncias, unidos pelo mesmo ideal, juntou-se a diversos técnicos e fundaram a Associação de Técnicos de Atletismo de Moçambique (ATAM). Esta associação viria a desempenhar um papel importante no desenvolvimento e na organização da modalidade no país.

Rogério Marques à direita
Associação de Técnicos de Atletismo de Moçambique
Pela primeira vez na história do Atletismo Nacional surge uma Associação de Técnicos de Atletismo em Moçambique.
Consequência lógica do que ficou publicado no Diploma Legislativo nº 3043, de 19 de Novembro de 1970, que aprovou o “Regulamento Geral das Atividades Gimnodesportivas”. Com efeito a secção VI, do Capítulo VI daquele Diploma, trata das Associações de Agentes de Ensino ou Técnicos Gimnodesportivos com a seguinte redação:
Artº 39 – 1 – Os Agentes de ensino ou técnicos gimnodesportivos, da mesma modalidade ou modalidades afins, podem associar-se para formar associações distritais de Treinadores e associações Provinciais quando houver pelo menos três distritais.
2 – Estas Associações dependem do C.P.E.F. e tem como objetivo o estudo, a interpretação, a atualização e a divulgação da Pedagogia e da Técnica das respetivas modalidades.
3 – Poderão ainda estas associações dar pareceres ou sugestões sobre os regulamentos de provas ás entidades organizadoras.
Assim nasceu esta Associação de Técnicos de Atletismo com vista a ser uma força positiva ao serviço do Atletismo Moçambicano e Nacional, cujo fomento e progresso não encontrará outros caminhos que, os traçados pelo valor dos Técnicos Portugueses embora aqui ou acolá, se necessário, auxiliados pela experiência de outros técnicos estrangeiros.
A ATAM criou um Gabinete de Apoio que teve por finalidade:
- Manter o interesse de todos os associados da ATAM espalhados pelas Províncias, pelo estudo e ensino do Atletismo.
- Servir de “apoio” a esses mesmos associados no que respeita ao fornecimento de elementos de estudo e divulgação da modalidade.
- Elaborar “fichas de apoio” que versarão todos os assuntos de interesse para os Associados.
Este gabinete de apoio funcionou em intima colaboração com a ATAM e o CPEF.
Esta Associação de Técnicos de Atletismo foi sem dúvida uma força positiva ao serviço do Atletismo Moçambicano e Nacional.
A ATAM teve a sua sede no Centro de Medicina Desportiva na Avª Pinheiro Chagas local cedido pelo CPEF.
Posteriormente, Rogério Marques foi convidado a dar formação aos sábados no Parque José Cabral, orientando alunos da escola primária. Nessa função, colocou em prática os seus conhecimentos técnicos, contribuindo para a divulgação e desenvolvimento do atletismo entre os mais jovens.
Com espírito de iniciativa, viria mais tarde a fundar o Núcleo Jacarés de Ressano Garcia, que alcançou destaque ao vencer o Torneio Provincial de Núcleos, reforçando o dinamismo do atletismo na região.
Apesar de se afastar da competição em 1969, Rogério Marques continuou a competir pontualmente, sempre que se sentia motivado e, acima de tudo, para apoiar a equipa do Ferroviário, à qual permaneceu ligado com dedicação.
Relatando um acontecimento – Uma viagem atribulada até à Beira
No dia 30 de dezembro de 1970, Rogério Marques técnico de máquinas e proprietário de um Volkswagen, partiu de Lourenço Marques rumo à cidade da Beira, numa viagem de cerca de 1.200 quilómetros. Acompanhavam-no Armando Barrocas, aluno do Curso de Instrutores de Educação Física, e os estudantes do Instituto Comercial, Luís Clemente e Victor Pinho. O convite partira do Clube Ferroviário da Beira, no âmbito da festa anual de homenagem aos atletas que se haviam distinguido durante o ano.

Armando Barrocas, Rogério Marques, Luís Clemente e Victor Pinho na viagem L. Marques – Beira.
A viagem decorreu inicialmente dentro da normalidade, ainda que marcada por contratempos mecânicos: um dos pneus estava em mau estado e o sobressalente, inutilizado por um furo. Já perto de Chidenguele, os quatro amigos decidiram parar para descansar. Supõe-se que nessa altura tenha passado um veículo que anotou a matrícula do Volkswagen, facto que se revelaria relevante mais tarde.

Rogério Marques e Victor Pinho com a viola

Clemente, Armando Barrocas e Rogério Marques
Ao chegarem a Vila Franca do Save, a cerca de 810 km de Lourenço Marques, e perante a informação sobre o mau estado da estrada até à Beira, optaram por deixar a viatura à guarda da PSP local, juntamente com parte da bagagem, e seguir viagem à boleia num camião de transporte.
Por volta de 100 km mais tarde, ouviram a buzina insistente de um jipe que seguia atrás do camião. O condutor do camião acabou por parar. Do jipe saíram um guarda e dois auxiliares, inicialmente tomados por fiscais de caça que pediram aos jovens para regressarem a Vila Franca do Save, sem fornecerem qualquer explicação.
De volta à localidade, foram levados a prestar declarações a um agente vindo de Inhambane. Só então lhes foi revelado o mal-entendido: tinham sido confundidos com os ocupantes de outro Volkswagen que, em João Belo, estavam envolvidos no roubo de uma viatura. Após os esclarecimentos, receberam um pedido de desculpas e foi-lhes arranjada boleia noutro camião para continuarem até à Beira.
Infelizmente, a aventura teve um desfecho agridoce. Chegaram à Beira apenas no dia 31 de dezembro, demasiado tarde para participarem na tão esperada festa de homenagem. Acabaram por pernoitar na casa do atleta Amândio de Sá, que os acolheu após a longa e atribulada jornada.

Rogério Marques, Armando Barrocas e Victor Pinho na cidade da Beira
No regresso a Lourenço Marques, ao chegarem novamente a Vila Franca do Save para recuperar a viatura, os jovens foram surpreendidos por um novo contratempo: os mantimentos deixados no automóvel, bolachas, conservas e bebidas, haviam desaparecido. O episódio gerou indignação, especialmente por se tratar de bens deixados sob custódia policial.
Já em Lourenço Marques, o atleta Victor Pinho decidiu relatar o sucedido ao seu pai, que por sua vez comunicou o caso ao Comandante-Geral da PSP. Deste relato resultou a abertura de um processo interno: foi elaborado um relatório e realizada uma participação oficial, que culminou numa investigação e, posteriormente, na expulsão do agente responsável pelo desvio dos mantimentos.
O episódio, embora lamentável, reforçou a importância da denúncia e da responsabilização, garantindo que a justiça fosse reposta no final desta atribulada aventura.
Resultados da atleta:
1966
05 e 06.11.1966 – Torneio de Iniciados e de Juvenis
Disco Juvenis:
1º J. Lourenço Oliveira (SCLM) – 30,20 m.
2º Rogério Marques (CFM) – 25,62 m.
3º Ludgero Grave (CDELM) – 24,92 m.
4º A. Loureiro (CFM) – 23,66 m.
Dardo Juvenis:
1º Rogério Marques (CFM) – 26,34 m. – Recorde Regional.
2º F. Vieira (GDLM) – 25,32 m.
20 e 21.11.1966 – Campeonato Regional de Juniores
Disco:
1º L. Correia (SCLM) – 31,10 m.
2º Rogério Marques (CFM) – 22,28 m.
3º A. Loureiro (CFM) – 20,16 m.
Peso (6 Kg):
1º L. Correia (SCLM) – 12,78 m. – Recorde Provincial.
2º Rogério Marques (CFM) – 8,56 m.
3º A. Loureiro (CFM) – 8,05 m.
Dardo:
1º Fernando C. Oliveira (SCLM) – 36,14 m.
2º A. Amorim (SCLM) – 32,86 m.
3º Mahomed (SCLM) – 30,56 m.
4º Rogério Marques (CFM) – 28,42 m.
26 e 27.11.1966 – Campeonato Regional de Juniores
Peso Juvenis:
1º J. Lourenço Oliveira (SCLM) – 12,28 m.
2º A. Loureiro (CFM) – 9,98 m.
3º Rogério Marques (CFM) – 8,75 m.
10 e 11.12.1966 – Dia dos Recordes
Peso Juvenis – 2º lugar – 8,80 m.

Vários atletas do Ferroviário LM no Parque José Cabral. Rogério Marques com o nº 107
1967
20.01.1967 – Torneio de Captação, Promoção e Deteção de novos talentos – Organizado pelo Clube Ferroviário de Moçambique (CFM)
Peso Juniores:
1º António Loureiro – 8,60 m.
2º Rogério Marques – 8,30 m.
3º António Saraiva – 7,36 m.
15 e 16.04.1967 – Taça António Araújo
Martelo Juvenis:
1º Isaías Silva (SCLM) – 30,54 m.
2º Rogério Marques (CFM) – 29,04 m.
3º A. Loureiro (CFM) – 21,45 m.

Jovens atletas do Ferroviário LM. Rogério Marques é o segundo em baixo
1968
27 e 28.04.1968 – Torneio de Abertura
Disco Jun. – 5º lugar – 25,10 m.
28.07 e 03.08.1968 – Torneio Regional de Juniores
Peso – 4º lugar – 11,10 m.
Martelo – 2º lugar – 28,72 m.
10 e 11.08.1968 – Campeonato Regional de Seniores
Martelo Seniores – 4º lugar – 24,90 m.
Equipa do Clube Ferroviário campeã Senior de Atletismo no Estádio Paulino dos Santos Gil
21.09.1968 – Dia dos Recordes
Martelo – 3º lugar – 26,02 m.
05 e 06.10.1968 – Torneio de Preparação
Peso Sen. – 3º lugar – 9,32 m.
Martelo Sen. – 2º lugar – 27,48 m.
1969
16,17 e 23.08.1969 – Campeonato Regional de Juniores
Martelo (6Kg) – 1º lugar – 35,00 m.
Disco – 4º lugar – 23,00 m.
06 e 07.09.1969 – Dia dos Recordes
Peso Jun. – 1º lugar – 10,57 m.
Melhores marcas do atleta:
Juvenis:
Peso – 8,80 m.
Disco – 25,62 m.
Dardo – 26,34 m. – Recorde Provincial.
Martelo – 29,04 m.
Juniores:
Peso (6 Kg) – 11,10 m.
Disco – 25,10 m.
Dardo – 28,43 m.
Martelo – 35,00 m.
Seniores:
Peso – 9,32 m.
Martelo – 27,48 m.
3 Comentários
Fernando Agria
Ao ver no vosso site sobre Desporto em que escrevem que de 20 2 21/11/1966 no Campeonato Regional de Juniores respeitante ao Peso de 6 Kg, noto um erro.
1º Fernando Agria (SCLM)
2º Rogério Marques
3º A. Loureiro
Se este torneio foi feito no Campo do Sporting, eu fui o vencedor porque recebi a Medalha do 1º Lugar.
Eu fui atleta no Ferróviario de L.M,, mas saí de lá porque quando estava a treinar levei com um disco na cabeça que por sorte foi lançado por um inicviado. O meu dedo médio entro no golpe da cabeça e fui para o Hospital de L.M para ser operado.
O seccionista do Sporting de L.M., foi Presidente da Federação de Atletismo em Portugal.
Por acaso a família do Rogério Marques eram meus vizinhos nos prédio Cardoso em L.M. na Av. Paiva Manso.
Um abraço,
Fernando Agria
Victor Pinho
Boa Tarde. Li o seu comentário e posso informar o seguinte: Os Campeonatos Regionais de Juniores realizaram-se no Estádio Paulino dos Santos Gil (Desportivo) nos dias 21 e 22 de Novembro de 1966. No Lançamento do Peso o vencedor foi o atleta do SCLM Luís Correia que ao lançar 12,78 metros bateu o Recorde Provincial de Juniores e em 2º lugar Rogério Marques (CFM) com 8,56 m e em 3º lugar Agostinho L. Costa do CFM com 8,05 m. Tenho os registos quer de recorte de Jornal quer do registo feito pelo Professor António Vilela. Um abraço.
2luisbatalau@gmail.com
NA VERDADE UM EXCELENTE ATLETA MOÇAMBICANO DO QUAL NÃO ESTOU LEMBRADO. GOSTEI DA REPORTAGEM E DAS ESTATÍSTICAS. ABRAÇO