As Ruas
No tempo
em que havia ruas,
ao fim da tarde
minha mãe nos convocava:
era a hora do regresso.
E a rua entrava
connosco em casa.
Tanto o Tempo
morava em nós
que dispensávamos futuro.
Recolhida em meu quarto,
a cidade adormecia
no mesmo embalo da nossa mãe.
À entrada da cama,
eu sacudia a areia dos sonhos
e despertava vidas além.
Entre casa e mundo
nenhuma porta cabia:
que fechadura encerra
os dois lados do infinito?
Mia Couto
Comentário de José Valongueiro no facebook:
Gosto deste poema. Transporta-me para uma infância feliz e despreocupada em Moçambique. Uma infância vivida nas ruas, muitos amigos, muitas futeboladas, muitos jogas de paulito, de berlindes, cowboiadas, caça aos pardais e todas as brincadeiras que os miúdo conseguem inventar…
3 Comentários
clara Van Zeller
Gostei desta reflexão autobiográfica sobre a infância.
Esses momentos, em Moçambique, foram tão profundamente vividos que continuam a suscitar lembranças guardadas na memória como pérolas depositadas num cofre, para abrir e apreciar mais tarde.
O Mia Couto tem o dom de publicar o que agrada, que inebria a alma, enfim, que é preciso.
Wanda Serra
Wanda Serra
Maravilhoso!!!
O futuro pretence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos ………..
Wanda
Dave Adkins
Estou de acordo com o poeta e com José no Facebook, recordar é reviver.