ESTAMOS TODOS A FICAR COCUANAS…
Velhos são os que têm mais quinze anos do que eu”.
Spinoza, filósofo holandês (1632-1677).
Aqui dou conta de uma notícia, acompanhada de um brevíssimo vídeo, colocada no facebook do meu bom amigo, antigo aluno da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques (EIMA) e meu pupilo de pesos e halteres no Clube Ferroviário de Moçambique, Adolfo Figueiredo, em que é relatado, com o destaque merecido, o feito de um português, com 75 anos de idade, de seu nome Silvestre Fonseca, bicampeão da Europa de levantamento olímpico de pesos e halteres.
A propósito, na supracitada notícia, escrevi o seguinte comentário: “Grande velhote!” Imediatamente abaixo, Alfredo Oliveira, contemporâneo dos que viveram os dias da saudosa EIMA, escreveu: “Oh Professor Rui Baptista estamos todos a ficar cocuanas… que é pena.”
Mas, como que desdizendo o seu imodesto atestado de cocuana, aparece-nos ele, o nosso amigo Alfredo Oliveira, pleno de juventude e alegria de viver, escarrapachado em cima da sua mota VFR 7.5, com a legenda por si próprio debitada: “Acabadinho de chegar de ‘voar baixinho’”!
Outro cocuana, da sua geração de aluno da EIMA, o nosso Samuel de Carvalho, “alma pater” do BigSlam, que, apesar da sua artrose no joelho direito, não deixa de efetuar as suas partidas de ténis em pares nos courts do Tennis Club da Figueira Foz, preparando-se assim para os torneios de “cocuanas” (veteranos) e que segundo consta, com imenso sucesso nos mesmos…!
Eu próprio penitencio-me por, no que respeita à prática dos pesos e halteres, ser pouco modesto! Como prova ilibatória o facto de continuar a treinar religiosamente pesos e halteres, três vezes por semana, aos 84 anos de idade (segundo a Organização Mundial de Saúde, etapa da vida, 80-90 anos, denominada velhice),
sob a forma de culturismo, que a febre dos neologismos transformou em musculação, na companhia de um amigo e jovem médico-dentista quarentão, José Manuel Belo Soares. E das referências a esta minha pertinácia pela prática de uma modalidade desportiva (de que fui campeão de Moçambique) um elogio que muito me marcou ouvi-o da boca de um jovem, colega de um dos meus netos, praticante de culturismo seguindo as pisadas de seu pai: “O teu avô é uma referência em Coimbra!”.
De parabéns, também, os “coca-colas”, Alfredo Oliveira e Samuel de Carvalho, que criaram hábitos de “mens sana in corpore sano” na sua juventude vivida na bela cidade de Lourenço Marques, com tradições graníticas no panorama do Desporto Nacional que se estendia, então, do Minho a Timor. Quando cocuanas, tornar-se-ão eles personagens de Bulhão Pato por “o ardor da adolescência lhes continuar a correr nas veias”! E, desta forma, sem vestígios da descrença de quem quando na velhice (80-90 anos), que ainda lhes acena de longe, se não possam queixar ambos da vida ao contrário de uma personagem do escritor de Arnaldo Gama: “Para isto é que eu vivi? Malditos anos! Maldita velhice!”
No meu caso pessoal, dando crédito a Spinoza, velhos são aqueles que têm agora 99 anos (contas feitas, 84 +15=99 anos)! Já chega, portanto, dos cocuanas se utilizarem do jargão velho e relho de que “velhos são os trapos”!
P.S. – Registo aqui as diversas etapas da vida definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS): meia-idade, 45-64 anos; idoso, 65-79 anos; velhice, 80-90 anos; grande velhice, depois dos 90 anos.
5 Comentários
Rogerio Costa
Interessante!
A idade cronologica e a que nos referimos normalmente, mas esta nao descreve precisamente o estado fisico e mental do nosso corpo. Este depende concerteza de quando nascemos mas tambem da nossa genetica, como tratamos o nosso corpo e especialmente como psicologicamente vivemos a nossa vida.
Assim uma pessoa pode na verdade ter uma idade biologica a mais ou a menos da sua idade cronologica. Me parece que as pessoas da minha geracao (1945) tem uma idade biologica muito menor do que a cronologica…:-)))
Bem me lembro do professor Rui Batista da Escola Industrial de Lourenco Marques e acho que esta bem “concervado”.
Uma Nota : Baruch Spinoza era de origem Portuguesa. Os pais judeus portugueses imigraram para Amsterdam quando da expulsao dos judeus de Portugal.
Um Abraco
Rogerio Costa
Rui Baptista
Caro Rogério Costa: Bem a-propósito a sua evocação das chamadas idades cronológica (aquela que constava antigamente do B.I. e hoje do Cartão do Cidadão) e a idade fisiológica (o desgaste maior ou menor que a “máquina humana” sofre por maus ou maus hábitos de vida).
E eu bem sei do que falo. A Mocidade Portuguesa de Moçambique introduziu, através da respectiva Inspecção Provincal de Educação Física, o Minibasque em território nacional, inicialmente, em 1964, através das escolas primárias de Lourenço Marques (c.f., meu post publicado no BigSlam, intitulado “Introdução do Minibasquete em Portugal” e publicado em 29/09/2012). Quando essa acção se estendeu a escolas do ensino preparatório, na Escola Preparatória General Machado de Lourenço Marques, deparei-me com aquilo a que o povo chama não bater a bota com a perdigota
.
Ou seja, a idade cronológica de determinados jogadores (salvo erro, com o limite de idade de 12 anos) não correspondia à sua idade fisiológica quando comparados com outros alunos da mesma idade mais baixos e imberbes por terem um palmo de altura a mais e terem a barba a despontar.
A explicação é simples. Por nascerem em povoações distantes de localidades com registo civil os progenitores para não pagarem a multa por os registarem fora de tempo indicavam uma data posterior ao respectivo nascimento separada, por vezes, de anos civis. E aqui está o imbróglio da idade cronológica não corresponder à idade fisiológica numa iniciação desportiva em que a altura tem uma importância capital. No Basquete, jogadores de elite baixos é excepção que confirma a regra de jogadores com estatura alta, elevadíssima.
Rui Baptista
Na penúltima linha do meu comentário anterior, onde escrevi “maus ou maus hábitos”, corrijo, obviamente, para “maus ou bons hábitos”.
dave adkins
Os grego achavam que a chave à longevidade era a balança da mente, do espírito e do
corpo. Hoje em dia – estilo de vida saudável + bons genes + medicina moderna + a
vontade de Deus (+ sorte) = longevidade. .
Rui Baptista
Caro Dave Adkins: A genética tem, como bem diz, um papel importantíssimo na longevidade. Mas ela, por si só, não a garante se houver excessos atentatórios contra uma vida saudável. Sobre a importância da carga genética costuma dizer-se se queres saber como será a tua bela e esbelta namorada repara como é actualmente a tua futura sogra!
Ou seja, os genes, como o algodão do reclame da televisão, não mentem até porque os genes do pai têm também uma palavra a dizer nesta herança genética. Aliás, o povo salvaguarda a importância da genética e do meio ambiente com dois ditados se completam: ” 1. “Filho de peixe sabe nadar” (genética); 2. “A ocasião faz o ladrão” (meio ambiente).