_Camegim faleceu!
_Faleceu o Manel Camegim
Manuel Joaquim Grilo Guerra, conhecido e reconhecido por Camegim, o Manel Camegim, faleceu aos 61 anos, a 22 de Dezembro de 2014, pelas 22h, de ataque súbito, enquanto pescava ao polvo, nos penedos do Cabo Mondego, em Buarcos, Figueira da Foz.
Natural de Buarcos, na Figueira da Foz, foi profissional de futebol (na 1ªDivisão, 2ªD e 3ªD, do Campeonato Nacional) e serralheiro civil (soldador especialista, com aprendizagem técnica na Serralharia do Simões de Oliveira, actualmente instalação administrativa da Junta de Freguesia (JF) de Buarcos, por ter sido sede da JF de S.Julião).
Pela projecção granjeada ao longo dos anos nos campeonatos nacionais, onde se exibiu entre 1968/1990, os mais diversos órgãos de comunicação social noticiaram o acontecimento de pesar, como titulou o blogue figueirense Marcha do Vapor:
«Desporto figueirense mais pobre, morreu o Manel Camegim»
(mas também foi noticia nos jornais, a Bola, Record, Jogo, as Beiras, Diário de Coimbra, Correia da Manhã, na revista Sábado, na televisão online Figueira TV, e ainda na rede nos blogues AcademicaOAF, PalhetasNaFoz, MaisBeiraMar, ReisDoAve, OsMeninosDaNaval, etc).
O jogador Camegim, Manel Camegim, foi formado nas escolas da NAVAL1ºMaio (velhíssima e nobilíssima Associação fundada em 1893, conta 121 anos de história com estórias), tendo representado também a Académica de Coimbra (AAC), o Beira-Mar, o Rio Ave, o União de Coimbra e a Tocha (UDT).
Na Lusa Atenas (Coimbra) privou de perto com as lendas academistas da década de setenta e de sempre, Vasco Gervásio, Camilo, José Freixo, Marrafa, Victor Manuel, etc.
Observou de perto ao longe a magnitude da Academia (Universidade), desprezando o turbilhão emotivo do espírito estudantil, sugando-o no entanto por interposição (em vez da sebenta, a bola no futebol, primeiro na Académica, depois no União).
Levantou plateias com os golos de fino recorte, recebeu aplausos pelas assistências fatais, imortalizou a qualidade inata, da técnica dos «Meninos d’Areia», aqueles que debutam pelo litoral a norte do Mondego, trazendo nos pés a forte aragem do Atlântico e na cabeça a doce frescura, arreganho e teimosia, daqueles que enfrentam o Mar Salgado, pelo seu pão-nosso de cada dia.
O Camegim, Manel Camegim
Senhor: Manuel Joaquim Grilo Guerra
Nasceu a 05/07/1953 em Buarcos, Figueira da Foz
Faleceu a 22/12/2014 em Buarcos, Figueira da Foz
Posição: AVANÇADO (Ponta-de-Lança_Goleador_Marcador de Golos)
Clubes:
1_NAVAL1ºMaio (de 1968/69 a 1975/76, juvenil, júnior e sénior na III_Divisão),
2_ACADÉMICA (76/77 e 77/78, ID),
3_BEIRA-MAR (78/79 e 79/80, ID),
4_RIO AVE (80/81, IID),
Camegim é o último em baixo
5_ACADÉMICA (81/82 a 83/84, IID),
6_NAVAL1ºMaio (84/85, IIID),
7_UNIÃO DE COIMBRA (85/86 a 87/88, IID) e
8_U.D.TOCHA (88/89 e 89/90, IIID).
Treinador: U.D. Tocha, A.C. Montemorense, G.D. Os Águias de Arazede e G.D. Buarcos (equipas da Associação de Futebol de Coimbra).
O Manel Camegim marcou uma geração de bons futebolistas, num futebol de parcas condições, em que a I e II divisões (ID e IID, agora ligas) eram jogadas também em pelados, alguns de reduzidas dimensões. Debutou ao Centro (Figueira da Foz e Coimbra), marcou no Norte (Aveiro e Vila do Conde), eternizou-se na «Beira-Mar» (nasceu e faleceu).
O Manel Camegim expôs de forma altiva, personalizada e sem complexos, o quilate fino da sua infância, em que ensaiava nos grãos d’areia as fintas para o saber-ser, saber-estar, num extraordinário saber-jogar, fielmente expressos no chavão «Sangue, Suor e Lágrimas»:
- Sangue: jorrado aos pelados por quedas, talvez em mirabolantes golos, plenos de oportunidade, acutilância e audácia;
- Suor: no algodão (o tal que não engana) duro e puro das camisolas, por vezes remendadas, num apego e entrega total, pela optimização da visão periférica no jogo da bola;
- Lágrimas: pelas lesões sofridas, pelas entradas sentidas, as quais obstaram, a que talvez alcança-se outros voos, em outros emblemas, por outro nível, com outro colorido;
O Manel Camegim era dono e senhor de uma visão periférica e posicionamento assertivos, postura elegante e imponente, velocidade felina e espírito acutilante, além de um enorme faro e competência pelo golo, esse verdadeiro «orgasmo» do futebol, segundo o bi-Bota d’Ouro, Fernando Gomes, o grande ponta-de-lança português do FCP e SCP, enquanto exímio marcador de golos.
Na noite escura e fria, na sua amada praia, o Manel tombou de súbito, enquanto pescava por prazer, gosto e satisfação. Parte o ídolo, mais um dos campeões de vida, na minha vida que parte!
Aos 17 anos compartilhei com ele os treinos, senti entre os postes destreza da sua técnica e a enorme aptidão para o golo. Recordo as palavras que me enchiam de coragem para lutar, para tentar defender mais uma bola como que teleguiada, no final de mais um treino, _miúdo, queres ficar mais um pouco, para eu apurar o remate?» (que enorme satisfação, ir ao fundo das redes buscar a bola chutada carinhosamente pelo homem que aparecia nos cromos e fazia golos de eleição!)
Recordando outros tempos… Manuel Camegim e “Bispo” na Praia de Buarcos
O seu coração não acompanhou mais esta vontade e sucumbiu de súbito, ou terá sido por vontade de Deus? Estranha forma de vida, segundo a grande diva Amália Rodrigues!
Ao Camegim, ao Manel, Homem, Futebolista, Serralheiro, Pai, Irmão, Cunhado, Avô, …Obrigado!
Manuel Camegim e “Bispo”
Paz à sua alma!
Pelo Futebol, ao Futebol, o que é, e será sempre do Futebol, em que os homens fazem sempre toda a diferença.
Para o efeito, termino com uma estória do futebol, reproduzida da TAPORNUMPORCO», blogue da República de Estudantes de Coimbra (tapornumporco.blogspot.com), «RS.T» (Real Esse Ponto do Tinto – Coimbra – os três pastorinhos também bebiam o seu copito!):
Uma estória na história de Coimbra, cidade do conhecimento e do saber, mas também dos doutores, do encantamento de Pedro e Inês, do Mondego que corre devagarinho, e que encanta cantada do Choupal até à Lapa.
Era uma vez, no tempo em que os Pais levavam os filhos pela mão ao futebol, ao domingo à tarde, onde os Estádios e os Campos Pelados estavam repletos. Era o tempo do futebol numa festa, e é o tempo da estória de vida, «O melhor jogo da minha vida», escrita por S.Tomé, e publicada em 26/05/10):
«No dia 27 de Fevereiro de 1977 fui pela primeira vez na vida, ver um jogo de futebol. O meu pai levou-me a ver o Benfica (SLB) que defrontou a Académica (na altura CAC) no Estádio Municipal de Coimbra. Até aí eu gostava principalmente, de ver jogar futebol, mas só isso. Não sabia muito das equipas, mas depois desse jogo tornei-me um apreciador a sério da bola.
Recordo-me de polícias montados nos seus cavalos enormes que me aterrorizavam. De vez em quando havia mesmo umas bastonadas neste e naquele adepto mais nervoso.
Mas o tal sentimento de religiosidade foi mais forte que o terror e lá acabei por entrar, não sei como, suponho que levado pelos ares entre a força da multidão e o aconchego do meu pai.
Quanto à Académica alinhou assim (não me lembrava de todos, mas felizmente existe o livro «Académica_História do Futebol» e está lá tudo):
Hélder;
Brasfemes, Carlos Alhinho, Zé Freixo e Martinho;
Mário Campos (Rogério), Gervásio, Rachão (Vala) e Gregório Freixo;
Camegim, Joaquim Rocha e Costa.
A «AAC» tinha uma grande equipa, a sua linha avançada, principalmente, era temível:
- O Joaquim Rocha era um ponta-de-lança, muito rápido e explosivo;
- O Costa foi apenas o melhor jogador de sempre da equipa, um extremo poderoso que levava tudo à frente;
- E o Camegim era um tecnicista nato, um jogador muito fino».
Com emoção, gratidão e memória, um puro e verdadeiro agradecimento do Bispo, pelo tombar finito de mais um campeão da vida, o qual partiu de coração vazio.
Alguns momentos partilhados com Manuel Camegim:
Pedro Miguel, “Bispo”, Manuel Camegim e Manuel Joaquim.
“Xapa”, Manuel Camegim e Portulez
Manuel Camegim comemorando o 60º aniversário entre amigos – 05.07.2013
– Grato a S.Tomé pela prova escrita, na universidade da vida.
Ao nosso “Ponto de Encontro”, votos sinceros para um próspero ano em 2015, e que seja um ano bom!
Aos Beijos e Abraços, Paulo Craveiro, oBispo, v/Devoto Incensador de Mil Deidades, 30Dez14.
Um Comentário
Rosa Mamede
Mais uma vez elogio o meu amor pela emoção que pões na tua escrita.
Também te agradeço por teres escrito sobre o Manel, Homem que conheci muito bem, com quem privei e sinto, como sempre senti, que acima de tudo era um bom e incompreendido amigo!