Impressões de uma viagem a Moçambique
Estive em Moçambique, mais concretamente em Maputo, no passado mês de Abril, sendo que a última vez que lá tinha estado foi em Julho de 2003, há cerca de 11 anos, portanto.
Vista geral de Maputo a partir de uma unidade hoteleira na Catembe
Inevitavelmente, somos levados a fazer comparações, não só com os tempos da nossa juventude, os tempos do colonialismo, mas também com o que observámos na última visita.
Assim, a primeira impressão que fica é que há mais dinheiro a circular: começamos por entrar no País por uma aerogare completamente nova onde as mangas de acesso directo substituem, com vantagem, os autocarros que transportavam os passageiros desde os aviões à aerogare, agora com muito mais luz natural e um pé direito que inibe as sensações de claustrofobia nos mais sensíveis. Chegando à cidade, o número e a grandiosidade das construções novas ou em curso impressiona, principalmente a quem há muito deixou de ver e sentir a dinâmica do sector da construção civil (na Baixa, no local da antiga Casa Coimbra está agora em construção um arranha-céus de várias dezenas de andares e que chega até à Praça 7 de Março, de modo que o edifício do Banco Standard Totta parece uma miniatura liliputiana; na zona em frente aos estádios do Desportivo e do Sporting, actualmente Maxaquene, outrora compostos de eucaliptos e casuarinas, existem agora uma série de novos edifícios, principalmente de serviços, onde pontuam delegações do BCP e da GALP; nos terrenos contíguos à FACIM, agora devolutos, novos prédios de vários andares começam a surgir).
O arranha-céus sito na ex- Casa Coimbra
Por toda a cidade são visíveis gruas de construção
Já junto à praia, a partir do Miramar, a movimentação também é grande, desta vez com a construção de uma nova estrada (ou auto-estrada, pois, ao que parece, vai ter portagens) já em fase de asfaltagem pelo menos até ao Bairro Triunfo, e que dará ligação à Estrada Nacional 1, já mesmo junto à entrada de Marracuene, a par de outras obras de relevo como a recuperação das praias atá à Costa do Sol, com a construção de novos pontões, o abate das velhas casuarinas já meio desenraizadas e do enchimento das praias com areia, trazida não sei de onde.
Novos pontões de protecção das praias
Areia que vai ser espalhada nas praias de Maputo
Tudo isto evidencia uma dinâmica económica que há muito deixámos de ver e que, espero, não seja pronúncio de uma “economia de betão”… (até porque, por outro lado, verifica-se pouco cuidado na conservação dos edifícios mais antigos; o abastecimento de água é intermitente – se não fossem os reservatórios de água que cada prédio tem…!)
Ainda no domínio das infraestruturas começam a ver-se empreendimentos, uns novos, outros reactivados, como é o caso das instalações do parque WaterWorld, junto à Costa do Sol em que a componente de lazer e restauração dão mostras de um grande dinamismo.
Por outro lado, o número de automóveis em circulação é absolutamente descomunal, muito devido à importação de veículos usados do extremo Oriente, que sendo relativamente baratos, “democratizou” o transporte privado, apesar do preço dos combustíveis ser razoavelmente elevado – 47 meticais (1,10€)/litro de gasolina.
O contraponto deste (pseudo) desenvolvimento encontramo-lo nos inúmeros buracos que “povoam” as ruas e avenidas da cidade, nos transportes públicos (vulgarmente conhecidos por “chapas”, agora com a “inovação” de esse tipo de transporte ser feito em carrinhas de caixa aberta, vulgarmente conhecidas por “my love”, pelo facto de os utentes terem de vir agarrados uns aos outros para não correrem o risco de cair) sem as mínimas condições de conforto e até de segurança, nos omnipresentes e por vezes imensos mercados de rua (“dumba nengues”), improvisados em todo e qualquer passeio de rua e que constituem a única fonte de rendimento para uma quantidade muito significativa de pessoas que não tem sequer o ordenado mínimo (2500 Meticais – 60€), etc.
Exemplar de “My Love” em hora de ponta
Veículos de transporte usual: “Tchova Estaduma” (empurra que há-de pegar)
Se acrescentarmos que os serviços de hotelaria e restauração, por exemplo, têm preços idênticos ou até mais elevados que em Portugal, que as rendas de casa atingem com facilidade os 1500 – 2000 USD, fica claro que a grande maioria da população não tem acesso a estas mordomias e, consequentemente, a pequena corrupção tem campo fértil para prosperar…
Em jeito de conclusão, diria que a “sorte” é que a terra é generosa, as praias paradisíacas e o Povo pacífico e amável, suportando sem revoltas e com estoicismo as dificuldades da vida, o que faz de Moçambique um local onde nos sentimos em paz, bem-vindos e, na hora da partida, com vontade de regressar.
Hambanine Moçambique!
António Pinto Mendes
2 Comentários
Carlos Saraiva
Obrigado António Soeiro pelos seus comentários, nos quais me revejo totalmente, que maravilhoso teria sido para todos nós ( Moçambicanos e Portugueses) que consideram aquela a sua terra, mesmo não tendo lá nascido o que é o meu caso pois fui para lá com dois anos e assim considero-me “Coca Cola” mas tal nao nos foi permitido por uns revolucionárias de meia tijela. Um abraço a todos os que por lá viveram.
Carlos Hidalgo Pinto
Parece que Moçambique está no bom caminho. passados os tempos da Guerra Fria, outros tempos esses, agora é tempo de desenvolvimento. Se se pensar que nos mapas antigos de grandes países como os E.U.A., Austrália e Canadá, surgem nomes como Nova Holanda (Nova Iorque já foi Nova Amesterdão), Nova Inglaterra, Nova Escócia (no Canadá), quer dizer que os fluxos migratórios foram essenciais para o desenvolvimento destes países. O Brasil é a confirmação desta tendência, pois desde libaneses, sírios, portugueses, espanhóis, italianos, japoneses e alemães migraram para lá. As novas evidências e impressões recolhidas de Maputo por António P. Mendes, confirmam que Moçambique tem propensão e vocação para captar investimento em infraestruturas´, como barragens para a produção de electricidade, na agricultura e na agro-indústria, no aumento dos hinterland e foreland dos seus portos e da especialização das zonas portuárias ( de acordo com o modelo de Bird, sobre o Anyport). Os fluxos migratórios induzem transferência de conhecimento e criação de postos de trabalho. O take-off está em curso, o turismo tem potencial para se desenvolver, agora a criação trabalho só surge através de investimento concreto. Há que ter uma abordagem positiva e cosmopolita do futuro, melhorando as condições de vida do presente do povo moçambicano, povo em geral calmo e acolhedor, como diz no seu comentário, o Luís de Oliveira . O empresariado moçambicano tem uma palavra a dizer neste processo de desenvolvimento.