“In memoriam” do Engenheiro Tomás Gouveia
Dois colegas da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques, falecidos há anos, os Engenheiros Miguel Vaz Portugal (seu director) e Alfredo Caseiro Rocha (seu professor), deixaram em mim grande saudade.
Hoje choro (quem disse que os homens não choram?) a morte de um querido Amigo, o Engenheiro Tomás Gouveia, com quem convivi diariamente estabelecendo com ele laços de um irmão que a genética me não deu, mas que os laços do destino de uma fraterna amizade assim o determinou.
Com o seu falecimento, é parte de um passado moçambicano que me enleia nos braços de um irremediável desconsolo. Recordo-me, como se fosse hoje, das noites quentes na esplanada do “Pigalle”,
que quase se prolongavam para o início da madrugada seguinte, em que nos encontrávamos em tertúlia “juvenil” de quem discutia, e julgava poder resolver, os graves problemas de um mundo cheio de esperança que idealizávamos em prol de Moçambique e em nome de um desporto de concórdia e generosidade que dignificasse as cores do seu Desportivo e do meu Ferroviário.
Emblemas do Desportivo LM (GDLM) e do Ferroviário LM (CFM)
Instalações do Desportivo LM (GDLM) onde o Eng. Gouveia tinha presença assídua
Instalações do Ferroviário LM (CFM) onde o Prof. Rui Baptista treinava e orientava na halterofilia (pesos e halteres)
Quando esteve o meu nome indigitado para presidir ao órgão máximo oficial do desporto moçambicano (na década de 60) deu-me ele a ler, com a satisfação da sua generosa amizade, o jornal que se publicava na cidade da Beira em que era dada uma pequena notícia: “Rui ‘Vares’ (em vez de Vasco, meu segundo nome de baptismo) Baptista” vai ser nomeado presidente do Conselho Provincial de Educação Física de Moçambique”.
Depois mesmo da portaria ministerial da minha nomeação estar assinada (faltando apenas o visto do Tribunal de Contas), quiseram os meus maus fados que essa nomeação se não viesse a concretizar, ao que se dizia, por força de algumas forças vivas do dirigismo desportivo local e/ou imposição de última hora da então Metrópole para a nomeação de Noronha Feio que, entretanto, saíra do cargo de director do INEF.
Prof. Noronha Feio
Em nome de uma velha e indefectível amizade por mim, acompanhou-me Tomás Gouveia posteriormente no meu desgosto, mantendo-se fiel em não denunciar os nomes dos dirigentes desportivos locais (ao que se constava) ligados a esse movimento e do(s) clube(s) nele(s) envolvido(s).
Quando Portugal se viu limitado às suas fronteiras europeias e insulares, passou a viver em Cascais, vindo amiúde a Coimbra, onde eu resido, em visita carinhosa a sua Mãe, aqui, outrossim, residente. Mal chegado às margens do Mondego telefonava-me para nos encontrarmos e revivermos a enorme e agridoce saudade da bela e colorida “Cidade das Acácias”.
De quando em vez mantínhamos contacto telefónico. Não sei se por premonição ou não, dias atrás, telefonei-lhe para casa (seu telefone fixo: 212843372) para saber notícias suas e do seu estado de saúde que deixava já antever o pior. Não tive êxito nessa “démarche”, julgo por o telefone de sua casa estar desactivado, mercê do uso do telemóvel que as novas tecnologias nos trouxeram deixando o passado, ainda recente, para trás.
Hoje, parafraseando Camões, se “no assento etéreo onde subiu, memória desta vida se consente” endosso esta missiva ao meu irmão Tomás Gouveia, o homem bom e amante da sua terra do Índico.
Queira Deus que encontre ele agora o repouso que mereceu em vida, mas que o destino padrasto do desgostoso abandono da sua Lourenço Marques idolatrada lhe negou!
Rui Baptista – 12-11-2015
2 Comentários
Dulce Gouveia
Caro Prof. e Amigo,
Fiquei muito sensibilizada com a sua sincera e bonita homenagem ao meu pai.
Ele tinha por si uma enorme estima, admiração e uma incondicional amizade.
Ele era verdadeiro e leal amigo dos seus amigos e cultivou essas amizades até ao fim da sua vida.
Tinha um grande sentido de honra ( palavra esta quase desconhecida nos tempos actuais) que, com o seu exemplo, nos transmitiu, passando-nos o seu testemunho.
Os meus agradecimentos e da minha família por essa amizade tão forte e por esta sentida homenagem.
Bem haja!
Dulce Gouveia
PS: O telefone a que se refere é o mesmo, só que tem um dígito errado.
Logo que encontre a agenda do meu pai,ligar-lhe-ei.
Rogerio Costa
O Engenheiro Gouveia era uma pessoa boa que via nos outros sempre o positivo
Reste em paz meu professor.
Do seu aluno de Hidraulica do IILM.
Rogerio Costa