LUGARES PARA DEFICIENTES, GRÁVIDAS E VELHOS EM PARQUES DE ESTACIONAMENTO
O dever é a necessidade de realizar uma acção em respeito pela ordem moral”.
Emmanuel Kant
A imagem acima reporta-se a uma ocorrência de que se fez personagem involuntária um cidadão brasileiro (ao que me atrevo a pensar, capaz de correr os 100 metros planos) por ter estacionado a sua viatura num lugar destinado a deficientes.
Segundo Fernando Pessoa, “o civismo é simplesmente o medo agudo da opinião dos outros”. Por isso, perante o batalhão de assistentes que o receberam a tirar fotos dessa viatura coberta de cartões azuis e brancos, não acredito que ele não tenha jurado a si próprio não voltar a repetir a façanha. E se ao caso me refiro fica-se a dever a situações de cidadãos portugueses useiros e vezeiros neste tipo de esperteza saloia, por exemplo, em locais de estacionamento do Coimbra Shopping.
Uma vez, quando era mais novo e, como tal, menos sujeito a que me partissem a cara pela mania de querer endireitar o mundo, dirigi-me a um espertalhão, advertindo-o: “O senhor desculpe mas este lugar destina-se a deficientes físicos e não a deficientes mentais!”.
Em voz quase inaudível ruminou ele impropérios, que não me chegaram aos ouvidos sequer, afastando-se, embora eu acredite ter ele, em outros dias, voltado ao mesmo local para arrumar a viatura, a exemplo dos criminosos dos livros policiais que se diz voltarem sempre ao local do crime.
Outra ocorrência vulgar nestes locais é ver indivíduos do sexo masculino, ainda que viajando sozinhos, estacionarem o automóvel em lugares destinados a grávidas, em declarada gravidez que não consta dos registos de maternidades de qualquer parte do mundo ou sequer dos chamados fenómenos do Entroncamento.Ipso facto, serei eu obrigado a confessar não estar à la page com o que se passa em países conservadores como a Velha Albion? Concedo que sim, a fazer fé na leitura da seguinte notícia:
“O médico britânico Robert Winston, um dos maiores especialistas em inseminação artificial da Grã-Bretanha, afirma que os homens podem engravidar e ter filhos. Winston diz que a Medicina evoluiu tanto nos últimos tempos, que já existem técnicas capazes de implantar um embrião no abdômen de um homem, possibilitando que ele tenha um filho, se for submetido a um tratamento à base de altas doses de hormônios femininos” (jornal “O Dia”, Rio de Janeiro 24/02/99).
Pois é, incrédulo leitor que, porventura, esteja a ler esta notícia: a mim já nada me espanta desde que vi um porco a andar de bicicleta e mulheres no circo com barbas de fazerem inveja ao nosso Guerra Junqueiro!
Mas não pense, ainda o leitor, que os actos de falta de civismo, a que se assiste diariamente nesses locais, se quedam por aqui. Há corredores de acesso aos lugares de estacionamento, uns num sentido, outros noutro sentido. Pois não é que, sempre que um lugar está vago num corredor com a placa de acesso proibido, certos espertalhões, ou espertalhonas, avançam lampeiros por ele dentro em prejuízo do automobilista cumpridor das regras de trânsito, sujeitando-se este, ainda por cima, a passar por parvo?
Ao contrário de certos filmes que avisam o espectador que “qualquer semelhança com a realidade é pura ficção”, garanto que este meu relato é a realidade dos factos que se pode transformar num filme do far west sem um alto e espadaúdo John Wayne que imponha um mínimo de justiça em situações que correm o risco da força dos punhos se fazer lei!
3 Comentários
Joaquim Fernando Muralhas Ferreira
Só hoje li o seu comentário. Parabéns! Sou agente da PSP, aposentado, e também fui fiscalizador e exerci essa função sempre com isenção e respeito pela lei. Mas há um pormenor a ter em conta e que muitas pessoas ignoram ou desconhecem, que tem a ver com a legalidade dos sinais. A sinalização do trânsito em Portugal obedece ao princípio da legalidade e está regulada pelo Decreto Regulamentar n.º 22-A/98, de 1 de outubro, que aprovou o Regulamento de Sinalização do Trânsito (RST). Muitos sinais de trânsito que estão ainda em uso em meio urbano, na generalidade dos municipios portugueses, não estão contemplados no RST. São ILEGAIS. Assim, não é possível aos agentes fiscalizadores fazerem cumprir a Lei, sob pena de praticarem atos administrativos ilegais passiveis de procedimento disciplinar.
Rosa Mamede
Obrigada pelo excelente artigo!
Todos nós podemos ser um dia qualquer da nossa vida deficientes!
Pensemos nisso e seremos mais justos.
Obrigada
Rui Baptista
Só hoje vi o seu comentário. Obrigado pelo estímulo que me trouxe o seu comentário: breve e conciso.. Infelizmente, num jeito muito nosso (dos portugueses), como diz o provérbio, “só nos lembramos de Stª Bárbara quando troveja”.
Infelizmente, continuo a ver indivíduos sem qualquer deficiência (a não ser a do egoísmo e da falta de civismo ) a arrumarem os carros nesses lugares.