Manga Verde
Todos os que, tiveram contactos com mangueiras, sabem que a manga verde, pode até ser apreciada, com sal e até, com piripiri, numa confecção indiana, que se chama “achar de manga”. Todavia, simples até é ácida e amarga, por vezes. Intragável, quase… Esta história verídica, (ai, ai a autobiografia…), começa num balcão dum banco, numa operação bancária tão simples. Uma senhora, já avó como eu, em substituição duma colega em férias, (coincidência…), atendeu-me e olhou-me fixamente, deixando transparecer, sem nada me dizer, que me conhecia… Eu, por mim, apenas me parecia que conhecia aquela cara de qualquer lado… Quando a senhora teve de analisar o meu BI, olhou-me, agora, segura do que iria dizer exclamou: ” A manga era bonita e saborosa?” Como um raio, à velocidade da luz, na minha memória uma velha história apareceu, bem clara. Retorqui de imediato: “Linda, rosada, grande, docíssima…” Sorriu, conversámos… trocámos informações, mostrámos fotos dos netos… mas a história não termina aqui. Tinha mentido, e eu não estava a gostar disso. A manga tinha sido por mim arremessada, por raiva… Neste “poema” vos conto o resto. Pedi-lhe desculpa ao telefone, e li-lhe o poema. Caíram-lhe lágrimas mas ficou feliz. Partilho esta memória convosco, aqui, onde me fotografo, para me conhecerem…
Depois das aulas te mirava,
debaixo daquela mangueira frondosa,
teus cabelos soltos ao vento,
da côr da terra aqueles caracóis,
Era a entrada do paraíso,
do sítio das brincadeiras,
depois dos deveres da escola.
Eu acelerava a cópia, as contas,
e tudo o mais, para te esperar,
ali, naquele lugar, só nosso…
De caracóis ou de tranças,
com laços côr de mel,
os nossos olhos tanto falaram,
tanta jura fizeram, naquele lugar.
E, daquela flôr da mangueira,
tão prenha de tantas mangas,
escolhemos a maior como nossa,
aquela que comeríamos juntos,
o nosso sêlo da jura de amor!
Todos os dias a olhávamos,
à espera que crescesse,
para o dia da consagração!
Quis a vida que abalasses,
mais a família, para outro lugar,
bem distante daquele sítio lindo…
Zangado com o nosso destino,
arranquei a manga verde,
daquela flôr por nós escolhida.
…………………………………………………….
Já Avó, perguntaste-me,
com os olhinhos inquietos,
se a manga tinha sido rosada,
se tinha sido bem gostosa?
Menti, disse-te que sim,
mas ainda sinto forte nostalgia:
oh manga verde, manga verde,
porque não amadureceste para mim?
Ricky 30.03.2005