Com 81 anos feitos em Maio de 2012, o Prof. Rui Baptista demonstra uma invejável forma física. Parabéns! Um exemplo a seguir!
Alguns considerandos do Prof. Rui Baptista feitos por Sertório da Silveira e transcrito do blogue “The Delagoa Bay”, do Tomané Botelho de Melo.
Tive o privilégio de o conhecer e tornar-me seu amigo ao longo dos anos.
Em minha opinião, RB foi uma das figuras mais carismáticas do Desporto moçambicano, quer como professor, quer como dirigente desportivo, quer, ainda, como comunicador dos ideais que sempre defendeu com marcante empenho e superior conhecimento de causa, seja através de escritos jornalísticos, de conferências, seja, ainda, como praticante de pesos e halteres (Culturismo) em que se sagrou campeão de Moçambique, na categoria de médios.
Por esse facto, ter eu ficado chocado e até revoltado com a sua não nomeação para presidente do Conselho Provincial de Educação Física (CPEF) depois de ter a sua nomeação sido assinada pelo ministro do Ultramar Silva Cunha (faltando apenas ter o visto do Tribunal de Contas, aliás uma questão de escassos dias).
Acresce que a sua nomeação chegou a ser noticiada pelo jornal publicado na cidade da Beira: “Vai ser nomeado presidente do Conselho Provincial de Educação Física de Moçambique Rui ‘Vares’ Baptista”. Assim, tal e qual com a troca de Vasco, seu segundo nome próprio, por “Vares”. Em seu lugar foi nomeado Noronha Feio, vindo da então Metrópole, a quem o Desporto de Moçambique nada de nada devia. Sendo RB à data Inspector de Educação Física Escolar da Mocidade Portuguesa pediu a sua exoneração, tendo recebido um louvor no Boletim Oficial de Moçambique.
Chegou RB a Lourenço Marques em 1957 – depois de formado pelo INEF e ter cumprido o serviço militar como aspirante, alferes e tenente miliciano em Tomar – contratado como professor de Educação Física da “Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque”, tendo desenvolvido, para além dessa docência, um notável acção no desporto local e uma intensa actividade no campo da Ginástica Correctiva com pacientes de Lourenço Marques, alguns deles deslocando-se à África do Sul, a fim de serem consultados pelo mais famoso cirurgião ortopedista, o Dr. David Roux, que indicava o seu nome para os serviços de reabilitação necessários.
No ano a seguir à sua chegada à cidade do Índico (1958) foi convidado para preparador físico dos nadadores laurentinos que se deslocariam à Metrópole para disputarem os Campeonatos Nacionais da modalidade. Em representação do CPEF, foi nomeado chefe da respectiva Embaixada, embora não pertencesse aos quadros do CPEF, mas sim o seu colega Igeménio Tadeu.
Desde sempre, apaixonado pela sua dama, a Educação Física, foi dirigente desportivo e preparador físico de várias modalidades desportivas (basquete, futebol, hóquei em patins, etc.) tendo desenvolvido paralelamente uma acção constante na preparação de várias classes de ginástica do Clube Ferroviário.
Entretanto, teve, também, uma acção importante no campo literário, através da publicação de vários livros no âmbito, por exemplo, dos Pesos e Halteres e da Educação Física como ciência ao serviço da saúde pública. Desempenhou a função de presidente da Secção de Ciências da Sociedade de Estudos de Moçambique, onde proferiu duas conferências no âmbito da Educação Física, tendo entrado, assim, o Desporto e a Educação Física pela porta grande dessa notável instituição cultural e científica.
Em 1975 fez parte do grande contingente de Portugueses que se viram coagidos a deixar Moçambique, onde tinha fixado residência. Foi colocado em Coimbra, como professor efectivo de Educação Física do Liceu D. João III (anos depois, Escola Secundária José Falcão). Foi também docente do ISEF da Universidade do Porto e docente da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra. Na cidade das margens do Mondego continuou a desenvolver uma intensa actividade com artigos de revistas da especialidade, a efectuar conferências e palestras, por exemplo, nos Rotários e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, a escrever livros e a publicar artigos de opinião nos jornais “Diário de Coimbra”, “Correio da Manhã”, “O Primeiro de Janeiro” e o “Público”. É co-autor do blogue De Rerum Natura, de há tempos para cá. Também em Coimbra desenvolveu uma intensa actividade no campo da Reabilitação Física (de que fora professor no ISEF do Porto) tendo assinado convenções com diversos organismos públicos.
Quase a terminar, e volvendo a um saudoso passado das margens do Índico, como escrevi no início, conheci este Professor, em Lourenço Marques, tendo tido o grato prazer de entrevistá-lo para o jornal “Diário de Lourenço Marques”, a propósito de uma série de entrevistas, “O desporto nas Escolas”, com a participação de uma dúzia de personalidades ligada ao desporto, na sua maioria professores de Educação Física. Desde essa altura, ficámos amigos para todo o sempre, merecendo-me o maior respeito e consideração pela sua humildade, cultura e simpatia, para além do seu incontestado valor profissional, muito lamentando, como tal, a gritante injustiça de não ter sido nomeado, à última hora, presidente do CPEF (quando tudo estava encaminhado nesse sentido) por ele ter sido a personalidade mais bem posicionada para o desempenho desse elevado cargo, sobejamente demonstrado através da sua extrema dedicação ao Desporto Moçambicano.
Sertório da Silveira
6 Comentários
Rui Baptista
Caro José Alberto Campos: Relato preciso e precioso.. E se como nos diz a canção de Victor Espadinha, “recordar é viver”, vivemios ambos esses tempos. Lembro-me bem de seu Pai, de quem fui amigo. Quanto ao ano de 1957, confirmo: fomos ambos caloiros. Eu como professor, o prezado José alberto, como aluno.. Um abraço.
Adolfo Figueiredo
Prezado professor Rui Baptista, a sua notável forma física é motivadora para os “menos” seniores e, na minha perspectiva é uma marca do seu carácter decidido e empreendedor, que fez com que granjeasse tantas simpatias.Como já tive oportunidade de lhe dizer noutra altura,o que mais me marcou da vivência que tive consigo, na EIMA e no Ginásio do Ferroviário, foi presenciar a harmonia e carinho que transparecia, quando a sua esposa e filhos iam ter consigo no fim dos treinos. Até ao próximo almoço. Um abraço, Adolfo Figueiredo.
Rui Baptista
Meu bom Amigo Adolfo: Que te dizer sobre as tuas palavras amigas? Volvidas mais 5 décadas quando me reencontro, nos almoços de Maio, com os “bons malandros” da noss Indústria parece que o tempo volta para trás e regressamos à nossa juventude e aos bons tempos em que o respeito entre professores e alunos era uma constante, com raras excepções.Um grande abraço. Rui Baptista
José Alberto Silva Campos
Caríssimo Sr Prof- RUI BAPTISTA! Fui seu aluno de ginástica, no ano lectivo 1957/58 quando eu andava no 1º Ano do Ciclo Preparatório, na Escola Industrial de LM! Julgo ter sido esse o 1º ano em que o Sr. Prof- começou a dar aulas de ginástica em LM? Se assim fôr, eu terei sido um dos seus primeiros alunos! Nessa altura, as aulas de ginástica eram dadas num espaço grande, que existia em frente à varanda onde funcionava o “Bar” da Escola, gerido pelo Sr. Picão! Nesse mesmo terreno, nos intervalos, nós alunos, jogávamos à malha; No ano seguinte, é que o chão de terra foi todo acimentado e construiu-se o Ginásio, paredes-meias e ao comprido, com o terreno da JOC; No balneário, depois da aula de ginástica, nós, alunos, guardávamos lá, os 2 colchões mais o plinto e prancha e uma belíssima Mesa Alemã de saltos; também havia uma boa barra onde nós fazíamos “elevações”. Lembro-me ainda das suas palavras e cadência: “Levanta, baixa, insiste, insiste, insiste”! DEve-se também lembrar do meu Pai, José Campos que foi Massagista do Clube Ferroviário e Enfermeiro-Chefe dos CFM. No Ferroviário julgo que em 1963, andei na Ginástica Aplicada com o Prof. Júlio Roncon (que depois foi para o Canadá?); nessa altura, vocês os do Halterofilismo do Ferroviario, tinham que esperar pacientemente para que nós acabássemos a nossa aula, para depois vocês trazerem o vosso equipamento de Halterofilismo para o Salão do Ferroviário e começarem a “bombear” o ferro…Boas recordações. O nosso Amigo comum, Adolfo Figueiredo morava pertinho de mim, na Av. Afonso de Albuquerque, perto da Escola Industrial. Um abraço! José Alberto Campos (agora com 67 anos e a viver em Setúbal).
Admin
Caro José Alberto, obrigado pelo seu excelente relato sobre a nossa EIMA. Conseguiu colocar imagens nas suas palavras…
Também fui atleta do Ferroviário (Basquetebol) e conheci muito bem o seu saudoso pai – José Campos, um magnífico massagista do nosso Clube, admirado e respeitado por todos atletas e dirigentes.
Apareça sempre. Faça do BigSlam o seu site de eleição!
Rui Baptista
Caro José Alberto: Sobre o bar da EIMA, o responsável era o Prof. Palhares Falcão, da disciplina de Filosofia. O empregado de balcão era o servente (julgo ser essa a nomenclatura) Dane,excelente rapaz Ou estar-me-ei a referir a anos posteriores? E que belos e fresquíssimos”scones” aí se comiam…nos intervalos das aulas. Até me cresce a água na boca! Pavlov teve razão com o seu reflexo condicionado…Outro abraço.