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Intervenção no Festival de Publicidade de Maputo – Por João de Sousa
Minhas Senhoras e meus Senhores, boa noite.
Agradeço à Associação Moçambicana das Empresas de Publicidade, Marketing e Relações Públicas por me agraciarem com este “Prémio Carreira”. Ao longo destes anos de trabalho não recebi muitos prémios. Os poucos que recebi, e este é um deles, quiçá o mais significativo, remetem-me para uma frase, que foi e continua a ser o lema do meu trabalho na publicidade, na Rádio e na comunicação social: “mais vale fazer pouco e bom, do que muito e mau”.
O fascínio pela publicidade e pela Rádio em particular levou-me a bater à porta da Golo, decorria o ano de 1964. O tempo era outro. Os meios eram outros. Mas isso nunca foi impeditivo para que o nosso trabalho fosse pautado pela qualidade. Tínhamos vocação. Tínhamos ideias. Tínhamos talento. Palavras utilizadas aqui nas comunicações feitas por dois ilustres participantes deste Festival de Publicidade.
Durante estes anos todos naveguei (e felizmente ainda navego) no mar da publicidade radiofónica e não só.
Ao olhar para um jornal, ao ouvir a Rádio ou a ver Televisão, salvo raras excepções, chego à conclusão que hoje, uma grande fatia da publicidade que se produz em Moçambique não obedece a regras e normas. Há quantidade, mas não há qualidade. Há problemas na forma, no conteúdo, na concepção, na linguagem, na leitura. Há erros gramaticais, há erros de sonorização e montagem. Neste mundo moçambicano em que vivemos, poucos, muito poucos mesmo, conhecem o significado de valorizar. Valorizar a arte de fazer publicidade, porque publicidade é arte.
Mário Ferro (Presidente da AMEP) e João de Sousa
Há erros de palmatória que deviam ser corrigidos e não são.
Dou-vos dois pequenos exemplos: uma locutora, num anúncio duma pasta dentífrica, em voz off, teve o desplante de dizer “higiene orral” em vez de higiene oral. Num outro anúncio fala-se de “soriso” em vez de sorriso. Ou seja, dobra-se o “erre” quando não se deve e não se dobra o “erre” quando se deve. Muitos, particularmente alguns linguistas da nossa terra defendem que isso acontece … “por razões de natureza cultural”.
Mas não são só os “erres” que me preocupam. São os atropelos gramaticais provocados por erros de concordância entre masculino e feminino, entre singular e plural ou os erros de conjugação verbal de modo imperativo, principalmente quando se trata do uso de “tu” e “você”, ou ainda quando, para espanto de muitos de nós, se pretende convencer o público ouvinte que o plural de fim de semana é “fins de semanas”, como se veiculava num anúncio que a nossa Rádio Pública transmitiu não há muito tempo.
O erro passa pelo cliente, pela Agência de Publicidade, pelo órgão de informação que veicula o anúncio. E ninguém actua. Antes pelo contrário. Todos pactuam com este tipo de barbaridade. Os meios de comunicação social têm de ter a coragem de rejeitar. De dizer NÃO a tudo quanto entendam não convir. Infelizmente não fazem isso. Deixam andar o que está mal. E o que está mal chega aos ouvidos e aos olhos dos nossos filhos, dos nossos netos. E estes, inevitavelmente, ao lerem, ao falarem ou escreverem seja o que for, vão fazê-lo tal qual o órgão de informação veiculou. Acho que alguém devia pensar em “colocar o guizo ao gato”.
Não pretendo generalizar. Há que reconhecer o que de bom se faz. E por isso a existência destes Festivais que a AMEP tem vindo a promover de há 9 anos a esta parte. Felizmente, aqui, há espaço para fazer desta plataforma, a plataforma da qualidade. Do empenho. Da dedicação. Do conhecimento. Da vocação.
Que os bons exemplos de cada uma destas mostras anuais sirva de guia para rectificar o que de mal se faz, e permita ajudar os que anunciam com menos clarividência, poupando-nos desta forma a ter que escutar, ver ou ler, toda esta avalanche de coisas sem sentido.
Permitam que dedique este prémio a duas pessoas que abriram as portas para o meu ingresso no mundo da publicidade e da Rádio, nomeadamente António Alves da Fonseca e Flávia Fonseca, à minha esposa e ao meu filho, que constituem o suporte para que eu continue a navegar neste mundo da comunicação e a todos aqueles que lutam por uma publicidade que seja o resultado de rigor e qualidade.
João de Sousa e António Alves da Fonseca
Cláudio Michel (filho), João de Sousa e Aissa (mulher)
Muito obrigado pela vossa atenção.
João de Sousa – 11 de Setembro de 2014