Basquetebol Universitário em Lourenço Marques – 1968
Por Eduardo Monteiro
A primeira grande aventura da minha vida, foi vir estudar para o Instituto Nacional de Educação Física (INEF) após ter concluído o curso liceal no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo na ilha Terceira (Açores). Para um jovem que estava habituado a jogar futebol federado no “Sport Club Angrense” e basquetebol em todas os torneios que eram efectuados na ilha Terceira, com realce para os campeonatos organizados pelo departamento norte americano da Base das Lajes, sair do arquipélago e ingressar no curso de professores, da então única escola de educação física do país, era realmente uma grande mudança e um grande desafio pessoal.
Para além de ser exigido a alínea f) do curso dos liceus, fomos submetidos a um conjunto de provas físicas de avaliação das capacidades atlético/motoras para ingresso num curso com esta especificidade. Logo no início do curso a primeira novidade foi constatar que a carga horária semanal, era exigente, 5 horas de aulas práticas, todas as manhãs e mais 3 aulas teórico-práticas, à tarde, nas mais diversas disciplinas do currículo. Se, ainda juntarmos a essa tarefa escolar, a participação voluntária nos campeonatos regionais universitários com competições ao fim do dia e aos fins de semana fiquei, desde logo, elucidado que todas estas actividades não eram conciliáveis com festarolas.
No primeiro ano do curso, tive a sorte de ter como companheiro na equipa de basquetebol do INEF, um colega veterano, Jorge Araújo, que era jogador federado no Clube F. “Os Belenenses”. Terminada a minha experiência inicial no campeonato universitário o Jorge Araújo fez questão de que, na época seguinte, independentemente da minha participação nas provas universitárias, também jogasse na equipa federada dos azuis de Belém, tendo em vista uma maior valorização como praticante e aprendizagem da modalidade. A conciliação das actividades escolares e desportivas universitárias e federadas foi conseguida e cumprimos a calendarização anual de treinos e jogos sem grandes dificuldades. No decorrer dos anos seguintes fomos ultrapassando etapas e cumprindo objectivos de âmbito académico e desportivo. O colega Jorge Araújo foi o grande responsável pelo meu percurso como jogador e, mais tarde, como treinador de basquetebol nos meus anos de formação académica e desportiva.
Entretanto, no início do ano escolar de 1967/68,
Ano escolar de 1967/68 – INEF
Em cima: Hermínio Barreto, Jorge Araújo, Carlos Correia, Vitor Torégão, Olímpio Coelho e Hélder Marques.
Em baixo: Eliseu Beja, Eduardo Monteiro, Silvino Santos e António Castro.
o professor Teotónio Lima responsável pela leccionação do basquetebol no INEF, reuniu os alunos que jogavam na equipa universitária e lançou-nos um desafio que passava pela preparação atempada da equipa do INEF, com o objectivo de alcançar o título regional universitário e participar no campeonato nacional cuja fase final estava marcada para a cidade de Lourenço Marques (actual Maputo) em Moçambique. Face a este desafio os então alunos do INEF; Jorge Araújo, Hermínio Barreto, Olímpio Coelho, Hélder Marques, Carlos Correia, Silvino Santos, Vítor Torégão, Eliseu Beja, António Castro e eu, aceitámos o desafio e começámos a treinar com regularidade sob a orientação do professor Teotónio Lima. Conquistado o campeonato regional universitário de Lisboa, seguimos para a fase intermédia (então designada de metropolitana) na cidade do Porto, onde defrontámos os representantes das academias de Coimbra e Porto. Após renhidos encontros vencemos esta fase de apuramento para a fase final em Moçambique.
A deslocação a Moçambique integrado na equipa de basquetebol do INEF foi, de certa maneira, a minha segunda grande aventura em termos académico-desportivos. Na deslocação, por avião, para Moçambique fizemos uma paragem em Luanda onde pernoitámos na então magnífica Casa dos Desportistas situada na ilha da capital de Angola e efectuámos um encontro particular, num recinto ao ar livre, com a equipa do CDUA representante da academia angolana à fase final do campeonato nacional universitário. A equipa do Centro Desportivo da Universidade de Angola (CDUA) era constituída pelos universitários Abílio Moura, Carlos Ferreira, Carlos Tavares, Carlos Teixeira, Gastão Jesus, Jaime Leitão, Jorge Vieira, Raúl Silva, Sebastião Marques, Vítor Cruz e Vitorino Cunha, sendo treinada por José Henrique dos Santos e tinha como dirigente Vasco Jorge Martinho.
Por sua vez, a equipa da Universidade de Lourenço Marques (ULM) era a representante de Moçambique sendo constituída pelos universitários António Veiga, Artur Lima, Carlos Lopes, Carlos Neves, Diogo Lopes, Fernando Almeida, Fernando Lopes, Joaquim Neves, José Afonso, Luís Coelho, Manuel Ferreira e Pedro Cerqueira, tendo como dirigente José Carlos Ferreira e treinador Eduardo Branco, que após a independência foi o primeiro selecionador nacional de basquetebol de Moçambique.
Posteriormente, após a sua mudança para Portugal, tivemos a oportunidade de trabalhar juntos na Direcção Geral dos Desportos, no Sport Lisboa e Benfica e na Região Autónoma dos Açores.
Entretanto, no dia 21 de Maio de 1968, teve início no pavilhão do Sporting de Lourenço Marques a fase final do campeonato nacional universitário de basquetebol com o jogo entre a ULM e o CDUA com a vitória da equipa universitária moçambicana (67-48). No dia seguinte, 22 de Maio a equipa do INEF, campeã do continente português, levou de vencida a formação angolana, pelo que o derradeiro encontro da prova se tornou numa atraente final para se encontrar o vencedor do campeonato nacional universitário. Na finalíssima, disputada a 23 de Maio, com o pavilhão completamente cheio de um público universitário entusiasta e apoiante, a experiente equipa moçambicana (Associação Académica na versão federada), venceu a formação do INEF (72-58) tendo conquistado o título nacional universitário.
Ano escolar de 1967/68 – AAM
Campeã Nacional Universitária de Basquetebol
Em cima: Eduardo Branco “Becas” (Treinador), Carlos Lopes, José Afonso, Luís Pinto Coelho, Fernando Lopes e Joaquim Neves.
Em baixo: Diogo Amoroso Lopes, António Veiga, Carlos Neves, Manuel Ferreira e Fernando Almeida.
Depois de algumas visitas a locais importantes da maravilhosa capital de Moçambique, fizemos uma viagem marítima à deslumbrante ilha da Inhaca.
De seguida, deslocámo-nos para a cidade da Beira onde efectuámos uma acção de formação para os treinadores locais no pavilhão do Clube Ferroviário da Beira. Também tivemos a oportunidade de nos deslocarmos ao mundialmente famoso “Parque Nacional da Gorongosa”
onde, actualmente, trabalha o Vasco Galante, do qual fui treinador em todas as categorias, na década de 70, no Sport Lisboa e Benfica.
As boas recordações jamais são consumidas pelo tempo que passa.
Um Abraço a todos os companheiros das minhas aventuras.
Eduardo Monteiro (ex-treinador do SL Benfica e das Seleções Nacionais)
- O Bigslam agradece ao Eduardo Monteiro o texto e as fotos e ao Diogo Amoroso Lopes os recortes de jornal publicados neste artigo. Bem hajam!
2 Comentários
antonio veiga
Meu nome Antonio veiga e fiz parte da equipa da ULM e disputei este torneio.Agradou-me muito ler a descriçao.O meu muito obrigado
Jorge Esteves
Moçambique teve algumas actividades desportivas, onde foi grande, e outras onde foi muito grande, desculpem-me esta falta de modéstia – mas é verdade.
Tivemos a Natação, o Futebol, o Hóquei, o Basquetebol e provavelmente muitas outras onde fomos igualmente importantes. Eu, ilustre desconhecido, só pratiquei hóquei nos juniores do Sporting, nada mais e pouco importa.
O que importa, sem saudosismos, é salientar a capacidade que tivemos, de usar as oportunidades que estavam ao alcance de todos, e, nós soubemos tirar partido delas, para com o esforço e dedicação necessária fazer esses Feitos, dos quais, hoje sentimos algum e merecido orgulho.
Só posso ficar contente com esta História, como referi no comentário acima e dar os meus cumprimentos ao Eduardo Monteiro pelo seu trabalho e um abraço ao meu amigo Amoroso Lopes pelas fotos.
Jorge Esteves