Império e consciência social de Paulino do Santos Gil – Por Jeannette dos Santos Gil Rodrigues Valente “Janina”

Império e consciência social de Paulino do Santos Gil

 Texto elaborado pela sua neta Jeannette dos Santos Gil Rodrigues Valente “Janina”.

Paulino do Santos Gil nasceu na Moita do Norte, concelho de Vila Nova de Barquinha em 28 de Agosto de 1884. Não conheceu seu pai. Teve uma irmã e dois irmãos: Maria Santos Gil, Manuel Santos Gil lente da Universidade de Letras de Coimbra e João Santos Gil, chefe da Estação dos Caminhos de Ferro da Moita.

A sua mãe que já era viúva há largos anos,  deixou de ter poder económico para lhe pagar um curso, o que o levou a imigrar para Moçambique e deixar a Moita, uma terra pobre e sem qualquer tipo de oportunidades.

Já em L. Marques, Paulino casou com Jeannette Maria Antónia Francisca Astarita Burló que por casamento adoptou o nome de Jeannette Santos Gil. Esta nasceu no Suez, pois o seu pai foi um os engenheiros que construiu o dito canal, no dia 24 de Junho de 1892. Veio a falecer num desastre de viação na Europa a 21 de Novembro de 1954.

Casamento de Paulino dos Santos Gil e Jeannette em Lourenço Marques – 1910

 Tiveram três filhos:

José Alberto, Telma “Misuco” e Maria Efigénia “Maturi”

José Alberto do Santos Gil, altamente inteligente, fez o liceu em dois anos com média de 18 valores. Descansou um ano e com 13 anos seguiu para Lille, França, onde cursou Engenharia Química. Morreu solteiro aos 42 anos no mesmo desastre da sua mãe.
Maria Efigénia “Maturi”, uma doente glandular que lhe provocou excesso de peso. Casou com Carlos Borges Delgado, piloto e professor de pilotagem da Deta. Tiveram um único filho, Carlos Manuel Santos Gil Borges Delgado. Cursou Engenharia aeronáutica e engenharia mecânica na América, onde ficou a viver. Casou com uma americana e não teve filhos.
Telma Santos Gil Valente “Misuco”, mulher de rara beleza e com uma centelha de génio do pai. Foi presidente do Movimento Nacional Feminino. Recebeu uma condecoração de benemerência. Casou com Aníbal da Ascensão Rodrigues Pessanha Valente, diplomado com 16 valores pela Universidade de Edimburgo. Inicialmente engenheiro dos CFM (caminho de Ferro Moçambique) deixou o seu nome ligado à construção de estradas, pontes e caminhos de ferro que fizeram a ligação entre Malema e Nampula. Fez também o projecto de abastecimento de água a Nampula. Construiu fábricas e casas da família Santos Gil. Tiveram uma filha única, Jeannette dos Santos Gil Valente “Janina”, diplomada em germânicas pela Universidade de Cambridge.

Jeannette dos Santos Gil Valente “Janina”

Esta casou com Joaquim Moreira Rato de quem teve três filhas, Isabel Maria, Tradutora Judicial de Inglês, Maria Teresa, bacharel em economia e Ana Cristina, diplomada pela Universidade Europeia.

Paulino dos Santos Gil – O seu Império

Devido ao facto de ser possuidor duma inteligência rara, ser um administrador nato, um trabalhador insano e estar numa Terra que tudo tinha para oferecer, pôde assim construir o seu império.

Império construído por Paulino Santos Gil:

– Fábricas de óleo (2): Sociedade Industrial de Óleo e Fasol.
– Fábricas de descasque de arroz (2): Uma em L. Marques e outra no Xai-Xai.
– Fábrica de Sabão (1).
– Propriedades de cultivo de arroz (2): No Chinde (Zambézia) e no Chibuto (Gaza) – “ Quinta do Vale” – Circulo orizícola de Gaza (incluía todo o Sul do Save, produzindo arroz para abastecer as suas fábricas).
– Prédio Santos Gil.

– Café Continental.

– Companhia de navegação (1) parceria marítima do Xai-Xai, com três cargueiros: Janina, Xai-Xai e Laurentino.
– Farmácias (2): Farmácia normal e Farmácia Central.
– Fonte de Montemor na Namaacha.
– Água da Namaacha.
– Canadá Dry.

– Pepsi Cola.
– Consórcio Internacional de Agências.
– Foi fundador, presidente e principal accionista da Companhia de Seguros “Nauticus”.

– Prédio Nauticus.

– Agência da Philco Westinghouse.
– United State Steal of America.
– Exploração mineira “Moquemine.
– Serviços de limpeza da Cidade até ao ano de 1947.
– Fábrica de mobílias “A Mobiladora” e floresta para abastecimento de madeiras.
– Firma de construção: Fomento Predial responsável pela construção de importantes obras entre elas a Câmara Municipal,

o Liceu Salazar

e o paredão de protecção da invasão do mar ao longo da marginal de Lourenço Marques,

 sendo o engenheiro responsável, o seu genro – eng. Aníbal Valente.
– Quinta das Oliveiras na Namaacha, sua casa de campo.
– Mansão na Rua Governador Simas, atualmente Clube dos Empresários.
– Deu grande apoio à construção do Estádio “Paulino dos Santos Gil” do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, bem como ao Complexo das Piscinas.

Depois da morte de Paulino do Santos Gil e três anos depois a do seu filho eng. José Alberto dos Santos Gil, o seu genro eng. Aníbal Valente, assoberbado com tão pesada herança, não levou por adiante a criação da Companhia de pesca, apesar de na ponte-cais já estarem construídos frigoríficos, para receber o pescado, nem a construção da fábrica para a produção da cerveja indígena “Cercáfe”.

Paulino Santos Gil, conseguiu construir este império graças à sua inteligência superior, capacidade administrativa e de trabalho, e ao facto de Moçambique ser um pais com muitos recursos e assim, não só deu trabalho a centenas de pessoas, mas também contribuiu grandemente para o progresso de Moçambique.

Paulino do Santos Gil – A sua consciência social

Considerado um Homem duma consciência social única, era simpático, afável e delicado.

Financiou a missão da Munhuana, Colónia balnear para crianças. Dava um ordenado mensal a 70 idosas que não tinham meios de subsistência.

Dava um subsidio anual à assistência Pública, estabeleceu vários empregados que financiou sem juros. Tudo o que produzia e vendia era a preço de custo, para os seus empregados a quem pagava o triplo de qualquer outro empregador.

Deu ao seu sobrinho mais velho e colaborador directo, 5% da sua fortuna.

Formou todos os filhos dos seus empregados que tivessem notas de quadro de honra, financiando a sua estadia em Lisboa. Pagou os estudos aos empregados da casa, tendo todos tirado o 5º ano (9º ano atual).

Ajudou a promover todos os familiares e amigos que o rodeavam. Deu muito mais do que aquilo que alguma vez gastou com ele. A família seguiu-lhe as pegadas.

Como patrão extraordinário tinha uma máxima:

O meu império não é meu, é nosso!
Eu não sobrevivo sem vocês e vocês não sobrevivem sem mim!”

Por tudo isto “sobreviveu à lei da morte”, ainda hoje é lembrado com respeito e consideração.

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