Torneio da Coca-Cola – 1971
(Minibasquete LM – “Tigres da Polana”)
Em cima: José Manuel, Orlando, Isabella Oliveira (Monitora), Cajó, Chalipa.
Em baixo: Vitorino, Rui, Lino, Paula (mascote), Miguel (cap.), Serra.
No início da década de setenta, a minha vida era o ‘basket’. Nas férias grandes, estação fria e seca, acordava à hora em que, no resto do ano, começava o liceu, para me juntar aos que lá em baixo, na esquina do Parque José Cabral à frente ao “Sheik”, me esperavam com o objectivo de, após uma breve sessão de ginástica, irmos a correr até à praia.
Regresso no mesmo ‘meio de transporte’ e às dez horas entrava no campo do parque, para treinar um grupo de miúdos entre os oito e dez anos, os “Tigres da Polana” – o tigre não é um animal africano, mas, talvez para imporem respeito às duas equipas que ali também treinavam, os ‘Leões’ e as ‘Leoas’ (onde jogava a minha irmã), foi este o nome escolhido pelos meus pupilos, que trajavam calção branco e camisa vermelha.
Esta experiência, ensinou-me que era poder, não aos meus olhos, mas aos da avó de um dos meus jogadores, que um belo dia resolveu ir assistir ao treino, no fim do qual me pôs à vontade para dar uns tabefes no neto, sempre que ele precisasse. Olhei para o reguila. Apesar de já ter a altura hoje inscrita no bilhete de identidade e de ser quatro anos mais velha, o meu peso era inferior ao do Vitorino, cujo volume era muito útil à equipa para barrar o salto à tabela dos adversários. Não, a senhora que o desancasse em casa, mas ali não seria eu a arriscar o confronto.
Também me lembro de um jogo a que os pais do Cajó e do Rui foram assistir e, nos últimos minutos, estando os tigres pachorrentamente a gerir apenas o resultado, ter ouvido a encarregada de educação dos dois irmãos: “Pois é, é uma irmã para eles em vez de lhes dar dois berros!”… puxa, família, mesmo quando o torneio é a medalhas de latão, só quer uma coisa: sangue.
Na foto, está também o Serra, nunca o tratámos por outro nome. Um meia-leca que treinava de camisola interior (pouco usual) e de fio com crucifixo ao pescoço. Mas era o meu melhor marcador, volta e meia parava antes do garrafão e, girando, atirava a bola de costas para a tabela. Cesto e aplauso certo da assistência!
E havia o bonzão do Orlando, tabela, e caçula da ‘Casa Dias do Xarope’ que às vezes me oferecia uma garrafa de groselha ou capilé, e o discreto Chalipa, que distribuía jogo. De todos estes miúdos, que não tornei a ver, só sei do Zé Manel (alguém me disse que vive no sul) e do Miguel, o capitão da equipa, que é hoje professor de Educação Física em Madrid – informação da irmã, que reencontrei num jantar do liceu e a quem enviei esta fotografia, tirada pelo meu tio Armando, pai do Lino (que integrou a equipe, vindo dos ‘Barbaças’, os minis dos A.E.C.) e da mascote.
Em dia de treinos, a minha equipa não jogava, mas a maratona continuava e pelas três da tarde, vestia a ‘t-shirt’ branca com as letras vermelhas da ‘Coca-Cola’ e apito na boca que o torneio não parava – ‘Amigo’, assim se chamava ao árbitro de ‘mini-basket’.
Ao fim da tarde, então, sim, vinha o merecido descanso com paragem na esplanada dos ‘Gelados Italianos’, duas belas horas de nada fazer e gargalhadas.
À noite, só havia uma de duas alternativas, ou era eu a ser treinada (primeiro pelo Sérgio Candeias e depois, no GDLM, pelo José Lopes) ou engrossava a claque do Desportivo nos pavilhões do Sporting ou do Malhangalene. Jornadas, estas, que faziam a alegria da cidade!
Pode ver mais fotos sobre o Minibasquete em Moçambique clicando no link: http://bigslam.pt/category/modalidades/basquetebol/minibasquete/
2 Comentários
Luis Trabulo
Barbaças e não barbados
Wanda Serra
Wanda Serra
Lindas recordaçoes descritas com tanta ternura .
Sem dúvida que a vida une e separa as pessoas ,mas nao existe nenhuma força que nos faça esquecer pessoas que de 1 modo ou outro nos fizeram tao felizes ………..