“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 5 de Janeiro de 2014 … Eusébio
Neste dia, 10 anos depois do desaparecimento físico da “Pantera Negra”, lembro a história dum filme que se refere aos pormenores que rodearam a chegada do “Pantera Negra” ao Benfica, um folhetim que alimentou a década de 60 e que atingiu não só a vida desportiva portuguesa, como os meandros políticos da época. A história é ‘revivida’ pela lente do realizador António Pinhão Botelho, com argumento da sua mãe, a jornalista Leonor Pinhão, e mostra, mais do que o futebol, a intriga e narrativa na contratação de Eusébio, disputado por Sporting e Benfica.
Vive-se o pior ano do regime fascista português, sob ameaça da ONU, e Eusébio é o grande tema das conversas entre Lisboa e Lourenço Marques, um jovem de 16 anos cuja habilidade acicata a rivalidade entre ‘leões’ e ‘águias’. O argumento de Leonor Pinhão, num filme que salta entre a comunidade de Lourenço Marques e a vida política e desportiva de Lisboa, conta cronologicamente a disputa e em como o Benfica acabou por agarrar a “pérola do Índico”.
Politicamente, o filme mostra as influências leoninas nos ‘bastidores’ de Ministérios e no Conselho jurisdicional da Federação Portuguesa de Futebol, num processo que arrastou no tempo a inscrição de Eusébio.
O jogador ‘falhou’ a primeira Taça dos Campeões Europeus, mas, mais tarde, um acordo entre Benfica e Sporting de Lourenço Marques, por 400 mil escudos (2.000 euros ao câmbio atual) acabaria por viabilizar o que faltava.
O argumento de Leonor Pinhão eleva o humor nos papéis cruciais dos benfiquistas de Lourenço Marques, em especial dos talhantes Mário Tavares de Melo e Albertino Malosso, cuja filha Ruth deu nome de código a Eusébio.
Os dois, juntamente com o major Rodrigues de Carvalho, arquitetaram a ida de Eusébio para Lisboa, com dois telegramas: um para o Sporting (para enganar o clube a dizer que Eusébio chegaria de paquete), e outro, para o Benfica, comunicando que “Ruth” (nome de código de Eusébio) estaria a chegar de avião, como aconteceu em Dezembro de 1960.
O filme de António Pinhão Botelho busca e filma as referências à época, desde o bairro pobre da Mafalala, de Eusébio, ao “Scala” de Lourenço Marques, ao café “Avis” e até à porta do restaurante “Gambrinus”, ambos em Lisboa, onde Catarino Duarte se prontificou a dar a Maurício Vieira de Brito os 400 contos de que o Presidente do Benfica precisava.
Ruth não é um filme sobre futebol, mas a narrativa de uma sociedade portuguesa em pleno regime fascista, entre o poder da Metrópole e a vida na Colónia, num dos maiores folhetins de rivalidade clubística, com aquele que viria a ser um dos melhores jogadores do futebol da história.
Nota: Eusébio faleceu no dia 5 de Janeiro de 2014, faz hoje 10 anos.
Fonte: Arquivo do BigSlam – Texto de João de Sousa adaptado dum artigo publicado no Jornal “Observador”.
9 Comentários
Nino ughetto
Lembro me bem de Eusebio eu quase juguei a brincar futebol com Eusebio,Eramos crianças na Mahangalene Jà estou perdido desse tempo (mais ou menos70 anos passaram) Ele ficou famoso e depois desapareceu(foi para Portugal etc etc etc. Bons tempos nada mais ficou d as fracas lembraanças tudo passa tudo acaba
Manuel Martins Terra
Completou-se no dia 5 de Janeiro do corrente ano, a primeira década do desaparecimento do grande astro do futebol Eusébio da Silva Ferreira, que deixou o universo benfiquista em grande consternação. Para trás ficou um historial de grandes feitos ao serviço do SLB e da seleção nacional, que ficou memorável e na retina dos que tiveram a felicidade de o verem atuar. Desde os pequenos pelados do Bairro da Mafalala, que Eusébio sonhou em ser craque e um dia vir a ser jogador do Benfica, conforme o desejo de seu pai, que foi futebolista do Desportivo. Isso veio a acontecer, sem que antes tivesse lugar aquela telenovela, em que se envolveu o SCLM, SCP e o SLB, e que o filme Ruth, transmite de forma caricata episódios que efetivamente tiveram lugar e que por algum tempo, apaixonaram o povo português e venderam jornais. Conheço bem o enredo da história, e a verdade é que se a razão assistia ao SCLM, em não querer ceder a carta ao Benfica, jogou-se depois o caso no xadrez politico, quando um ilustre causídico da praça lisboeta, muito do agrado de Salazar, terá convencido o governante e considerando o êxito da seleção nacional de hóquei em patins ao conquistar o Campeonato do Mundo de 1960, e depois do SLB se tornar Campeão Europeu em 1960/61, ainda sem Eusébio, que entretanto via TV, assistiu ao jogo, que faria sentido até para melhorar a imagem de Portugal aos olhos do mundo, já com a guerra colonial a estourar em Angola, de que o Benfica se tornaria ainda mais forte, logo capaz de assegurar novos êxitos para o futebol português. Assim por decisão politica, a Federação Portuguesa de Futebol, acabou por exigir o documento ao SCLM, que em contrapartida iria receber 400 contos, pela transferência. O Dr. Nunes Pantaleão, que mais tarde vim a conhecer nos SMAE, acabou por aceitar essa quantia que ajudou a suportar as despesas aquando da cobertura metálica do magnificente Pavilhão do Sporting laurentino. O resto, já toda a gente conhece. Para a eternidade, ficará para sempre o grande Eusébio.
ABM
Prefiro celebrar as pessoas e os seus feitos na data em que nasceram em vez da data em que morreram (a não ser que sejam escroques).
Neste caso, 25 de Janeiro.
josé carlos alves da silva
Fabuloso, milhares jogadores das nossas ultramarinas, brilharam no Mundo. Eusébio ,Coluna, Manaca, Néné, Shéu, Zeca, Costa Pereira, Vicente, Matateu, J J.,etc…. Parabéns Eusébio estejas onde estiveres. Viva o Rei.
Luis Batalau
Sim, estou lembrado dessa transferência a que o SCP sempre referiu a “roubo”. Grande jogador, sempre humilde e que para mim foi o Rei. Feliz Ano Novo
José Moreira
Que descanse em paz e sirva de exemplo a todos os jogadores, de futebol e não só, pela sua correção, profissionalismo, amor ao clube e à modalidade que amava.
Laura Maria Saraiva Seixas
Concordo em grau, género e número. Exemplo de desportista e a seguir!
Augusto Martins
Glória ao seu inesquecível nome e paz à sua alma.
Luis 'Manduca' Russell
Vivam, Moçambicanos, Alvi-Negros e Todo(a)s,
Sobre o nosso grande Eusébio, lembro-me, era eu pequeno, de o ver em nossa casa, na querida Lourenço Marques, na (má) companhia do meu pai, que o ‘desencaminhava’ para uns valentes copos. E nunca mais me esqueci de que, já naquela altura, o Rei falava castellano, porque ele, volta e meia, virava-se para mim e dizia: é assim como eu digo, Manduca, não tenhas ‘duda’ nenhuma! A saudade é imensa, quase tão grande quanto o nosso Eusébio da Silva Ferreira – Votos de um Bom Ano para todo(a)s!
P.S.: Ah! e também me lembro sempre de que houve algúem no nosso GDLM com a iluminação suficiente para cometer a proeza de rejeitar o Eusébio… que lá foi para o vizinho do lado… e o resto foi História…