8.ª edição da Semana Gastronómica de Moçambique em Macau
A 8.ª edição da Semana Gastronómica de Moçambique em Macau arrancou no passado dia 17 de junho, uma vez mais sob a direção do Chef Carlos Graça, que trouxe de Moçambique a bagagem cheia de ingredientes essenciais para confeccionar a “verdadeira comida moçambicana”.
“Trouxe matapa, que é folha de mandioca pilada, trouxe mandioca fresca, castanha – aqui também há muita castanha, mas o sabor é diferente –, trouxe amendoim pilado, licores tradicionais, cerveja para utilizarmos em determinados pratos, trouxe peixe seco, piri-píris, especiarias. Isto tudo para ser o mais verdadeiro possível do que temos de bom em Moçambique”, disse, lamentando que o limite de bagagem não permita maior quantidade.
Até dia 26, no hotel Grand Lapa,
será possível experimentar vários pratos, em ‘buffet’ de almoço e jantar, com destaque para o que Carlos Graça chama o “cartão-de-visita de Moçambique”: “A matapa, folha de mandioca pisada que leva quatro horas a ser confecionada, onde se junta amendoim pilado, leite de coco e mariscos. Neste caso vou fazer com camarão ou com caranguejo, e acompanha com xima, que é uma espécie de puré de milho que é habito comer-se em África. É um prato muito apreciado e confecionado de norte a sul”, explica.
O evento é organizado pela Associação dos Amigos de Moçambique de Macau, que salienta o jantar especial de dia 25 para celebrar o 41.º aniversário da independência do país, aberto a quem quiser participar, mediante inscrição.
Apesar das grandes diferenças culinárias entre a China e Moçambique, a semana gastronómica tem vindo a atrair cada vez mais público chinês: “Tem cada vez mais sucesso, sempre casa cheia, geralmente nunca há lugares. As pessoas gostam de uma maneira geral, não só chineses mas também a comunidade portuguesa. Há muitos moçambicanos, muitos africanos, há muita procura e isso incentiva-me a voltar a Macau”, explicou Carlos Graça.
O público chinês, disse, aprecia particularmente o marisco e também gosta dos pratos com caril. “Na gastronomia moçambicana temos uma fusão da cozinha portuguesa e indiana, temos um hábito de usar o pó de caril e temos as feijoadas de Portugal, esses gostinhos todos misturados fazem a nossa comida”, sublinhou.
Fonte: pontofinalmacau.wordpress.com
Entretanto, a festa começou no dia 16, com a presença dos diversos representantes dos Órgãos de Comunicação Social locais, de língua Portuguesa, Chinesa e Inglesa, com a prova de alguns dos pratos confecionados pelo Chef Carlos Graça.
Do Império do Meio ao exotismo africano
República Popular da China, Macau e República de Moçambique
Tal como em anos anteriores, a semana conta com a presença do Chef Carlos Graça, celebrando a ligação da China e de Macau a Moçambique.
Chef Carlos Graça e Carlos Barreto (vice-presidente da Associação dos Amigos de Moçambique de Macau)
Esta ligação recua até meados do século XIX quando os primeiros 30 imigrantes chineses, os “coolies” como eram designados, chegaram a Moçambique, provenientes da província de Guangdong (distritos de Sontak, Toi San, Zhong Shan) – 8 carpinteiros, 12 pedreiros, 4 ferreiros, 4 cobreiros e 2 picadores de pedra, deram início a um fluxo migratório.
A sua capacidade de trabalho levou-os a ter um desempenho importante na construção das linhas de caminho de ferro que ligaram Moçambique ao Zimbabwé e à África do Sul, nos finais do século XIX.
Esse número foi crescendo ao longo dos anos sendo cerca de 7 mil os chineses residentes em Moçambique, sem incluir os seus descendentes, em comunidades cada vez mais enraizadas, quer através de um envolvimento social mas também penetrando no tecido económico.
São disso exemplo, a partir do primeiro quartel do século XX, os inúmeros restaurantes, templos, clubes, escolas, destacando-se na Beira o Clube Chinês ou “Chee Kung Tong Club” (1922, também conhecido por Grémio), a Escola Chinesa (1950 onde se ensinava mandarim), o Clube Atlético Chinês (Tung Hua Atlhetic Club) e o estúdio de fotografia “Foto Estúdio” e em Lourenço Marques, agora Maputo, o Pagoda Chinês (1903), que daria origem a uma Escola Chinesa, mais tarde o Clube Chinês na baixa da cidade, o Dragão de Ouro, um restaurante chinês na marginal, na praia da Polana.
Com o tempo, alguns dos chineses deixaram a Beira e rumaram para o interior de Moçambique dedicando-se à agricultura.
Veja o vídeo com a História dos Chineses em Moçambique:
A República Popular da China apoiou a luta armada pela independência, reforçando-se a amizade entre os dois países, com reflexos no desenvolvimento do país nos anos mais recentes, consolidada na Associação da Comunidade Chinesa de Moçambique, na baixa do Maputo, dada a forte presença chinesa através de grupos económicos e investidores.
Em sentido inverso, e entre 1911 e os anos 60 os Landins, ou seja, os batalhões de soldados indígenas, estiveram presentes no quotidiano de Macau, ficando aquartelados em Mong-Ha e prestando serviço militar sobretudo no Posto Fronteiriço das Portas do Cerco.
Recentemente destaca-se a Associação dos Amigos de Moçambique que representa a comunidade moçambicana e apoia o Consulado-Geral de Moçambique em Macau na vertente cultural.
Esse intercâmbio de culturas e de povos que visitaram e se instalaram em Moçambique valorizaram a culinária tradicional de Moçambique, internacionalmente reconhecida pelos sabores e aromas que interagem com a simplicidade e riqueza dos produtos tradicionais.
E, embora a culinária chinesa fosse quase exclusiva da comunidade chinesa, os clubes e restaurantes chineses foram atraindo outra clientela de moçambicanos, sobretudo os de origem portuguesa, com alguns dos produtos básicos na alimentação tradicional dos indígenas – inhame, mandioca, amendoim, arroz – a funcionarem na culinária chinesa.
E é esta gastronomia tradicional que vai estar à disposição dos residentes e turistas de Macau no período de 17 a 26 de Junho, que poderá ser saboreada com sons e ritmos da música de Moçambique e vislumbrando as paradisíacas imagens do país.