A PROPÓSITO DE UM 24 DE JULHO, REMOTO E ESQUECIDO!
Por Vivaldo Quaresma
Uma eterna recordação lembra-me, todos os anos, que, hoje, era o dia da minha cidade!
O meu pai dizia que: “A nossa terra é onde nos sentimos bem!” e, à conta deste pensamento redutor, lá fui imaginando que aquela terra era também a minha terra, a nossa terra!
Nunca escondi as minhas origens de lisboeta pouco convicto pois, embora tivesse nascido e vivido na cidade de Lisboa, tinha a Benfeita (aldeia onde nasceu o meu pai) no coração, mas era ali que eu vivia e me sentia bem; logo, Moçambique era a minha terra!
Não nasci lá, mas, lá estudei, namorei, trabalhei e combati. Lá me tornei homem e aprendi a amar a vida com brancos, pretos, indianos e chineses, com palhotas, vivendas e prédios altos, sem nunca pensar que era melhor ou pior que alguém, ou que alguém fosse melhor ou pior que eu. Respeitando toda a gente, homens e mulheres, velhos e novos.
O dia 24 de Julho era dia feriado naquela terra. Era o dia da cidade. E a cidade chamava-se Lourenço Marques.
Era um dia com significado histórico importante para Moçambique e era, normalmente, um dia dedicado a actividades desportivas muito aproveitadas e exploradas pelo sector turístico.
Celebrava-se a data em que, no ano de 1875, o marechal Maurice Mac-Mahon proferiu uma sentença que devolvia a Portugal os territórios a sul de Lourenço Marques (Catembe, Maputo e Inhaca), cuja posse a Inglaterra reclamava.
…
Coisa “pouca”, de uma história com 100 anos, que eu apenas tinha decorado para repetir a quem tivesse interessado em saber.
Nesta altura, como nas férias da Páscoa e do Natal, ocorria a Festa Brava que atraia muitos turistas sul-africanos…
e era a altura das “bifas” desfilarem nas praias de Lourenço Marques, principalmente no Miramar,
que se situava a dois passos do Parque de Campismo e que, nestas alturas no ano ficava cheio.
Os jovens iam para lá “praticar o inglês”, verem as modas e divertirem-se…
Mas, para além das touradas, também havia outros eventos desportivos, como provas de atletismo,
jogos de futebol, basquetebol, hóquei em patins, patinagem artística, boxe e luta-livre.
Havia também, e não esquecendo, grandes camarões grelhados e galinha à cafreal, com sumo de limão e piripíri, cerveja geladinha e muitos sítios onde dançar, ver cinema e apanhar ar na marginal.
O 24 de Julho, de Lourenço Marques, ainda trás lembranças boas e inesquecíveis a muita gente, embora muitos já cá não estejam entre nós, para também connosco o celebrarem.
Em Lisboa, o dia 24 de Julho tinha outro significado porque se referia ao ano de 1833, que recordava as lutas entre liberais e absolutistas e comemorava a vitória do Duque da Terceira e das suas tropas, sobre os miguelistas…
Pois, passados tantos anos, o dia 24 de Julho que não é dia feriado, nem cá, nem lá, ainda é dia feriado no meu coração!
Vivaldo Quaresma – 24.07.2018
3 Comentários
Ivone Ferreira
Caro Vivaldo Quaresma, bom dia.
Tomei a liberdade de partilhar o link do seu blog e do artigo sobre o 24 de julho na minha página do facebook. Espero que não se importe. Caso assim aconteça, diga-me que retirarei de imediato. Sou moçambicana e gostei muito deste seu texto e das imagens que o acompanham.
Parabéns.
António Moreira
Cidade Loureço Marques, vivi lá desde Agosto 1966 a Dezembro de 1978, não esqueço o que um grande locutor da RR Sr. António Sala, esta Cidade conquista o coração 💔 de quem cá vive ou visita, conheço muitas cidades mas como esta com este Povo e avenidas, nunca vi igual, saudades 😞
Gina
Obrigada Vivaldo Quaresma!
Eu ja tinha comentado com o Bigslam a falta de lembranca de mencionar o dia 24 de Julho, dia da cidade onde nasci e passei grande parte da minha vida.
Agradeco o documentario que me fez doer o coracao de saudades, eu participava nos festejos da cidade com demonstracoes de ski aquatico no Clube Naval.
Gina Ferreira Fernandes