Conheça Renato Caldeira, o novo colaborador do BigSlam para a rubrica BLOGS
- Cronista autor de “Muanaxuabo” da secção BLOGS!
Breve história de vida:
- Renato António Caldeira, nasceu a 1 de Setembro de 1948, em Quelimane, onde fez a instrução primária e secundária.
- Em 1963 veio para L. Marques, onde passou a trabalhar como tipógrafo no então Diário de LM, estudando na Escola Industrial onde fez o curso noturno. A conselho de um professor acabou por fazer também o curso liceal.
- Foi praticante de Atletismo no Sporting L. Marques (SCLM) e Futebol no Belenenses L. Marques (CFB), no Ferroviário Inhambane (CFM) e no Sporting Tete (SCT).
- O “bichinho” do jornalismo desportivo começou em 1966, no extinto no Diário de LM. As crónicas desportivas eram feitas aos fins-de-semana entre os jogos de futebol no Belenenses e o atletismo no Sporting, sob orientação do Luiz Revez.
- Passou a profissional em 1984, no Notícias e em 1987, foi fundador e Diretor do 1º Jornal Desportivo nacional, o Desafio. Em 1994, fundou o Campeão, um jornal privado e 1º Jornal moçambicano a cores. Foi correspondente do Jornal A Bola de Portugal durante 20 anos.
- Em 2004, passou a fazer um programa de TV na STV, denominado “do Fundo do Meu Baú.
- Realizou viagens por África, Europa e Ásia, destacando a cobertura de 2 edições dos Jogos Olímpicos – Coreia do Sul em 1988 e Barcelona 1992. Jogos Africanos do Cairo 1993 e Mundiais de Atletismo em Portugal e Alemanha, em que Lurdes Mutola saiu vencedora.
- Foi Presidente da Associação de Atletismo de Maputo em 1978, Vice-Presidente da 1ª Comissão de Árbitros em 1981 e da Associação de Boxe em 1996.
- É autor da biografia de Mário Coluna, fez a história dos Mambas, Revista dos Jogos Africanos e “Os ensinamentos de Chiquinho Conde”, entre outras obras.
O Desporto nos Anos 60
O futebol nos anos 60, era uma loucura. Nos bairros, o destaque ia para a Mafalala e o Xipamanine, com tudo a culminar no “Xilunguine”. Ter acesso a um campo de futebol e poder ver estrelas como Abel Miglietti, Carlitos ou Mombaça, que tinham nível para entrar “de caras” nos chamados três grandes de Portugal, era quase um sonho.
Tinha eu 16 anos, provinciano recém-chegado de Quelimane, olhos e olhares esbugalhados perante o “néon” da Lourenço Marques de então. Comecei a jogar nos juniores do Belenenses, II divisão, que treinava no campo do Ferroviário na Baixa, às terças e quintas, das 21 às 23 horas. Jogávamos ao domingo de manhã.
Mas a minha paixão principal era pelo atletismo, em que treinava todos os fins de tarde, excepto aos sábados e domingos, em que aconteciam as provas no Parque José Cabral [hoje, dos Continuadores] perto do Hotel Polana. E ainda estudava à noite, na Escola Industrial. Uma vida bem preenchida!
Jornalismo: “paredes-meias” com as corridas e pontapés
Ano de 1966. Vivia eu o desporto, no nervo e no sangue. Naquele tempo, dificilmente um jovem praticava uma só modalidade. Eu não era excepção.
Porém, havia que dar prioridade à profissão de tipógrafo.
Mesmo assim, como produto de alguma irreverência, surgiu um outro “bichinho”: escrever para o desaparecido Diário de Lourenço Marques, jornal que ficava ao lado da Sé Catedral. Fazia pequenas crónicas dos jogos das II e III divisões, mais as partidas de juniores. O “salário”? Um cartão de livre-trânsito que me permitia assistir a todas as competições desportivas. Assim, esmerava-me, era assíduo porque ao possuir um “livre-trânsito” até me considerava bem remunerado. Saía do Bairro de Chamanculo, com amigos e era o único que não tinha que aguentar filas e empurrões nos portões.
Crescer e aparecer
Entrar na Redacção do Diário de Lourenço Marques e beneficiar de uma secretária para rabiscar as minhas croniquetas sem eu ter a cor “adequada” de então, era na altura uma aventura. Uma raridade.
Recordo-me que no dia 29 de Junho de 1968, fui indigitado para cobrir um combate de boxe para o título mundial, realizado na Praça de Touros, engalanada, entre um norte-americano negro chamado Curtis Cokes e o sul-africano Willie Ludick, de raça branca, combate que veio para Lourenço Marques por causa do apartheid na vizinha África do Sul. Com o meu melhor fatinho, lá me sentei numa das cadeiras da primeira fila para reportar o autêntico massacre que o americano infligiu ao nosso vizinho, num combate que acabou no terceiro assalto. No dia seguinte, já como espectador, vivi as emoções do Portugal-Brasil na inauguração do Estádio Salazar na Machava. Foi assim que o bichinho entrou, para ficar, já lá vão 50 anos.
Um atleta mediano
O ambiente no atletismo do Sporting era excepcional.
A rivalidade era face ao Desportivo e ao Ferroviário. Nos “leões”, a fraternidade entre atletas masculinos e femininos era a razão principal da minha assiduidade. Lucrécia Cumba, Abdul Ismail, António Fernandes, Magid Osman e outros, eram as estrelas treinadas por Luís Revez, técnico recentemente falecido.
Da minha parte, com marcas modestas, a paixão pela corrida proporcionava-me grande vantagem no futebol.
No desporto-rei, sem ter tido uma carreira brilhante, joguei no Belenenses dos juniores aos seniores, actuando a defesa central, de 1965 a 1969. Era considerado pendular, ao ponto de ter sido “namorado” pela Académica de Coimbra, na sua digressão por Moçambique no final da década 60.
Seguiu-se uma temporada no Ferroviário de Inhambane em 1970 e no ano seguinte no Sporting de Tete, sempre como titular e campeão nos então dois distritos.
Curta, mas apaixonada, foi a carreira deste escriba, que subalternizou o desporto, primeiro pela gráfica, abraçando, com paixão, poucos anos mais tarde o jornalismo como profissão, até aos dias de hoje.
Crónica da autoria do jornalista Renato Caldeira, reproduzida com vénia d’O País, jornal publicado em Maputo, na edição de 29 de Novembro de 2018.
6 Comentários
César Freitas
Procuro há algum tempo a Biografia do Mário Coluna, lançada em 2003, infelizmente apenas em Maputo. Há alguma forma de a conseguir obter em Portugal?
Manuel Martins Terra
O Bigslam conseguiu no mercado da Primavera, uma excelente aquisição,sabendo nós que o Renato Caldeira é um excelente jornalista que começou numa boa escola que era na época o Diário de LM, que dava grande destaque ao desporto. O Renato Caldeira, tem uma visão como poucos, uma vez que conheceu o desporto moçambicano antes e depois da Independência de Moçambique. Que seja bem- vindo ao nosso Ponto de Encontro, e felicidades para o seu trabalho.
Chyttollo Boy
Sempre gostei de ler os textos deste
ABM
Benvindo. ABM
Tocha
Muanaxuabo, parabéns de outro muanaxuabo (mais cocuana 4 anos) e boa colaboração no Bigslam.
fer.martins@live.com.pt
Manaxuabo parabéns y muita e boa colaboração abc