Faleceu o “Velho Capitão” – Mário Wilson, um moçambicano que fez história no futebol nacional
Mário Wilson (17.10.1929 – 03.10.2016)
Neto de um americano e de uma princesa moçambicana, Mário Wilson nasceu para o futebol de pé descalço nas ruas da colonial Lourenço Marques (actual Maputo).
De estatura alta, de porte físico assinalável, a entrada no desporto fez-se pelo basquetebol e atletismo em Lourenço Marques (Maputo) mas será no futebol que imortalizará o nome. Não tanto nos primeiros pontapés dados em Moçambique, no Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica, mas sim quando abraça o profissionalismo à chegada a Lisboa, aos 19 anos, para representar o Sporting Clube de Portugal e para substituir a lenda dos “Cinco Violinos” Fernando Peyroteo.
Durou cerca de um mês a viagem que trouxe Mário Wilson de Moçambique para Lisboa. A bordo do Mouzinho de Albuquerque, o jovem de 19 anos, deixava para trás o Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica, para alinhar ao serviço dos “leões”.
Um passo de gigante para o neto do comerciante Henry Wilson, que um dia também cruzou o oceano para encontrar na Catembe o amor da sua vida, no rosto da filha de um dos primeiros régulos (chefes tribais) da região. O jovem Wilson iria também entrar na aristocracia sportinguista, onde teria a missão de suceder ao “rei” Peyroteu, o mais brilhante dos “cinco violinos”.
Não se dá nada mal: em duas épocas de “leão” ao peito, 40 jogos, 38 golos, sagrando-se campeão nacional no segundo ano (1950-51).
Sporting Clube Portugal (SCP) – Época de 1950/51
Campeão Nacional
Avançado de raiz, muda-se para Coimbra, deixando, de vez, de jogar de costas a passa a jogar de frente para a bola. Nasce o central Mário Wilson que em Coimbra ganha o epíteto “o Velho Capitão”. Na cidade banhada pelo Mondego permanece como jogador 12 anos.
Em Coimbra, irá igualmente despertar para a política, inspirado pelo ambiente subversivo contra o regime ditatorial que se respira na cidade estudantil. Partilhará a mesma República estudantil com Almeida Santos, o já falecido ex-presidente da Assembleia da República, mas também priva com grandes figuras dos movimentos independentistas das antigas colónias africanas portuguesas, como já havia acontecido na capital, onde aprofundou uma íntima amizade com Agostinho Neto, com quem partilha casa.
Pendura as chuteiras na temporada de 1962-63, mas salta para o banco da Académica, como técnico-adjunto de José Maria Pedroto. Adorado por jogadores, seduzidos pela sua voz de comando, numa espécie de “golpe palaciano” substitui, em 1964, Pedroto no cargo de treinador principal, mantendo com este, desde então, uma relação conflituosa.
Viveu momentos de glória à frente da “Briosa”, com quem se sagra vice-campeão nacional na época de 1966-67, algo inédito na história do clube.
Académica de Coimbra -Época de 1966/67
Vice-Campeão Nacional
Em cima: Mário Wilson (treinador), Maló, Marques, Curado, Gervásio, Celestino, Rui Rodrigues, Pascoal (massagista).
Em baixo: Crispim, Ernesto, Artur Jorge, Vítor Campos e Rocha. Outro jogador muito utilizado: Serafim
O Benfica, o outro grande amor confesso de Mário Wilson, surge no percurso do treinador em 1975, aos 46 anos. Ao serviço das “águias” será o primeiro treinador português a ser campeão, logo na época de estreia.
Benfica (SLB) – Época de 1975/76
Campeão Nacional
Irá regressar inúmeras vezes ao banco “encarnado”, como “bombeiro de serviço”, conquistando a Taça de Portugal em 1979-80 e 1995-96.
Entre os inúmeros jogadores que lançou estão Álvaro Magalhães e Pedro Henriques. Duas gerações diferentes de futebolistas, mas o mesmo carinho pelo “mister Wilson”. “Conheci-o com 19 anos na Académica e foi ele que me ensinou valores como educação, disciplina e equilíbrio. Fora de campo era um amigo. Foi o melhor treinador que tive em termos humanos”, lembra o agora também treinador Álvaro Magalhães.
“Era um homem com um discurso empolgante, tanto nas galas como nos treinos”, garante Pedro Henriques, agora comentador desportivo: “Nos anos em que o Benfica atravessava períodos de crise, só ele nos fazia ficar contentes. Era uma maravilha.”
Para recordar, um discurso de Mário Wilson na gala do Benfica, onde se reconhecem na plateia outros símbolos do futebol nacional – Eusébio e Coluna.
A 13 de Julho de 1990 foi feito Comendador da Ordem do Mérito.
Em maio de 2012 o Velho Capitão, como é carinhosamente conhecido Mário Wilson, apresentou a sua biografia Mário Wilson o velho capitão, da autoria de Carlos Rias.
Foi nomeado em 2013 Sócio Honorário do MIL: Movimento Internacional Lusófono.
Morreu nesta segunda-feira aos 86 anos, na sequência de uma pneumonia. Ainda não são conhecidos detalhes em relação às cerimónias fúnebres, mas as reacções à sua morte tiveram um denominador comum: admiração!
Fonte: www.publico.pt e www.sapo.pt
2 Comentários
Paulo Craveiro
Um senhor admirável!
Um símbolo imponente!
Um capitão grande!
Dois amores, AAC e SLB!
Dois países, Moçambique e Portugal!
A plena unanimidade, por consenso geral, um distinto e virtuoso ser humano!
Wanda Serra
R I P MARIO WILSON
WANDA SERRA