Mia Couto lança “A Espada e a Azagaia”, uma história de amor em tempo de guerra
“A Espada e a Azagaia” é a mais recente obra do escritor moçambicano Mia Couto lançada recentemente na capital moçambicana, que constitui o segundo volume da trilogia “As Areias do Imperador” depois de no ano passado ter lançado “Mulheres de Cinza”.
O novo romance de Mia Couto, nos sugere uma história de amor entre uma jovem negra nativa e um sargento português que recebeu uma missão para trabalhar em Moçambique no tempo de guerra nas proximidades do império de Gaza, um dos mais vastos reinos da história de Moçambique.
O livro propõe um recuo aos últimos dias do Império de Gaza onde numa mistura de raças, tradições, guerras, amores e desamores, a história se desenrola cruzando as versões de uma história contada por “vencedores e vencidos”.
Sara Jona, a quem coube a apresentação do livro, fez referência ao ano de 2009 em que “o autor entra profundamente para o romance histórico”. Para Jona “esta obra é um convite à humanidade, para que possamos reflectir nas nossas relações como seres humanos, sem qualquer distinção” e, sugere que “é preciso fazer-se os cruzamentos dos factos aqui disponibilizados em ambos lados para permitir que se possam reconstituir a história de uma forma plural”.
Na mesma obra, o autor faz referência a uma personagem mítica que por muitos anos governou o famoso Império de Gaza, Ngungunyane, cuja sua morte sucedeu em território português, concretamente nos Açores em 1906.
Gungunhana em 1891
Enquanto escrevia “A Espada e a Azagaia”, Mia Couto conta que visitou os Açores e quis estar onde viveu e morreu Ngungunhane e mais três prisioneiros africanos e, percebeu que a ideia de africanos deportados que “fizerem lá as suas vidas” mostra que há muito mais em comum entre as duas realidades, que o cruzamento das histórias dos dois povos é um elemento peculiar e merece a devida atenção.
– No fundo, apesar de estar escrita aqui uma história de guerra, esta é uma história de amor – acrescentou o autor.
Com 31 anos de carreira, Mia Couto é autor de igual número de livros, entre poesia e romances, que mereceram diversos prémios nacionais e internacionais, entre os quais o Prémio Camões 2013.
Fonte: Conexão lusófona
2 Comentários
Carlos Hidalgo Pinto
Mia Couto acrescenta uma perspectiva interessante sobre um outro tempo, elucidando o leitor sobre outras dimensões da vida real e neste caso, de duas personagens que, à partida, não teriam a mesma dialéctica do quotidiano. Ao investigar e demandar informação sobre um acontecimento histórico, encontra duas figuras de um drama algo diferentes, mas com um denominador comum que é o amoroso. A sua procura de dados relacionados com os descendentes do Imperador Gungunhana, aponta para a necessidade de se ir ao encontro das emoções e sentimentos de alguém que também busca algo relacionado com a sua identidade. A procura de factos, dados sobre os antepassados, conduz-nos muitas vezes a outros territórios e linguagens e o contributo de um escritor como Mia Couto, é essencial para a aproximação das realidades dos dois povos.
João Passos Viana
Um dos melhores escritores mundiais