Recordando a opinião de Mário Albuquerque sobre Carlos Lisboa
Em Moçambique
Que me lembre vi-o pela primeira vez no torneio da Coca-Cola em Minibasquete onde ainda franzino já denotava grande desenvoltura técnica
Nos fins de semana era costume a família do Basquete reunir-se para assistir aos jogos de miúdos, até porque os treinadores eram quase que exclusivamente jogadores de escalões etários superiores e por conseguinte nossos amigos.
Um dos treinadores que pontificavam na altura era o meu companheiro de equipa de Seniores João Morais que após um jogo de Juvenis B me veio pedir opinião sobre a sua equipa. Disse-lhe na altura que depois de ter visto antes os Juvenis A actuar não percebia porque é que o “melhor” jogava na equipa B. O Morais retorquiu-me que era um problema de idade e que por o tal jogador ser ainda muito fraco, não achava oportuno que ele jogasse nos matulões, alguns dos quais com mais 2 anos de idade, o que naquela altura se notava bastante em termos físicos. Com estes argumentos fiquei convencido, e prontifiquei-me, a seu pedido, a acompanhar ambas as suas equipas e dar opinião sempre que para tal fosse solicitado.
Época 1971/72 – Iniciados Sporting LM (SCLM)
• Vice-Campeão Distrital L. Marques
Em cima: Armando Santos, Carlos Lisboa, Rui Redondo, João Morais (Treinador), Luís Leite e Luís Piçarra.
Em baixo: Fernando Vaz “Espinha”, Paulo Prudêncio “Paulinho”, João Paulo Vaz “Papinha” e Rolando Vanzeller.
Claro que estávamos a falar do Carlos Lisboa.
Do João Morais como homem e treinador atesta o facto de ter ajudado um número muito grande de jogadores que singraram no basquetebol, mas sobretudo na vida, tendo, hoje, em cada um deles um amigo.
Dessa altura recordo-me de um episódio que passo a recordar:
O Lisboa depois de ver um jogo no Sábado à noite em que eu fiz determinada finta, aplicou a mesma receita, “pôr a bola atrás da cabeça do defensor” e foi-lhe aplicada uma falta técnica por desrespeito do adversário, ao que argumentou que a mim não me tinha sucedido nada.
Disseram-me na altura que ele jogava com o meu número “12” porque era meu fã. Mal sabíamos nós que mais tarde eu seria seu fã.
Em Portugal
Em 1975/76 depois da vinda para Portugal encontrei-o no Metro em Lisboa e perguntei-lhe se estava a jogar e aonde, respondeu-me timidamente que estava no Benfica, nos juniores, onde estavam amigos dele, como o filho do Dr. Vaz, mas que era muito pouco utilizado. Respondi-lhe que fosse no dia seguinte às 17 horas ao Sporting e falasse com o Rui Pinheiro, que era o treinador dos Juniores. Chegado a casa telefonei ao Rui, ainda não havia essa modernice dos telemóveis, e disse-lhe: vai aí um miúdo para a tua equipa. O Rui pôs algumas reticências, que a época ia começar, que a equipa já estava formada, etc… OK disse-lhe eu, experimenta-o e depois diz qualquer coisa. O Rui telefonou-me depois do treino e disse-me: é ele e mais 4.
No ano seguinte manifestei, como treinador sénior do Sporting vontade de subir o Lisboa ainda com idade de júnior, 17 anos.
O Lisboa “defendeu-se” com unhas e dentes e argumentou em abundância contra aquele meu desejo. Entre a vasta panóplia de argumentos houve um de que me lembro perfeitamente, ele era de opinião que depois na equipa principal do clube não ia jogar pois éramos os campeões e ia ser muito difícil. Eu era treinador e jogador e respondi-lhe que isso era um problema meu, mas só que tinha que mudar de número pois o 12 era meu. Ele lá anuiu e no primeiro jogo, em Setúbal, quando anunciei o 5 base, onde o incluía, a sua cara de espanto ainda hoje me faz rir. Ele escolheu o 7 e depois foi o que se viu.
Daí para a frente a situação foi semelhante a um conhecido treinador do Eusébio, ainda no Sporting de Lourenço Marques, que indagado, jornalisticamente, qual era a equipa inicial para determinado jogo, de futebol pois claro, respondeu: olhe, vou dar a camisola nº 10 ao Eusébio, as outras atiro ao ar, quem apanhar uma, joga.
Época 1981/82 – Seniores do Sporting Clube Portugal (SCP)
• Campeão Nacional
Em cima: Mário Albuquerque (Treinador); Jorge Taborda; Mike Carter (Norte Americano); Israel Andrade (Brasileiro); Rui Pinheiro; Hélder Silva e Tomané Alves (Treinador-adjunto).
Em baixo: Carlos Lisboa; Nuno Carvalho; Carlos Lima “Xixa”; Augusto Baganha e João Cardoso.
Nota: Nesta equipa (treinadores e jogadores) havia 8 “moçambicanos”, 2 “continentais” e 2 “estrangeiros”.
Eu sei que o Carlos nutre por mim um carinho especial por ter sido o seu exemplo e quem lhe abriu a porta da alta competição, segundo o seu pai, o saudoso SENHOR Lisboa Santos, com quem eu adorava conversar, mas tenho consciência que essa prematura abertura só a fiz para salvar a integridade da referida porta.
Numa apreciação às suas características técnicas e físicas considero que havia quem corresse mais que ele, quem saltasse mais, quem lançasse melhor, fazer as três coisas ao mesmo tempo é que não. Nem sequer perto. Os outros gastavam “Normal” e ele “Super” com muitas octanas. Lembro-me que nos testes físicos e sempre que eram puras corridas o Lisboa era ultrapassado por dois ou três companheiros, mas no exercício vulgarmente conhecido por “suicídio” que consiste em correr, parar, mudar de sentido arrancar e voltar ao mesmo, o Lisboa ganhava de costas.
Como o Basquete é um desporto baseado em esforços muito intensos e de curta duração, o Lisboa estava como peixe na água. Tudo isso somado a um “mau perder” no bom sentido e eis o grande Carlos.
Não gosto de comparar jogadores de gerações diferentes porque as condições também são diferentes, mas penso que o Lisboa foi dos jogadores portugueses aquele que jogou num patamar superior em termos de disponibilidade física aliada a uma grande capacidade técnica e a uma vontade inquebrantável de vencer.
Era um vencedor nato e a sua carreira atesta-o exuberantemente.
- Sporting CP
- Campeonato Nacional (3): (1977-78, 1980-81, 1981-82)
- Taça de Portugal (2): (1977-78, 1979-80)
- CA Queluz
- Campeonato Nacional: (1983-1984)
- Taça de Portugal: (1982-1983)
- SL Benfica
- Campeonato Nacional (10): (1984-85, 1985-86, 1986-87, 1988-89, 1989-90, 1990-91, 1991-92, 1992-93, 1993-94, 1994-95)
- Taça de Portugal (5): (1991-92, 1992-93, 1993-94, 1994-95, 1995-96)
- Taça da Liga (5): (1991-92, 1992-93, 1993-94, 1994-95, 1995-96)
- Supertaça (6): (1985, 1989, 1991, 1994, 1995, 1996)
Quem tivesse o Carlos Lisboa na equipa tinha mais um “americano” que os outros.
É um prazer ser seu amigo e seu fã incondicional.
Um abraço do Mário Albuquerque
- Nota do BigSlam: Homenagem simbólica do BigSlam ao Carlos Lisboa, no dia em que comemora o seu 62º aniversário. Parabéns!
11 Comentários
jose nascimento
Foi meu adversário em júnior ele no Sporting e eu no Atlético Clube de Portugal, fase de apuramento para o nacional e não foi simpático comigo nesse jogo ( mau perder?) mas tive sempre uma grande admiração como jogador considerando como o melhor da minha geração, o Mário tive o privilégio de jogar na mesma equipa um senhor como pessoa e um ídolo como desportista, abraço ao Mário e parabéns ao Lisboa e conte muitos durante muitos anos. Lisboa deu muitas alegrias e momentos á comunidade basquetebolista OBRIGADO.
Carloa lima
Parabens ao carlos mesmo de longe
Privei durante anoa com ele quase 24 hrs do dia e passados tantos anos tenho um orgulho muito grande por esses tempos tanto pela amizade que tinhamos como pela admiracao que tinha por ele como jogador
Para o mario tambem pela admiracao como jogador como pelo homem ( mario foi meu treinador quando fomos campeoes )
Para mim os dois estiveram sempre um pequeno passo a frente de outros grandes e excepcionais jogadors originarios desta grande terra
Obrigado aos dois por este legado e terem enriquecido o basket
Manuel Martins Terra
Mário Albuquerque e Carlos Lisboa, quiçá os dois maiores valores do basquetebol, primeiro em Moçambique e depois em Portugal. Como é gratificante registar os elogios do Mário ao seu delfim, Carlos. Acompanhei de perto em LM, a carreira do Carlos Lisboa, desde os tempos dos inesquecíveis torneios de Minibasquetebol e mais tarde os primeiros jogos nos escalões de formação do SCLM. Já se advinhava que estavamos na presença de um verdadeiro craque. O melhor que eu vi a lançar de meia distância, só seguido de perto pelo saudoso Quen Guy, Parabéns ao Carlos Lisboa pela comemoração do seu 62* aniversário e que continue a somar muitos mais
Fernando Machado Almeida
Muitos parabéns. Conheci os 2.Eram jogadores do outro mundo
hoje 24 de Julho era o dia de Lourenço Marques. E era também o dia de aniversário do meu pai já falecido.
Jorge Taborda
Parabéns Carlos que se repita por muitos anos
Dois senhores do nosso basquete, com quem muito aprendi. um abraço aos dois
já agora, corrijam na legenda do Sporting campeão nacional, o nome de Fernando Taborda para Jorge
Tomané Alves
Antes do mais os Parabéns ao Carlitos. Felicidades e muita Saúde! Os Parabéns ao Mário pelo texto que um dia devia ser feito e nada melhor do que ser feito por quem o fez. Por tudo o que representou para o Carlitos, só podia ser o MA a dizer o que disse, no que considero ser muito mais que uma opinião. É uma homenagem de Campeão para Campeão! Em tempos algo diferentes, mas que ainda foram a tempo de se intersectarem, deu para uma passagem de testemunho directa. Dois (2) tremendos Campeões, dois TOP do Basket Português que se imortalizaram entre os melhores para uns, como os melhores para outros. De comum “os melhores”!
O Carlitos, era assim que era tratado pela “malta” da J. Serrão/Dadores de Sangue, nas brincadeiras de “rua” de todos, desde os da idade dele 5/6 anos, ou mais novos ainda, até aos mais velhos como eu com 10/11. Depois os Pais mudaram-se e redescobri-o no SCLM. O resto é a história real e bonita contada pelo MA, incluindo tudo sobre as suas capacidades técnicas e físicas. Reportando ao passado, apenas acrescento: o CL foi sempre um atleta altamente competitivo e rotativo, nos treinos e nos jogos! Na derrota (foram poucas) ficava “intragável” e duradouramente “intragável”! Por fim, na época 1980/81 (a penúltima do 1º encerramento da secção do SCP), retenho do seu “pico” (explosão), a “imagem” de um exercício de corrida na pista de tartan em que tínhamos de nos sentar ao apito do treinador e tínhamos de nos levantar (reagir) ao 2º apito; nesse 2º apito já o CL estava a correr ainda o resto do grupo estava a levantar-se! Sintómático! Por isso ou por outras, o Prof. Moniz Pereira queria levá-lo para o Atletismo! Abraço ao Carlitos e ao Mário
Tomané Alves
Grande Jorge Taborda, um Campeão(zão) de 1981/82. E eis uma boa oportunidade de te mandar um forte Abraço
Castor
Admirei Carlos Lisboa como um dos melhores jogadores de sempre do basquete português, como pessoa, aquela atitude no final de um Porto-Benfica em que este se sagrou campeão, em nada o dignificou, mostrou a verdadeira imagem de desportista, quem viu certamente que jamais esquecerá.
Armando Duque
Parabens Carlos Lisboa, narrado por um SENHOR que continua a mostrar que tinha muita classe como jogador a continua nessa mesma veia como pessoa. Parabens aos dois.
Vasco Sousa
Joguei contra o Carlos no mini-basquete torneio da Coca Cola e nos juvenis em LM.
eu jogava no Desportivo e apesar de nessa altura ja ser um bom jogador tornou-se num craque.
Sem tirar demerito a ninguem na minha opinião foi o melhor basquetebolista Portugues de sempre.
parabens e felicidades
José Luciano André
Felizmente o nosso amigo Carlos Lisboa ainda está por cá. Assim, continuaremos a recorda-lo, muito embora com mais uns “anitos”. Votos sinceros que continuem com as maiores felicidades, sobretudo com muita e boa saúde. Abraços e tudo de bom meu amigo.