UMA NOVA AGÊNCIA! GOLO … 60 anos! Homenagem de Thiago Fonseca

UMA NOVA AGÊNCIA!

Por Thiago Fonseca

Em Maio nasceu uma nova Agência.

Mas não foi neste Maio.

Foi há sessenta anos atrás.

A nova Agência foi fundada em Moçambique no dia 3 de Maio de 1957, por António Alves da Fonseca que a chamou de GOLO.

Técnico de rádio, o meio mais forte dessa altura, a GOLO transmitiu os primeiros relatos ao vivo e fez parar a cidade.

A empresa passou a ser conhecida como Produções GOLO.

Logo depois juntou-se a ele uma pessoa com quem ele já estava junto. A Flávia.

A Dona Flávia é dona de vários talentos. Um talento nato para escrever, para as artes e um dom maior ainda para a liderança.

Juntou-se a combinação perfeita.
O talento para os negócios, comunicação e um excelente public relations, do António com o talento de uma grande líder e copywriter.

Os dois não sonharam com sucesso.

Trabalharam para isso.

Ainda não era nascido. Mas sei disso porque ainda hoje o fazem com toda a força que tem.

Lidera-se dando o exemplo. Com trabalho. Essa é a maior forma de liderança.

As produções GOLO começaram a produzir conteúdos para anunciantes, muito antes do termo Content Marketing existir. Na rádio programas como o Bomdiazinho, Domingo Alegre, Extensão Dez, Encontro às Dez, Guiando e Ouvindo Música ocupavam o tempo de antena, lideravam audiências e a atenção de milhões em todo o Moçambique.

Programas em directo tinham passatempos e davam prémios. Faziam há meio século atrás o que hoje se chama consumer engagement no marketing.

Como copywriter, a Flávia escreveu spots icónicos que passavam no intervalo desses programas que ficaram na memória de muitos.
Como o da Skol: “Sede, secura, Skol, Sucede sempre assim”.

O António trouxe a sua experiência da rádio e produzia os jingles.

Anúncio após anúncio, programa após programa, a GOLO foi crescendo.

Tornou-se uma Agência de publicidade de serviço completo.

Criava e produzia para todos os meios.

No início da década de 70 a GOLO tinha mais de 70 funcionários e já era a maior Agência a operar. Atendia contas de marcas locais famosas como a Laurentina e depois a 2M entre muitas outras.

Uma Agência moçambicana.

Das qualidades que mais admiro na Flávia e no António, destaco a integridade e o carácter como as mais importantes.

O António enfrentou vários desafios.

Lutou pela igualdade de oportunidades num Moçambique colonial onde confrontou o sistema da altura e o racismo.

Um dos episódios foi quando descobriu um jovem locutor, uma voz muito talentosa que foi reprovada da rádio por não ser de raça branca. O António não desistiu enquanto ele não fosse aceite. Essa voz era a do João de Sousa. Uma das principais figuras da rádio e da comunicação hoje.

O António gravou nos estúdios da GOLO o primeiro disco da Marrabenta do então jovem e desconhecido António Marcos.

Gravou inúmeros outros artistas locais como o Pedro Ben e Fernando Luis.

A Agência já era moçambicana antes de Moçambique ser País.

A GOLO fazia história enquanto a história fazia a GOLO.

Em 1975 chegou finalmente a Independência e com ela, mudanças inevitáveis.

Milhares de pessoas pegaram nas malas e foram para Portugal e outros Países.

Mas não a Flávia e o António.

Os dois, nascidos aqui, foi natural para eles ficar. Afinal são naturais de Moçambique.

Continuaram a trabalhar na GOLO até 1977 altura em que foi proibida a publicidade. Moçambique era um País socialista e o novo governo criou uma única Agência. A DNPP. Direcção Nacional de Propaganda e Publicidade.

O António continuou na Rádio Moçambique onde exerceu funções de Direcção.

A Flávia, redactora e escritora, foi transmitir o que melhor sabia, nas escolas públicas como professora de Português. Ensinou a ler e escrever várias gerações que hoje ocupam lugares de destaque na sociedade moçambicana.

Mesmo nessa altura não parou de ser copywriter. Fez campanhas de responsabilidade social e escreveu vários anúncios como o famoso “Sem água não há vida.” Que passava diariamente na rádio nos anos 80.

Destaco a humildade e a capacidade de mudança como outras duas características mais nobres que admiro neles.

Uma nova Agência de novo.

Em 1986, quando se deu o P.R.E., o programa de reabilitação económica, Moçambique iniciou uma nova mudança para a economia livre de mercado. E por consequência a necessidade novamente de empresas e marcas anunciarem para competir.

Com a reviravolta voltava a publicidade novamente.

Sem assim o terem escolhido, ou mesmo decidido a GOLO renasceu.

O António começou a ser contactado por clientes que precisavam de anúncios, campanhas. Como a Pescom, a Loumar, Johnson & Johnson e outros.

A Flávia ensinava a ler e a escrever durante o dia e escrevia anúncios de noite.

Foi ela quem escreveu o slogan para os sumos Loumar. “O refresco do seu paladar”.

Esta fase eu vi e testemunhei.
Vi como trabalhavam dia e noite até à exaustão para atender a demanda crescente.

Trabalhadores da GOLO mais antiga juntaram-se a eles um de cada vez. A Agência em 1990 operava em casa da Flávia e do António. E novos profissionais vieram trabalhar na nova GOLO.

Quando o primeiro Macintosh foi criado, a GOLO tinha um para fazer Design Gráfico.

Sempre atentos às mudanças e evoluções começaram a anunciar num novo meio. A televisão.

Foi nesse ano que comecei a trabalhar e a aprender com eles.

Vi sobretudo que era muito mais que um trabalho. É uma paixão.

É sábio o ditado que diz:

Escolhe uma profissão que gostes e não terás de trabalhar um único dia da tua vida.”

A Flávia e o António são os Pais da publicidade moçambicana.

Hoje dentro e fora de Moçambique, em várias Agências, empresas, departamentos de marketing e meios trabalham gerações que nasceram e passaram pela GOLO.

A Flávia não parou de brilhar como copywriter. Entre muitos trabalhos, foi ela quem criou o nome Jeito para a maior marca de preservativos moçambicana. Foi ela quem escreveu o nome giro para a mcel, hoje sinónimo do pré-pago.

A Agência voltou a crescer e a ocupar a posição de líder mais uma vez.

A experiência da Flávia e do António foi transmitida aos mais novos num mercado onde não havia ainda universidades de comunicação.

A Agência era e ainda é uma escola.

Em 2017, sessenta anos depois, perto dos noventa anos de idade, os dois ainda vem trabalhar todos os dias de manhã e de tarde na Agência.

Activos e executivos na operação diária da Agência são sobretudo os mais importantes conselheiros que nos transmitem a o conhecimento e a sua experiência acumulada.

Carinhosamente tratados como Dona Flávia e Senhor Fonseca todas as semanas recebem velhos e novos amigos que os visitam para os cumprimentar e ouvir as histórias do Fonseca.

Seria impossível para mim contar os sessenta anos da GOLO e da história da Flávia e do António neste texto. Escrevo uma pequena parte daquilo que ouvi e vi.

Este texto é sobretudo uma homenagem à Flávia e ao António no mês em que a Agência que criaram faz sessenta anos.

É um agradecimento aos dois em nome de todos os trabalhadores e amigos da GOLO de hoje e do passado.

Mas mais importante que isso, agradeço em nome das futuras gerações de publicitários que virão.

O legado da Flávia e do António ecoará nos tempos, para sempre.

Mais do que tudo, a história da GOLO é uma história muito especial.

É uma história de amor.

Amor pela publicidade.

E de um pelo outro.

Texto do Thiago Fonseca, com a devida vénia, pelos 60 anos da “Golo”, que hoje se comemoram.

O BigSlam agradece ao João de Sousa a partilha deste texto.

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