Por um gato… será que têm feitiço?
É que eu também não gostava “deles!”
Sei que este post não se enquadra no âmbito de BigSlam. – Mas porque em 23Jan2018, vi no Facebook uma postagem do Manuel Pereira Batista sobre o falecimento do seu animal de companhia que motivou muitos comentários da “família do BigSlam”, – peço por isso, ao Samuel, o favor de publicar este meu tributo a todos, que passámos por esta situação!
“Sempre se disse que são os melhores amigos do Homem, mas a verdade é que os animais são também os melhores amigos da nossa saúde.…, são usados na detecção de doenças como a tuberculose, o cancro, a epilepsia e a diabetes e ainda nos ajudam a tratar problemas como a hiperatividade ou o autismo…..” Sara Sá na revista Visão de 15/06/2017.Lembrei-me da Paula “Coradinha”! Era assim tratada pelos colegas.
Foi uma aluna, a quem dei lições de matemática e geometria, há perto de 30 anos.
Morena, de cabelo curto, sempre alegre, com um ar jovial próprio dos seus 17 anos.
Certa manhã apareceu taciturna, triste e reservada.
Imaginei: – Noite mal dormida por “coisas de namoricos”!
– “O que se passa Paula! Dormiste mal?
– A minha gatinha morreu.” Disse-me com os olhos húmidos e a soluçar.
Esta agora! …Chorar por “coisa tão pouca”, pensei eu!!…. E logo agora!!… Com testes à “porta”; aparece-me com este imprevisto para lhe quebrar a concentração e o ritmo de aprendizagem!!…. Com umas palavras de circunstância tentei aliviar-lhe o sofrimento, mas sem muita convicção, porque eu até nem gostava de gatos!
Em verdade vos digo; que dos animais domésticos só tolerava a companhia dos cães. Já dos selvagens; gostava de os caçar! – E até no serviço militar, em Nampula, quando estava de “ronda à cidade”, trocava de turno, para à noite ter o prazer de ir à caça.
Há cerca de 16 anos, ao entrar em casa veio ter comigo, com um ar assustadiço, um gatito amarelo.
– Perguntei à minha esposa como é que ele apareceu?
– “Pergunta ao teu filho.
– Paulo, aonde foste buscar o gatito?
– Foi a mãe que, a meu pedido, o trouxe.”
Não posso crer!!… Só me faltava mais esta!!…Logo eu, que até nem gosto de gatos!
A princípio, embora se roçasse por mim, pouco lhe ligava. Mas ele insistia, e todos os dias por volta das seis e meia – ainda hoje não sei porquê! – ia ter comigo. Acordava-me com a patita, para o levar a comer.
Quando o meu filho foi viver com a companheira, o “Romrom”– nome de “baptismo”- tornou-se na nossa “sombra”! Era sempre o primeiro a dar as boas-vindas a quem chegava a casa! – De tal forma que, passado pouco tempo, dei comigo a falar com ele como se de um humano se tratasse! Nunca lhe faltou nada. Mesmo quando nos ausentávamos alguém diariamente o ia cuidar; informando-nos do seu estado.
Há mais de um ano começou a ficar doente. O período de vida de um gato é de 15 a 20 anos. Este estava nos 16! A médica veterinária que sempre o medicou, achou por bem interná-lo. Ao fim de três dias, os exames mostraram que tinha uma doença incurável. Disse-nos que quando piorasse e quiséssemos dava-lhe uma injecção letal. Tremi!. “Romrom” ia mesmo morrer! A minha esposa disse-lhe que só recorria a essa opção se o animal estivesse a sofrer em fase terminal. Enquanto pudesse ia viver no sítio aonde sempre esteve desde pequenino.
Há poucos dias, já só “pelo e osso”, fomos novamente à veterinária. Disse-nos que não havia nada a fazer! – Mesmo assim, veio novamente para casa passar o pouco tempo de vida que lhe restava.
Quando tristes, vínhamos no carro, dei comigo a pensar: – “Será que estes animais têm feitiço?? …. Ou será que quando os nossos filhos saem das nossas casas, e a solidão da sua falta nos consome, quase sempre procuramos apoio em algo que lhes foi querido?” – Se é isto! No nosso caso, esse apoio veio de um gato que com o seu olhar fixo, sem pestanejar, dizia-nos mais que mil palavras!
“O Romrom morreu neste primeiro mês do ano, com a minha esposa, inconsolável, abraçada a ele a chorar, “mais do que a Paula Coradinha”! – E eu; o caçador de outrora, hoje emendado, – com um lenço de papel a secar as lágrimas”… Por um gato que não queria!
É por isto que:
Hoje compreendo a Paula “Coradinha”!! … A minha casa está mais vazia.
Volto a referir o artigo da revista Visão:
“Há cada vez mais evidência científica de que o convívio com animais pode trazer benefícios à nossa saúde física e psicológica… Num estudo feito registou-se uma diminuição da pressão arterial naqueles que adoptaram um cão ou um gato….”.
Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa – 08.02.2018
5 Comentários
José Vasco Coelho
Alô João.
Mais uma bonita história de vida,com as consequências bem reais da perda de um ser com a sensibilidade única e indiscritivel de quem a vive.
Embora se saiba que esta é uma realidade, nunca estamos preparados para estas partidas.
Abraço.
Eduardo Serrano
Amigo João Costa.Estava a ler o teu artigo e a rever-me na tua situação pois comigo passou– se quase o mesmo.Havia cá em casa uma gata e duas cadelas.Hoje não temos animais,a gata morreu e as cadelas tiveram que ser abatidas hufff, mas nem por isso a minha mulher que adora gatos deixa de ter ração para os gatos dos vizinhos que por isso não nos largam a porta.
Um abraço
antonio miranda
João antes de mais os meus parabéns pelo teu artigo ! devo dizer-te que gosto muito de cães e mesmo sendo só caçador no prato tenho Três ! Tal como tu nunca gostei de gatos mas tu agora gostas e eu continuo sem gostar ! Quando estive na Austrália as miúdas quiseram um e eu acabei por anuir ,mas digo-te foi o pior que eu fiz pois o gato dava-nos cabo da cabeça ! Para além de estragar tudo e mais alguma coisa com aquelas unhas afiadas ,quando brincava com ele arranhava-me e mordia ,miava durante a noite para sair de casa ,depois miava para entrar e não deixava dormir ninguém ! Quando pensamos em mandar capá-lo,nunca mais o vimos, não sei se se foi embora ou se alguém o levou !
Pedro Veludo
O artigo é tocante. Nunca tive animais, mas sempre vivi rodeado de gente que os ama. Reparo que são pessoas a quem me parece os animais fazem bem. Que há uma troca proveitosa. Mas tenho mesmo muito pouca interação com bichos em geral.
Joaquim pitta gouveia
Só quem tem animais é que sabe a companhia que fazem e alegria destes bichos quando chegamos em casa.