9 de Maio de 1955… Samuel Munguambe Júnior “Yana”
Há quem não saiba porque é que Samuel Munguambe Júnior é conhecido por Yana. É simples. Ele tem o nome do pai. O Júnior, em dialecto é “papayana”, o que quer dizer “o papá mais pequeno”. Na terra onde ele nasceu havia a mania dos diminuitivos e portanto de “papayana” ficou a ser conhecido entre os seus amigos e familiares por Yana.
Ele é um homem de música. De gostos variados que percorrem vários estilos. Quando o entrevistei para o programa “Fio da Memória” recordo-me de ele ter dito que uma das primeiras músicas que ouviu (em 1959), no velho gramofone do seu pai, foi “Cindy” de Chuby Cheker.
Gostar de música e tocar vários instrumentos é coisa de família. Quem não se lembra do seu irmão Soeiro? O tal que tocou no “Diamante” e nos “Fantasmas” com o Jerry de Sousa (acho que ainda está na Manhiça), com o Pedro Cumaio e com o Joel Libombo, esse mesmo que foi Ministro da Juventude e dos Desportos deste País, e que na década de 60 foi relator desportivo em língua ronga, das Produções Golo, ao tempo do falecido Hassane Zubair.
Yana foi treinando em casa até que surgiu o dia da sua primeira apresentação pública a solo. Foi no Liceu António Enes, em 1958. Ele tocava harmónica. Foi o seu começo. Não parou mais. Até chegou a dar uns toques na bateria, que por sinal era do Joel Libombo.
Na Escola João de Deus, em 1968, juntamente com alguns dos seus colegas, forma o seu primeiro grupo. Um grupo que não tinha nome. Actuava em dias festivos na Escola, como por exemplo no 10 de Junho, 24 de Julho ou 5 de Outubro. Para além disso se fosse necessário tocava no grupo do seu irmão Soeiro. Era uma forma de ganhar uns trocados.
ESTUDAR MÚSICA
Em 1977 começa a estudar música. É nessa altura que grava o seu primeiro seven-single. Depois disso surgiu a “União Moçambicana de Cultura” e por essa via conseguiu gravar mais discos. Quando é criado o Ministério da Cultura foi convidado pelo poeta Rui Nogar a trabalhar naquela Instituição do Estado. Foi através desse Ministério que Yana beneficiou duma Bolsa de Estudos para a Coreia. Naquele País, onde permaneceu dois anos e meio, fez o curso de composição e regência de orquestras clássicas médias.
YANA E A MÚSICA INFANTIL
Em 1980 Yana verifica que na nosa Rádio não havia música infantil, ou melhor, havia uma música infantil demasiado politizada. As crianças cantavam os horrores da guerra, cantavam sobre o imperialismo, sobre o colonialismo, sobre coisas que nada tinham a ver com crianças. Tentando inverter este cenário Yana começa a compor música infantil A primeira composição chama-se “Quando vou à Escola”, e gravada pelo Eduardo Carimo.
Posteriormente recebeu um convite do Né Afonso, para trabalhar com Luisa Monteiro, que era um produtora de programas para crianças da RDP, e que trabalhou na Rádio Moçambique durante alguns anos. Na altura era colaborador apenas.
Sentiu que havia necessidade de se criar uma escola para ensinar as crianças que colaboravam com a Rádio. É assim que começa a dar aulas de música. E nesse processo os alunos aprenderam a tocar. Claro que no principio quem tocava era o Né Afonso e o Fernando Luis. As crianças eram apenas coristas. A ideia foi evoluindo a ponto de se conseguir fazer delas não só instrumentistas como também compositoras. Foi um trabalho aliciante que levou à formação de várias orquestras na Rádio Moçambique, tais como a feminina, a infantil, a juvenil e até a clássica.
YANA – UMA HISTÓRIA CONTADA POR IVAN MAIA
Quinta-feira 29 de Janeiro de 1981. O músico Samuel Munguambe Júnior, mais conhecido por Yana ou tio Yana, para nós nascidos nos finais dos anos 70, encontrava-se a conviver numa residência no bairro da Polana, perto da casa onde viveu John Marney, um inglês que foi seu colega no Instituto Nacional de Cultura (nas instalações onde funcionam actualmente a Escola Nacional de Música) e casado com a Karen, antiga flautista do grupo Ghorwane.
Encontravam-se também uns amigos sul-africanos, provavelmente ligados ao ANC, e que foram apresentados ao Yana por membros do Grupo Cultural “Amandla” em Maputo. Depois do convívio, por volta das 21 horas, regressou a casa, ao lado do Ministério do Interior e os sul-africanos seguiram viagem para a cidade da Matola, onde viviam.
Na madrugada do dia seguinte, 30 de Janeiro, a Rádio Moçambique anunciou um ataque, perpetrado por comandos “boers” sul-africanos, na Matola e do qual resultaram vítimas mortais. O músico soube que alguns que perderam a vida, tinham estado com ele no dia anterior nesse convívio. A música “Que Venham” foi composta nessa manhã.
Samuel Munguambe Júnior (Yana), cantor, compositor e professor de música, autor da célebre canção “Que Venham”, e um dos galardoados com a “Medalha de Mérito, Artes e Letras”, no âmbito dos 40 anos da Independência de Moçambique, nasceu no dia 9 de Maio de 1955.
Ele completa hoje os seus 65 anos de idade. Parabéns “papayana”. Que o trabalho que tens estado a desenvolver na arena musical, possa incutir nos mais jovens, o gosto pela arte de tocar, cantar, e porque não, reger uma orquestra.
João de Sousa – 09.05.2020
Um Comentário
José Luciano André Assunção
Um abraço meu querido amigo YANA recordado para sempre principalmente por tudo quanto tem feito em benefício de toda a sociedade. Muito anos de vida, meu querido amigo, que ao longo da mesma tenha a maior saúde, muita paz e muito amor.