SPORTING CLUBE DE LOURENÇO MARQUES (SCLM) – 3 de Maio de 1920
(data da fundação do clube)
As origens do Sporting Clube de Lourenço-Marques encontram-se em 1915, quando um grupo de estudantes do “Liceu 5 de Outubro” formaram uma equipa de futebol, a que decidiram chamar Sporting. A maioria desses alunos era adepto do Sporting Clube de Portugal. Esse grupo incluía Jorge Belo, Júlio Belo, José Agent, António Amorim, Manuel Dias, João Amorim, Abel Cardoso, Luís Cardoso, Luís Maria da Silva, João Carvalho, José Roque de Aguiar, e A. Gonçalves.
Este foi o núcleo que 5 anos depois, sendo o Sporting Clube de Lourenço Marques já um clube importante na região, decidiu legalizar o clube o que veio a acontecer a 3 de Maio de 1920. Rapidamente o Sporting de Lourenço Marques se tornou num dos mais importantes clubes desportivos de Moçambique, não se limitando ao futebol.
O Sporting Clube de Lourenço Marques teve ainda secções de Basquetebol;
de Hóquei em Patins;
de Atletismo; de Natação, que treinava na piscina dos Velhos Colonos, depois rebatizada de Piscina da associação de Natação de Maputo; de Tiro com uma carreira de tiro inaugurada em 1952, e de Judo.
Em Março de 1923 o Dr. Aurélio Galhardo encetou negociações com o clube moçambicano para que este se tornasse filial leonina. Assim, o Sporting Clube de Lourenço Marques tornou-se a Filial nº 6 do Sporting Clube de Portugal, e assim se manteve até 1975.
Após a independência de Moçambique, e na sequência de orientações superiores para a necessidade de mudança dos nomes das nossas agremiações desportivas, o Sporting retirou a designação “Lourenço Marques” e substituiu por “Maputo”. Depois vieram os ‘Leões da Gorongosa”. Dessa forma, como escreveu o meu colega Renato Caldeira, “mantinha-se o símbolo e a génese leonina”. A questão principal era mudar o nome devido à conotação que esse nome carregava, pois (parafraseando o Presidente Samora Machel) “não fazia sentido os clubes moçambicanos continuarem a ostentar designações dos colonizadores, ou de cariz tribal e religioso”. O Governo sempre foi contrário a mudanças cosméticas.
Entre Dezembro de 1981 e Fevereiro e 1982, o clube chamou-se “Asas de Moçambique”, designação que acabou por ser contestada pelo Governo.
A decisão de voltar a chamar-se “Maxaquene” (ao que me recordo a proposta foi apresentada pelo saudoso dirigente Domingos Moura) foi comunicada por Marcelino dos Santos, numa reunião realizada no Pavilhão do Clube, na presença de membros da Direcção e de um numeroso grupo de adeptos.
Como filial do Sporting Clube de Portugal o SCLM equipava de verde, branco e calção preto. As cores actuais do clube são diferentes e as do recinto são dum conhecido banco.
A MUDANÇA DO NOME VISTA POR ALBINO MAGAIA
A propósito da polémica levantada aquando da mudança dos nomes dos clubes, transcrevo, partes duma crónica intitulada “Do Asas ao Átomo” que o saudoso Albino Magaia escreveu para a revista TEMPO, no dia 24 de Janeiro de 1982. A página com as suas crónicas semanais tinha o título “KU LIMA”.
“Quando em 1979 foi lançada a orientação para a mudança dos nomes dos clubes por causa das conotações ideológicas que muitos deles tinham e ainda por causa da origem histórica de alguns, houve quem propusesse que o então Sporting se deveria passar a chamar “Leões” e o respectivo campo “Gorongosa”. Esta aberração deu brado, fez rir, ridicularizou-se. Como o clube foi integrado nas LAM, e desta empresa ganhou-lhe a vocação de voar, vai daí a chamar-se “Asas de Moçambique”.
Neste seu delicioso texto que acabei de rever agora, Albino Magaia imagina situações pelas quais eu poderia passar num relato de futebol, onde interviesse o “Asas de Moçambique”. E vai mais longe. “Consta que um outro dos actuais grandes clubes que já foi integrado numa empresa, também vai mudar de nome. Porque essa empresa tem algo a ver com correntes eléctricas, dínamos e outras coisas que tais, diz-se que o clube em questão vai passar a chamar-se “Dínamos”. Aí outros amantes das palavras de significado preciso returquem que não. Dínamos há muitos por esse mundo fora. E dínamo é coisa tecnicamente arcaica. Primam pela originalidade e pela ciência mais avançada e propõem “Átomo”.
Em Pemba, o grupo desportivo que tinha o nome de um dos mais populares bairros da cidade, (Paquitequete) foi integrado numa empresa. Morreu o nome velho e o clube ficou Grupo Desportivo de qualquer coisa. Imaginem, o João de Sousa a relatar um jogo de futebol entre “Asas” e “Átomo” ou entre o “Asas” e o “Dínamo”.
Noutro dia estava a conversar com um amigo. Por sinal ele também é dado a esta sarabanda de mudança de nomes. E pretensioso não queria nada mais nada menos que o Ferroviário passasse a chamar-se Vapor. Os Vapores de Moçambique.
Sou pelos nomes que tenham o sabor da terra. Esta neutralidade voadora ou atómica traz água no bico. E repito: eu não tenho clube. Só que tenho uma costela que gosta do belo. Todas as palavras têm um peso específico”.
Hoje, 3 de Maio de 2020 comemora-se o centenário dum clube de referência no panorama desportivo moçambicano. Infelizmente, condicionalismos de vária ordem e por demais conhecidos, fazem com que a agremiação se debata com graves problemas, o que compromete a realização dos programas de acção traçados por uma Comissão de Gestão que tem como missão revitalizar o Clube dos Desportos da Maxaquene.
No horizonte do Maxaquene surge agora um novo desafio, por enquanto em forma de proposta. Associar-se ao Desportivo na perspectiva de construir um Estádio que sirva os interesses das duas agremiações.
Parabéns aos dirigentes, atletas, sócios e simpatizantes pelo centenário. Infelizmente as comemorações terão de ficar para um outro momento.
João de Sousa – 03.05.2020
12 Comentários
academica69@yahoo.com
Parabéns João por mais uma bela crónica, esta narrativa em particular sobre a transformação e o fim de um clube desportivo e a mudança de sua designação e identidade, bem assim os fins e objetivos por razões ideológicas completamente estapafúrdias que mataram a bela história do Sporting Clube de Lourenço Marques. É minha convicção que o SCLM acabou no dia em que mudaram a identidade original, ou melhor como escreveu e muito bem o Albino Magaia – “Todas as palavras têm um peso específico”. Comemorar o 100.º aniversário é um absurdo, quem não tem memória, também não tem História, então como pode ter identidade? Se este já não é o SCLM, no mínimo, se a designação tivesse mudado apenas, de LM para Maputo, então a alma e o coração de Leão estaria intacto e faria sentido a celebração e as felicitações dos 100 anos, visto que a continuidade estaria seguramente garantida. Assim, não obrigado, no mínimo posso evocar a data como história de um grande clube laurentino que muitas alegrias deu no universo da lusofonia leonina quer local, regional, nacional e internacional.
Dulce Gouveia
Parabéns pela efeméride!
Se querem mudat os nomes dos clubes ( ruas, monumentos, etc.) por terem conotação colonialista, também deveriam demolir os pavilhões , estádios e por aí afora pois foram construídos pelos colonialistas, e deveriam começar do zero.
O colonianismo faz parte da história de Moçambique, quer queiram, quer não e ao fim de quase 50 anos, o colonialismo continua a ser uma justificação para a miséria e corrupção que grassa no país. Que tristeza ver em como se transformou a minha terra …..!!!!!!!!
Humberto Tercitano
Valeu grande Dulce Gouveia. 100 estrelas para o teu comentario
Norberto Silvério Rodrigues
Parabéns ao Sporting de Lourenço Marques pelos 100 anos de vida, em que eu já pensava que não existia. Não foi só o sporting que foi estrangulado, infelizmente foi também Moçambique, pelas mãos de ideológicos intóxicados em Moscovo, como principal mentor, o já falecido Marcelino dos Santos e os seus amigos em Portugal, que são os comunistas.A política nunca se deu bem com o desporto, e a prova está bem patente, e á vista de todos, o que era Moçambique em desporto,e o que é agora, sob a orientação política, de ignorantes,profissionais.
antonio oliveira
As saudades desta terra serão eternas.!!!!!!
Embora só estivesse em Moçambique cerca de cinco anos, hoje, até sinto o cheiro do pó das picadas que era levantado pelo carros após as ultrapassagens. Corri esta terra de sul a norte, durante a estadia no exército, com espaços de tempo em beira, Quelimane, Mocuba, Milange, Chinde, Ilha de Moçambique, Porto Amélia, Lumbo onde cheguei a estar aquartelado, quando fiz parte da 2ª companhia de comandos, comandada pelo saudoso capitão Jaime Neves Enfim……………….restam as saudades!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Carlos Batista
Sou Sportinguista desde sempre, embora, quando chegou a minha vez de praticar atletismo “federado” o tenha feito pelo Ferroviário. A explicação é simples, o meu pai era funcionário dos ” Caminhos de Ferro” e quando decidimos que eu ía fazer desporto, ele que também era sportinguista, levou-me ao Ferroviário. Estávamos em 1973…e eu tinha 13 anos.
Foi um a honra representar o Ferroviário, mas quando em 1976 vim para Portugal, obviamente que o meu clube só podia ser o Sporting, neste caso o de Portugal.
Penso que as elites da Frelimo não estavam preparadas para ser governo. Eu vivi em Moçambique até Outubro de 76 e não gostei, por isso me vim embora, mas concordo em absoluto com a Independência dos povos, isso para mim não é questionável.
A mudança de nomes, foi mais uma asneira entre outras, foi pena mas está feito. para nós Sportinguistas, o tempo não parou em 75.. Celebremos pois esta efeméride e recordemos todas as paginas de gloria nas diferentes modalidades.
Manuel Martins Terra
Houve efetivamente depois do período da independência, um pouco na linha dos países da cortina de ferro, no que dizia respeito à area de desporto e muito concretamente para o futebol, associar clubes a empresas ou mesmo conotados com o exército. Moçambique, enveredou por essa prática e pelos vistos, sem grande sucesso. Não vejo nenhum mal que o ex-SCLM, se passa-se a chamar Sporting Clube de Maputo, como de igual modo, o SLM e Benfica, se poderia designar por Sport Maputo e Benfica. De relembrar que o futebol português nos países lusófonos , mantém uma ligação histórica difícil de ser ignorada. Ninguém se deve esquecer dos célebres ^magricos^ Coluna, Eusébio, Hilário e Vicente.que fizeram história no Campeonato do Mundo de 66. Que festa rija houve em LM, depois da vitória sobre a Coreia do Norte. Moçambique e Portugal, são dois paises irmãos, e nesse contexto não deveria haver divirgencias. O desporto , acima de tudo deve unir os povos. Por tal motivo , não é por acaso que na Beira, Quelimane e Nampula, não existem esses entraves. Porquê, só mesmo na capital? Quanto eu sei, os campos do SCLM e GDLM, tão rivais e tão juntos,estão agora ao abandono e à mercê quiçá de interesses imobiliários. Haja alguem que não deixe esmorecer o grande clube que foi o Sporting Clube de Lourenço Marques.
João Silva
Feliz recordação de maravilhosos dias vividos nestas instalações, quando treinava e jogava no escalão designado por “mini basket” e nadava na piscina dos “Velhos Colonos”. Que pena o nome do grande Sporting não ter sobrevivido às cegas ideologias. Obrigado pelo trabalho aqui apresentado. Um abraço desde o norte de Portugal.
Fernando Rebelo
Fui nas épocas 1966/1967/1968 defesa direito da equipe de junior A do Sporting Clube De Lourenço Marques
José Luciano André
Senhor Fernando Rebelo:
As minhas melhores saudações pela passagem do meu amigo pelo grande clube que na realidade existiu em Lourenço Marques (hoje Maputo). Recordo com saudade a sua existência e considero honrosa a sua passagem como futebolista do mesmo. Acompanhei durante cerca de anos, desde 1946, o comportamento do nosso grande clube inclusivamente tive como colega de trabalho o também bom jogador do Ferroviário Luís Pereira do Amaral.
Felicidades, meu prezado Amigo e tudo de bom para si e todos os que lhe são queridos.Um abraço amigo.
António Manuel Ruas Alves
O enorme SCLM continua no meu coração. E perdurará para sempre nas memórias de quem o tanto amou. Provavelmente, os deuses, revoltados com tamanha ingratidão face à história que nunca se deve ignorar, posicionaram-no na situação de (má) sobrevivência em que lamentavelmente se encontra … o Maxaquene. Mas não deixa de ser curioso alguns outros paralelismos em que também se encontra o SCP (…). Parabéns SCLM e Obrigado João Sousa por o teres evocado.
Virgilio da Cruz Barbosa
Ainda hoje conservo o cartão de sócio do S.C.L.M.