UMA DATA NA HISTÓRIA – 29 de Novembro de 1929 – Virgílio de Lemos
Ele nasceu na ilha de Ibo, em Moçambique. Escreveu os primeiros poemas entre 1944 e 1948 e entre 1947 e 1948 colaborou no Jornal da “Mocidade Portuguesa”, com o irmão e artista plástico Eugénio de Lemos, e com o jornalista Guilherme de Melo, onde foi redator até 1949.
Considerado um dos grandes impulsionadores do movimento literário moçambicano nos finais dos anos 1940 e na década de 1950, Virgílio de Lemos, juntamente com Domingos Azevedo e Reinaldo Ferreira, editou a folha de poesia “Msaho”, que procurou enaltecer as culturas locais moçambicanas, criando uma poética que rompesse com os modelos literários impostos pela colonização.
Virgílio de Lemos foi absolvido de um processo judicial instaurado por crime de desrespeito pela bandeira portuguesa, por um poema escrito em 1954, com o heterónimo Duarte Galvão, no qual dizia que “a bandeira portuguesa era uma capulana verde e vermelha”.
Entre 1954 e 1961, o poeta colaborou com a resistência moçambicana, tendo escrito para publicações como “O Brado Africano”, “A Voz de Moçambique” (jornal de esquerda na altura), da “Tribuna” e “Notícias”.
Entre 1961 e 1962, o poeta e jornalista foi acusado pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) de incitamento à independência de Moçambique.
Depois de libertado, e devido à repressão política existente na antiga colónia portuguesa, Virgílio de Lemos saiu de Moçambique, percorreu as ilhas do Oceano Índico, as da Grécia e da América Central, fixando-se, em 1963, em Paris, onde foi jornalista do canal televisivo TF1 e posteriormente da Rádio França Internacional, e com quem tive o grato prazer de colaborar, na década de 80, altura em que, a par com a minha actividade na RM, eu era correspondente da RFI em Maputo.
Virgílio de Lemos é “um dos incontornáveis pensadores portugueses do século XX” e, juntamente com José Craveirinha e Rui Knopfli, “um dos três poetas de vulto de Moçambique”.
Considerado um dos vanguardistas da lírica moçambicana, a sua poesia aborda temas como a liberdade e contém críticas às injustiças sociais e à repressão colonial.
Virgílio de Lemos criou também três heterónimos: Lee-Li Yang, pelo seu erotismo; Duarte Galvão, pelo seu engajamento, e Bruno dos Reis, pela sua poesia geracional, associando a cada um uma temática poética.
A antologia “A invenção das Ilhas” e “A dimensão do desejo” obra que integra poemas de evocação a Reinado Ferreira, editados em 2009 e 2012 pela Associação Moçambicana de Língua Portuguesa (AMOLP), foram as últimas obras de Virgílio de Lemos.
Se fosse vivo Virgílio de Lemos completaria hoje os seus 88 anos de idade.