UMA DATA NA HISTÓRIA – 3 de Novembro de 1977 … Fany Mpfumo
Na companhia do saudoso José Manuel Peres, com quem fiz parceria durante anos, na realização dos mais variados programas radiofónicos para a Rádio Moçambique, percorri, num sábado dos anos setenta, os labirínticos acessos do bairro da Mafalala, à procura de Fany Mpfumo, com quem tínhamos combinado uma entrevista. Era um trabalho “em directo”, para uma edição especial do programa “Entre as Nove e As Dez”.
Apanhámos um susto, porque, chegados a sua casa, Fany não estava. Alguém lá de dentro só nos dizia que “saiu, mas volta já”. Onde teria ido ele às 08.30 horas de sábado?
Uma das senhoras da residência do “rei da marrabenta” coloca duas cadeiras para nos sentarmos. A entrevista, entre-cortada com música que seria transmitida do nosso carro-estúdio, decorreria no quintal da casa de Fany, para onde, por se aperceberem da presença de todo aquele equipamento necessário para uma transmissão directa, (carro-estúdio, cabos, microfones, etc), se aglomeraram os seus vizinhos.
Começamos a ficar preocupados, porque estávamos a poucos minutos do início do programa e do Fany, nem sombra.
Às 09.00 horas começa a ser transmitido o noticiário. Logo a seguir entraria o indicativo do programa, que não poderia ser lançado sem que tivéssemos a certeza de ter Fany à nossa frente, para a entrevista. Quando se lia a última notícia, o ranger do portão da sua casa de madeira e zinco, anunciava a entrada do “rei”. Assobiava “A Vasati Va Lomo”. E como nada tivesse acontecido, saúda-nos e pergunta: “não estou atrasado, pois não”? Claro que não !
À hora convencionada o programa começou. Fany Falou. Falou em português, dizendo desde logo que preferia expressar-se na sua língua materna, mas como o programa era para a Antena Nacional, não havia outro remédio. Em quase 50 minutos traçou o recorte da sua vida artística. Dos sucessos, dos desaires.
Volvidos estes anos todos procurei pelo registo magnético dessa conversa e não encontro. Creio que naquele tempo eu dava muito pouca importância à necessidade de arquivar. E por isso se perdem pedaços da nossa História.
Lembrei-me desta história porque faz hoje 31 anos que faleceu Fany Mpfumo. O “rei da marrabenta” (designação que já deu pano para mangas) deixou-nos fisicamente no dia 3 de Novembro de 1987.
João de Sousa – 03.11.2018