De heróis “baratos”, como eu, estão o céu e inferno cheios!
Sei porque é que não consigo dormir nos aviões. A justificação para isso, não passa de um trauma psicológico.
No serviço militar, ao seguir de “boleia” no avião “Noratlas” de Nampula para Vila Cabral, saímos de Nampula já ao fim da tarde.
Como não era muito viajado de avião, mostrei algum receio aos meus companheiros de viagem. Sabia por ouvir dizer, que o voo demorava pouco mais de uma hora. Faltava pouco para chegar, começou a escurecer e resolvi passar “pelas brasas”!
Acordaram-me a dizerem que uma asa estava a arder e o avião estava a perder altura. Como estava escuro, verifico pelo postigo que de facto a asa estava a deitar fogo! “Esbaforido” e cheio de medo pensei: ”Isto vai mesmo cair”!.Notei que os meus companheiros estavam calmos! – Foi preciso um elemento da tripulação, ao ver-me “cheínho” de medo me acalmar e dizer o que os meus companheiros já sabiam; e me quiseram pregar o susto! Era o escape do motor, e estávamos a chegar.
Desde aí; – com escape ou sem escape, nunca mais dormi em avião nenhum!
Soube agora que há outro local onde também não consigo dormir!
Por “desmazelo” tive de recorrer às urgências.
Naquela sexta-feira, 8Jun2018, notei que ao tossir me doía o peito.
– “Bolas mais uma gripe!”. Pensei eu.
Resolvi ir ao SAP – Serviço de Atendimento Permanente, – e explicar ao médico o que sentia. Disse-me que era febre dos fenos. – Receitou-me Lergonix e ben-u-ron. E eu, como sempre, a pensar: – “Isto vai passar!”
Nesse fim-de-semana as melhoras foram, “zero”! Na 2.ªfeira, 11Jun2018, com a situação a piorar; os meus familiares pediram-me para ir ao hospital porque estava mesmo doente.
.…Doente, eu? – Um “durão”, que nunca na vida tinha sido internado! E que os hospitais foram feitos para os outros. Eu só lá ia de visita! E até fugia das consultas médicas, como “o diabo foge da cruz”!
Mas atendendo aos pedidos que me foram feitos, resolvi às 16,30h desse dia ir às urgências no Hospital Garcia de Orta (HGO) em Almada.
Pensei: – “Sou medicado e mandam-me para casa”.
Nas urgências fui atendido por uma médica de meia-idade.
Depois de lhe dizer o que sentia, começou por me fazer perguntas “malucas”. Do tipo: – “Quem era, onde estava, com quem vivia e….outras!” Notei que não escrevia as minhas respostas no computador. Pediu-me também, para se me recordasse, lhe contar uma história passada na minha juventude.
– Disse-lhe que tinha “milhentas” porque a minha juventude foi passada em Moçambique.
Só mais tarde soube que algumas pneumonias, em pessoas de idade, podem afectar as faculdades mentais. Daí todas aquelas perguntas “malucas”!
Mandou-me tirar um RX e depois voltou-me a chamar.
Não demorou muito, e lá estava novamente com ela a fazer-me mais perguntas! E entre elas, esta: – “Se costumava urinar mais vezes que o normal?” – Disse-lhe que notava que sim! Mas não tinha problemas de próstata.
– “A mim pouco me importa a sua próstata. A mim o que me importa é isto!” – Virou o monitor do computador para mim e apontou para o pulmão afectado.
“ Isto é uma pneumonia forte, e vai ser internado de imediato”.
Dito e feito! Só tive tempo de avisar a minha mulher. Que enquanto o “diabo esfrega um olho” estava ao pé mim! – Quem tem família tem tudo!
Estive 30 horas nas urgências, medicado e vigiado pelo “staff” de serviço.
Foi aqui que soube, que tal como no avião, nessas 30 horas cheio de medo, também não consegui “pregar olho”! Vi as horas passar “uma a uma”…
Fui, depois, transferido para um quarto em medicina – IV, onde já estavam 2 doentes muito calmos, habituados a estas andanças, porque infelizmente eram reincidentes. O único “novato” ali, era eu!
Estive internado até 22Jun2018 sempre acompanhado, entre outros, por “3 anjos da guarda”: – A minha esposa, o meu filho e uma médica cardiologista no hospital, amiga da família que, além do médico assistente, também me ia informando da evolução da minha doença.
Conhecendo os problemas e das carências no Serviço Nacional de Saúde,
não me posso juntar ao coro dos maldizentes das urgências, internamentos e outros serviços do Hospital Garcia da Orta. Tive, tal como os meus companheiros de “enfermaria e infortúnio”, um tratamento irrepreensível!
Presentemente encontro-me em casa a recuperar de uma doença da qual sou o único culpado, porque me deixei chegar ao limite!
Doença é doença! E é para tratar, assim que aparece. – Ficou-me de emenda!
Deixo o aviso. Nas questões de saúde, não sejam “desleixados” como eu! Porque de “heróis baratos” estão o céu e o inferno cheios.
A todos(as) que me telefonaram, e eu por cansaço ou disposição não pude atender. – Aos que no Facebook me desejaram as melhoras, assim como a todos os amigos, um grande
Bem Hajam!
P.S. – Não tirei fotografias dentro do hospital, para compor este post. Essas, são mostradas todos os dias na comunicação social. Eu fui lá para me tratar!
Só vos quero dizer que com todas as carências aqueles profissionais, esses sim! São uns heróis!
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno, muito pequeno!
João Santos Costa – Julho de 2018
3 Comentários
Jaime Capra
Meu prezado João Santos Costa! Não sei como isto (https://bigslam.pt/blogs/joao-santos-costa/de-herois-baratos-como-eu-estao-o-ceu-e-inferno-cheios-xilunguine-de-joao-santos-costa/) veio parar em meu notebook. A verdade é que li e reli várias vezes e passei a admirá-lo embora a distância (o Oceano Atlântico) que nos separa. Li também todos os comentários de seus amigos/leitores como eu. Devo confessar que detesto todos aqueles que afirmam (sem conhecimento algum) que o Brasil é um País atrasado devido a ter sido “descoberto” pelos Portugueses, como se isso fora obra do acaso.
Sou de descendência Italiana, tendo, inclusive, cidadania. No entanto, considero Portugal minha segunda Pátria. Estive na Itália duas vezes. Minha próxima viagem, se Deus assim o permitir, será para Portugal. Abraços.
Carlos artur cardoso
Desejo-te boa recuperação.Atenção com recaídas
Saúde.Abraço.
Armando Korn Moreira
Fico satisfeito por te saber bem.
Quanto ao SNS eu tenho experiência do centro de saúde de Palmela e do hospital S.Bernardo em Setúbal
Só tenho a dizer bem de todos. Bem hajam