Em NACALA, um aeroporto fantasma que virou salão de festas!
Em NACALA, as “luvas e os subornos” quiseram!…e a obra apareceu…
Um aeroporto fantasma!
NACALA é a principal cidade portuária do norte de Moçambique.
Com a sua zona suburbana, é uma cidade com cerca de cento e setenta mil habitantes.
O seu porto era/é o terminal do corredor servido por uma linha férrea que liga o oceano Índico ao Malawi e à cidade de Lichinga. Passando por Nampula e Cuamba.
Durante a guerra colonial era por ali que se fazia o embarque/desembarque das tropas que operavam no norte.
É uma cidade pobre! Mais de metade da cidade não têm água canalizada, rede eléctrica nem saneamento básico. É comum ver mulheres e crianças nos fontanários a encherem baldes com água para as suas necessidades.
Hoje os empregos escasseiam! Mas ainda teve o sonho do desenvolvimento, com a construção do porto e do aeroporto, feitos com o maior investimento brasileiro em África. Mas, depois da inauguração do aeroporto, as economias brasileira e moçambicana entraram em crise, e o “resfriamento” económico gerou a pobreza!
Mas Nacala tem o aeroporto mais moderno do país!
E a seguir à inauguração?
Disseram-me, alguns amigos, que fui tão lesto a elogiar a construção da ponte de Maputo; mas que me tenho esquecido de referir o “Elefante branco” do regime.
É verdade! Estive calado porque pensei que o tempo alterasse a situação. – Mas não!
Este aeroporto não tem mesmo passageiros!….E virou salão de festas!!
– O que a seguir publico pode ser consultado na íntegra no google: “O aeroporto fantasma feito pela Odebrecht em Moçambique”. Um artigo de Amanda Rossi enviada da BBC Brasil a Nacala.
[….] “São 10 horas da manhã de uma quinta-feira. Os oito balcões de check-in do Aeroporto Internacional de Nacala, norte de Moçambique, estão fechados. Todas as cadeiras vermelhas e pretas das salas de embarque estão vazias. Espaços destinados para lanchonetes, lojas, free shop estão desocupados…..Essa cena já dura à três anos.
… Inaugurado em dezembro de 2014, o espaço foi projetado e construído pela Odebrecht, com um empréstimo de US$ 125 milhões (R$ 404 milhões na cotação atual) do BNDES, para ser o segundo maior de Moçambique….. No entanto, continua a amargar a posição de aeroporto menos movimentado do país – e um dos menos usados em toda a África……”.[…]
Odebrecht paga Propina (Luvas) de 900 mil dólares a Moçambique.
[…] “A Odebrecht revelou para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que realizou “pagamentos corruptos” no valor de US$ 900 mil para autoridades moçambicanas, entre 2011 e 2014, período de construção do aeroporto.
Parte desse valor teria sido paga para obter “termos favoráveis em um projeto de construção do governo, mas que o governo não estava inclinado a aceitar”.
“Só faltam os passageiros”: Caminhe pelo aeroporto fantasma da Odebrecht em Moçambique…
O caso foi transferido para a Procuradoria da República de Moçambique. Procurado pela BBC Brasil por três semanas, o órgão se negou a comentar o caso. Até hoje, não revelou quem são os moçambicanos envolvidos na denúncia da Odebrecht……” [….]
E hoje? – Qual a função do aeroporto mais moderno do País?
Um amigo enviou-me as últimas fotos da transformação desse aeroporto.
Virou salão de festas!!
A Odebrecht pagou “Luvas” para a sua construção. E a Embraer pagou, para vender os aviões às LAM.
– Portanto, tudo em família!!
[…] “Dos sete aviões das Linhas Aéreas de Moçambique, (LAM) cinco são da Embraer. A compra de parte deles está a ser investigada.
A empresa brasileira revelou para as justiças americana e brasileira ter pagado US$ 800 mil ilicitamente pela venda de dois modelos 190 para a LAM – justamente o que faz a única rota comercial para Nacala – no valor de US$ 32 milhões cada, entre 2008 e 2009.
Segundo a denúncia, autoridades moçambicanas solicitaram pagamentos ilegais e receberam uma oferta inicial de US$ 50 mil. O valor teria sido visto “como um insulto” pelos moçambicanos, que esperavam muito mais. Esse teria sido o recado passado por telefone pelo então presidente da LAM para um executivo da Embraer…
O caso também está sendo investigado pela Procuradoria da República de Moçambique, que se restringiu a informar que a fase do processo “não recomenda a partilha de informação”. A LAM não respondeu à BBC Brasil…” […]
Depois de todas estas “propinas” (luvas) nasceu um aeroporto do melhor que Moçambique tem. Só não tem passageiros! E por isso virou salão de festas!!!
Não perca os próximos posts: “Figuras Moçambicanas do nosso tempo”.
A todos um bom Natal e um 2019 com muita saúde!
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!
João Santos Costa – dezembro de 2018
4 Comentários
Carlos Hidalgo Pinto
Corrigindo o que escrevi há pouco, sobre o tempo que decorre até se registar a duplicação de uma determinada população. O correcto são 17,5 anos e de acordo com a aplicação de uma regra empírica.
Carlos HYdalgo Pinto
O tal resfriamento económico encontra alguns factores explicativos que são endógenos e também exógenos. O crescimento demográfico descontrolado e o reduzido investimento estrangeiro, são as principais causas da situação actual, muito embora o esforço e a tentativa realizados em melhorar as coisas, o que nem sempre é fácil. Se a população aumentar a um ritmo de 4% ao ano isso significa que passados 25 anos, a população do país irá duplicar. No caso de esse crescimento demográfico for superior (o que acontece no presente) ao crescimento económico, então isso implica empobrecimento. Talvez a solução se encontre em criar zonas ou regiões onde o investimento estrangeiro fosse perspectivado para o longo prazo tipo 40 a 50 anos, com alguma autonomia na administração conjunta desse território, portanto a nível regional o que abrangesse uma 3.a ordem de grandeza. Delimitavam-se por exemplo, 3 zonas de início, com incentivos para o investimento de vários países, emprego e de novo o reinvestimento, de forma a se produzirem vários efeitos multiplicadores de causalidade cumulativa. A língua portuguesa será sempre um elo de ligação e o denominador comum para um bom entendimento entre os vários actores de um tal processo. Portanto uma alternativa de desenvolvimento que não tenha nada a ver com os regimes de leasing ou charter cities ,nem semelhanças com os regimes que vigoraram no tempo das companhias majestáticas. O processo de descentralização em curso seria consolidado e acelerado no tempo por via de um crescente desenvolvimento económico.
Torna-se necessário introduzir expectativas positivas (alguma utopia até) para Moçambique, de forma a que as questões como o saneamento básico, a saúde e a educação registem substanciais melhorias. A ordem de grandeza ou o nível de escala das zonas ou regiões do território delimitado,são essenciais na atracção do investimento estrangeiro.
José Carlos
A corrupção está nos genes, ou seja, faz parte da natureza humana, e existe em todas as latitudes. Em Moçambique atinge proporções catastróficas em consequência das vicissitudes da História, pois o país passou abruptamente da ditadura comunista para o capitalismo, sempre com a Frelimo no poder…
Joaquim navarro
Boa reportagem. Mas cá também temos uma situação idêntica com o aeroporto de Beja.