Estiveram em África a enriquecer às nossas custas”
Quem em Portugal durante a descolonização nunca ouviu estas palavras, ponha o dedo no ar!
Porquê voltar a ouvi-las agora, que são passados mais de 40 anos!!!???
Quase não há vila ou cidade em Portugal, que não tenha o seu “Café Central”. Almada não é excepção.
Fica numa linda praça, que antes da revolução de 25Abr74 se chamava da Renovação. E depois, por agradecimento ao Movimento das Forças Armadas, se passou a designar por praça do MFA. Embora para a grande maioria dos almadenses, por hábito, continue a ser a praça da Renovação.
É o café onde todas as noites depois do jantar, um grupo de amigos nos reunimos para comentar e debater as notícias mais importantes do dia.
Numa destas noites quando o nosso tema em debate era futebol, apareceram na televisão as herdeiras do Horácio Roque a falarem do Banif (Banco Internacional do Funchal), e do litígio entre elas.
Horácio Roque fez, desde os 14 anos, a sua vida em Angola e na África do Sul. Foi o fundador e accionista maioritário deste banco.
Fiquei “pasmado”! Por, passados que são mais de 40 anos da descolonização, ainda ouvir de um dos amigos do grupo estas palavras, indicando com o olhar a tv:
“Estas, também estiveram em África a enriquecer às nossas custas.”
“Também…enriquecer às nossas custas”!... – Refleti, e não estranhei! Do grupo, o único que tinha feito vida em África era eu. E sabia que era este – e pelos vistos ainda é – o pensamento dominante aqui na Metrópole, em relação aos residentes no ultramar.
Disse-lhe que quem assim pensava estava errado!
E nesse serão o assunto em debate deixou de ser futebol, porque tentei demonstrar-lhe a importância do valor das trocas comerciais Portugal/Colónias.
Sem referir números que não tenho de memória, vou a seguir, – aceitando a vossa colaboração com comentários, – expressar o que sei, e o meu ponto de vista
…Estiveram em África a enriquecer às nossas custas.”
Porque será que estas palavras foram ditas, e muitas pessoas que nunca estiveram ou foram a África também pensavam – e pelos vistos ainda pensam – assim?
Em parte, a culpa era de muitos dos residentes no ultramar! Porque quando aqui vinham de férias, exibiam um nível de riqueza que lá não tinham.
A inveja dessa “mentira” fez o resto!
Além disso, tenho para mim; que estas palavras foram ditas porque ninguém o (os) informou , e não sei porquê!!– Que no Ultramar – particularmente em Angola e Moçambique – não se vivia às custas da Metrópole. E até ao intensificar da guerra colonial existiu equilíbrio contabilístico entre o “deve e o haver” das trocas comerciais. Que com estas trocas, Portugal até beneficiou. Porque teve acesso a produtos que doutro modo não teria.
As colónias/províncias ultramarinas tinham moeda própria, mas sem conversão internacional. E por isso só podiam importar bens e produtos com autorização e aval de Lisboa. Que por sua vez desde que os houvesse de fabrico nacional – às vezes até mais caros – quase sempre impedia a importação. Tudo que Portugal produzia e não conseguia mercado, alguns produtos até de qualidade duvidosa, mandava-os para o ultramar. Como na altura se dizia: – “As províncias ultramarinas comem tudo que aqui não se vende”! Sei que havia fábricas cujos produtos eram destinados “especificamente ao ultramar” porque aqui não tinham mercado, ou estava saturado. Estes produtos eram pagos por troca à Metrópole em: – Ouro, diamantes, algodão, café, açúcar, caju, sisal, madeiras, cacau, copra e outros. Que por sua vez Portugal depois exportava, causando inveja a outros países.
A maior parte das importações de Moçambique a Portugal eram pagas em barras de ouro que vinham da África do Sul, como pagamento pela cedência da mão-de-obra dos chamados “Magaíças 1 “. Esse ouro vinha na totalidade, ou quase! Fazer parte das trezentas e oitenta e duas toneladas da “pesada herança do fascismo 2”. Julgo que na altura, nem mesmo a moeda estrangeira que os emigrantes enviavam, era superior às riquezas que vinham das colónias!
Esta relação de trocas só se alterou nos anos sessenta do século passado. Porque com a guerra colonial a Metrópole teve necessidade de investir mais em equipamento militar. Tudo por culpa do poder político/económico de Lisboa que não quis, não soube, ou alguém não deixou que a situação se resolvesse a contento de todas as partes. Preferiu fazer uma guerra que se tornou inútil! E para a sustentar teve de lançar mão de um novo imposto a pagar por todos, que era para ser provisório: – O complementar. – Que depois de adaptado aos tempos modernos passou a definitivo, com o nome de IRS.
Se tudo isto tivesse sido devidamente explicado com números do “deve e haver”, as palavras como as que acima foram referidas nunca se teriam ouvido! Só que os políticos, militares, economistas e as elites do sistema nunca quiseram!
- Nome porque eram conhecidos todos os trabalhadores moçambicanos que iam trabalhar para as minas de ouro na África do Sul.
- Expressão usada pelos partidos de esquerda quando se queriam referir ao atraso cultural de Portugal até ao 25Abril74 – E os de direita utilizavam para recordarem as mais de trezentas e oitenta toneladas de ouro amealhadas durante o governo de Salazar.
P.S. – Por intermédio de familiares, colaboradores do Banco Nacional Ultramarino de LMarques, em conversas confidenciais entre nós, sabia das datas do envio desse ouro para Portugal. Creio até que outros colaboradores do banco também sabiam, e nem sequer faziam segredo!
Clique no vídeo e oiça o que Alice Mabota diz: Donald Trump tem razão quando disse “África, deve ser recolonizada”.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa – Maio de 2017
20 Comentários
Carlos Hidalgo Pinto
A relação que se estabelece entre uma Metrópole e uma Colónia ou Colónias, é sempre assimétrica. Quando o poder se encontrava demasiado centralizado na metrópole, como observou Norton de Matos, tornava-se difícil governar as colónias de uma forma mais eficaz.
Entretanto, a potência colonizadora (Portugal), conseguiu manter as fronteiras intactas de Moçambique, aquando da Iª Guerra Mundial. Foram enviados mais de 20 000 homens para essa então colónia. Morreram mais homens em Moçambique, do que na Europa e no âmbito dessa mesma guerra. Houve intervenientes e sobreviventes portugueses desse conflicto que se fixaram neste território, tornando-se colonos.
Mais tarde, os seus descendentes foram também obrigados a fazer uma nova guerra e em sítios onde os seus avós já tinham estado a combater na Iª Grande Guerra. Tudo isto num regime autoritário. Houve até gente que após ter feito essa nova guerra e com a independência do novo país, ainda acabou por ser enviada para campos de concentração, sem qualquer motivo que o justificasse. Novamente, a experiência de regimes autoritários a aplicar uma lógica de poder absoluto.
Actualmente as coisas evoluíram e parece que toda a gente prefere um regime onde existe a possibilidade de se exercer uma cidadania plena. Mas para que isso aconteça, torna-se necessário haver investimento, seja nacional ou estrangeiro, envolvendo uma atração de movimentos de capitais, de serviços e de bens, assim como de um incremento no fluxo migratório, com mão de obra algo especializada e que saiba trabalhar e difundir conhecimentos. Ora a língua portuguesa e a cooperação bilateral entre Portugal e Moçambique, teria que ser reforçada a fim de se acelerar o desenvolvimento deste novo país e sem complexos.
Virgilio da Cruz Barbosa.
A partir do 25 de Abril, por exemplo, o açucar moçambicano que para a “metropole” vinha ao preço que toda a gente de boa fé sabe, começou (o açucar) a ficar mais amargo aos “metropolitanos”. Os “retornados” é que éram os exploradores! A propósito de “retornados” e chamando a “santa ignorância” da maioria dos metropolitanos, tudo que vinha das ex-provincias ultramarinas eram “chapados de “retornados”. Como a palavra diz, retornado é aquele ou aquela que retorna ou volta. Ora, os meus filhos são já a 5ª geração descendentes de portugueses que foram para Moçambique. Eles não retornaram a nada. E mais não me alongo. Um abraço a todos.
miranda
Olá João Bom artigo companheiro.
Infelizmente ainda há muitos ignorantes de mentes distorcidas que reagem ao que ouvem ou ouviram ser qualquer conhecimento de causa . Muita vez me exaltei com gentinha que frequentava o café onde eu ia tomar a bica na hora do almoço, que diziam que andamos a roubar o povo Moçambicano !
Há uma pequena história que eu contava que se passou comigo : ” A Margarida era secretária do Gonçalves Pereira dos CFM e trabalhava ao sábado. Como tal eu todos os sábados de manhã ia tomar café á Marisqueira e esperar por ela. O empregado que me servia era o Gabriel um homem mais ou menos da minha idade e casado que um dia ao falar comigo me pediu se lhe arranjava emprego pois era casado e ganhava pouco, ao que respondi que iria fazer o que fosse possível. A certa altura o Grabiel desapareceu ,até que passado uns tempos quando estava a tomar o meu cafezinho apareceu-me um homem de cor com camisa amarela e calça castanha a querer pagar-me o café.
Quem era ? O meu amigo Gabriel que estava a trabalhar nos CFM e que no meio da conversa me disse que estava a tirar oito a nove contos por mês com as Horas extras.
Engraçado o Gabriel com a 4ª classe ganhava essa massa e eu na altura com o 2º Ano do Instituto estava a ganhar seis na STEIA .
Pergunto-me : Rico (não fiquei ) Explorador ( Nunca fui ) Viver á custa de outros (nunca vivi).
Abraço amigo !
Jose Alexandre Russell
Alô MIRANDA. Abraço.
José António Oliveira
Gosto do artigo, é difícil que haja unanimidade, vivi entre Portugal e Moçambique até aos 14 anos (Set 74) , sempre gostei imenso da minha terra ( Lourinhã) mas realmente em África a vida era diferente, as ruas em largas, tinham passeios, íamos mais vezes a praia, confraternizava- se mais ( não havia televisão) , praticava-mos basquete, natação, atletismo etc, muito mais poderia ser dito, fui e penso que a maioria também foi educado a respeitar as cores da pele (o diretor da escola Rebelo da Silva tanto dava reguadas a uns e outros) assim como as religiões . A perfeição não existe, o 25 de abril deu a liberdade política mas estragou a vida de milhões , dos que saíram de lá talvez depois da tempestade tivesse havido a bonança mas para os que ficaram não foi nada bom , veja se a vida dos milhões de ex portugueses que lá ficaram porque os políticos fizeram com que mais ou menos um milhão de portugueses tivessem saído dessas zonas do globo e fosse o caos e a miséria que ainda hoje é. Não foi isso que nós que crescemos em África sonhámos, só os ignorantes, os invejosos ou os iluminados por políticas estrangeiras é que pensaram que nós éramos mais etc e tal. Quando regressei Portugal em 74 era um retornado, hoje quando regressamos continuamos a ser retornados , e no futuro seremos sempre retornados só que o mundo mudou e as mentalidades também. Melhor ou pior que lá está vai-nos sempre receber. Eu retornei à África.
Nelson Silva
Boa noite João:
Um tio meu – casado com a irmã de meu Pai – o já falecido Eugénio Cortez, muito conhecido como inspector dos Caminhos de Ferro e que chegou a superintendente do Porto de Lourenço Marques, era irmão do Inspector Administrativo António Cortez, que acompanhou carregamentos de ouro saídos da cidade do Cabo, rumo a Lisboa. Se nesse ou outro período, algum outro ouro chegava ao BNU, para depois seguir para Lisboa por avião, confesso que não sei. Que lá – no BNU, em Lourenço Marques ou em Moçambique – ficasse alguma pepita por muito tempo, duvido, por razões óbvias e não é preciso conhecer o sistema monetário e financeiro português de antes do 25 de Abril.
Nelson Silva
Peço desculpa pela minha inabilidade. Este post devia estar mais abaixo, em resposta aos comentários de João Santos Costa e de Victor Pinho.
João Santos Costa
Nelson, a data em que o ouro era enviado em navios, possivelmente foi muito anterior à data em que eu tive conhecimento. De qualquer maneira, julgo que como o negócio dos “Magaíças” era feito com Moçambique, o ouro tinha de ser sempre contabilizado a essa província, e só depois com o acordo do Governador Geral enviado para Portugal. Se ele decidia enviá-lo directamente da África do Sul em navios, sem dar entrada em Moçambique; é possível, mas como digo, foi em data que eu não tive conhecimento. Muito obrigado por mais esta “achega” ao artigo. Um abraço.
Nelson Silva
João:
A ideia que pretendi transmitir é que Portugal – Salazar – não deixava o ouro ganho com a cedência do trabalho de “magaíças” aquecer muito em Moçambique, porque não gostava que ele estivesse disponível na Colónia e, daí, o levar de barco directamente da África do Sul para Portugal, não fosse o diabo tecê-las. Que lá entrasse e ficasse algum ouro temporariamente, desde logo considerei possível, quando escrevi “Quanto ao ouro pago pela África do Sul, na sua maioria, nem entrava em Moçambique”.
Nem por uma questão contabilística o ouro tinha de entrar no território moçambicano, bastando a sua movimentação nas contas públicas de Moçambique ser ordenada pelo Governador-Geral, para justificar a sua existência.
Por exemplo, ainda hoje, não deixa de ser contabilizado como nosso – porque o é, justificado pelo princípio da substância sobre a forma – o ouro que está na Inglaterra e que no ano passado, por exemplo, era em quantidade superior ao mesmo metal armazenado no Carregado, fisicamente à guarda da GNR.
FERNANDO DE CARVALHO
Conheci muito bem o inspetor Eugénio Cortez, desde 1953. Era inspetor do cais e eu trabalhava no Grupo Automóvel do cais ( manutenção das máquinas de manuseio de carga ). Foi um dos que, inocentemente , acreditou na boa vontade e competência da Frelimo. Menos de 6 meses depois largou tudo dizendo: ” Não vale a pena tentar ajudar estes gajos porque não sabem o que fazem nem o que querem “. Veio pouco depois para a Metrópole. Outro que também tentou dar impulso ao novo governo, foi o Eng. Castro que, desiludido, regressou a Portugal. Nós é que explorávamos o povo, e depois da independência e a saída dos tais RETORNADOS o povo caiu na miséria. Por alguma razão, ainda hoje quando os tais RETORNADOS lá vão matar saudades, são recebidos com alegria e braços abertos.
jose carapinha
Meus amigos, eu nunca permiti que me chamassem retornado, mas sim refugiado no meu próprio País, e com paredes de Betão, não há diálogo possível, e com a minha postura e cultura reduzi tudo a pó
Victor Pinho
Não estou de acordo com o Nelson Silva pois o meu pai que era Sub-Chefe da PSP em Lourenço Marques deslocava-se em serviço da PSP de comboio até á Africa do Sul onde um vagão ou até por vezes dois vinham carregados de barras de Ouro e o meu pai e outros elementos da PSP faziam a segurança até ao Banco de Moçambique.Depois os carregamentos eram enviados para Portugal e assim Salazar reuniu imensa riqueza em ouro proveniente dos serviços dos Magaíças que trabalhavam especialmente nas minas na África do Sul. EStou completamente de acordo com a crónica do João Costa visto ter sido este sentimento que ficou e muitos Portugueses sempre tiveram a ideia de que os que em Moçambique ou Angola viviam eram “ricos” e faziam uma vida de sonho. Na realidade fizemos uma vida de sonho mas devido ao clima,as praias, ao ambiente tipico de Africa como as festas que se organizavam, nas casas de uns de de outros, o convívio nos cafés com as pessoas todas sempre alegres e atenciosas não havendo qualquer tipo de rancor, racismo.Esta foi a nossa riqueza e que nos deixou sempre saudades.
João Santos Costa
Victor, pelo que sei com informações credíveis como a tua, tens toda a razão. O teu comentário está muito bem elaborado. Obrigado.
Stelio Folgosa
Posso acrescentar que foi feito um acordo entre Portugal e a África do Sul para pagamento dos servicos dos trabalhadores de Mocambique nas minas da África do Sul, em que a procura de trabalhalhadores era grande e a oferta nao suficiente. Esse acordo tinha uma clausula muito inteligente, embora arriscada para os tempos, na medida em que o valor do trabalho por trabalhador depois de descontado o pagamento directo aos trabalhadores (os chamados magaicas que no fim dos contactos comparavam roupas xunguilas e bicicletas, radios portateis etc. O pagamento era feito em ouro, depois de extraido e colocado em barras no SA Reserve Bank, ao valor de se nao me engano menos de 30 dolares ameriacnos por onc,a. O valor do ouro subiu sempre desde entao e creio que a certa altura houve uma renegociacao pois a diferenca era consideravel. O pagamento era directo entre a África do Sul e o governo em Portugal, o que é óbvio. O transporte do ouro era feito com a segunaca necessária e a certa altura, possivelmente devido ao incio das actividades da Frelimo, o transporte deixou de ser por terra de Johanneburg para Lourenco Marques onde era colocado nos avioes da TAP que o transportavam para Portugal e passou a ser de aviao directamente de Johannesburg para Lisboa.
Trabalhei nas minas de ouro nos meus tempos de estudante em Johannesburg e conheci muitos trabalhadores de Mocambique. Havia talvez tantos mineiros sul-africanos como Mocambicanos e a maior parte dos chefes dos grupos deles eram de Mocambique. A acomodacaoe alimentacao bem como os servicos medicos a todos os trabalhadores era excelente.
O ultimo pagamento foi desviado pelo MFA, ou retornado para Mocambique, depois do golpe militar de 25 de Abril pois era “dinheiro roubado” à Frelimo. Quem terá beneficiado dele?Como o governo de Portugal, com quem o contracto para pagamento em ouro foi feito, deixou Mocambique o governo da África do Sul acabou com a negociata que tinha sido muito lucrativa para Portugal mas inteiramente legítima.
Tenho a certeza de que continuam a ir trabalhadores de Mocambique para as minas da África do Sul segundo um novo acordo assinado entre o ANC e a Frelimo, mas aposto que em condicoes nada comparaveis em termos de beneficios para os trabalhadoes e para Mocambique. Ironia do destino!
João Santos Costa
Mas que “bela achega” ao meu artigo, Stelio! estou em crer que todos os que lerem o artigo, vão gostar muito de ler este teu comentário. Falas com conhecimento de causa. Obrigado por este teu comentário. Aparece sempre pelo bigslam.Um grande abraço.
luis reis - guibebe
Relativamente a um excerto do texto acima, na parte que refere que “O transporte do ouro era feito com a segurança necessária e a certa altura, possivelmente devido ao incio das actividades da Frelimo, o transporte deixou de ser por terra de Johanneburg para Lourenco Marques onde era colocado nos avioes da TAP que o transportavam para Portugal …” devo dizer, corroborando, na qualidade de protagonista, que, sim, era assim mesmo que o ouro seguia para a metrópole,pelo menos no período que reporto em seguida, em que tive a oportunidade de fazer o carregamento de algumas toneladas de ouro nos aviões da TAP, no período entre 1970/74 quando tive a honra de servir essa prestigiosa empresa em MZM. Embora não me recorde da tonelagem carregada, recordo-me que ocupava todo um porão do B747 (Jumbo) pois, devido à grande densidade dos lingotes (talvez 20cm de comp / 20Kg?- não me lembro), tinham que ser calculadamente separados uns dos outros, obedecidos limites de carregamento por m² e especiais procedimentos de amarração para segurança da aeronave e seus passageiros. considerando as variáveis da Força G exercida, principalmente, na descolagem/aterragem da aeronave. Sim, era de avião que o ouro seguia.
Francisco Velasco
Concordo.
Braga Borges
João, obrigado pelo teu artigo.
Agradecer tb ao Raul Almeida, por nos ter disponibilizado, através do link que se encontra inserido no seu comentário, o trabalho da investigadora Cláudia Castelo. Desconhecia este brilhante trabalho. Aconselho, a todos, a sua consulta.
Enfim, o Big Slam no seu melhor.
Nelson Silva
Há também aquele incontornável sentimento bem português – não fazer por não ser capaz ou não querer, mas que se tivesse feito, teria feito diferente e melhor do que os que fizeram, que não tem, por isso, nada de se sentirem superiores só porque o fizeram.
Os que cá ficaram, não foi por inércia, por falta de vontade, por incapacidade de sacrifícios, foi porque não calhou, porque, se calhasse até não deveria ter sido mau terem tentado, pelo menos, os caminhos da Europa. Já para não falar dos Estados Unidos, Brasil ou África do Sul.
Países para onde se foi para se fazer pela vida, para se juntar para a casa na terrinha, para um futuro melhor dos filhos e para a velhice. Enfim, tudo fazer, menos explorar.
Para explorar – e só com o objectivo de explorar – ia-se para as Colónias. Lá, não havia que trabalhar. Nem era preciso: quando não caía do céu, só havia que abanar a árvore das patacas.
Se, os que cá ficaram, tivessem ido para as Colónias – Deus os livre e guarde – nunca teriam olhado para o céu, nem abanado qualquer árvore, mesmo a das patacas, porque mais vale terem ficado como estão, do que terem-se metido em trabalhos.
P.S.: Quanto ao ouro pago pela África do Sul, na sua maioria, nem entrava em Moçambique. Era carregado em Durban ou Capetown e acompanhado até Lisboa, pelo menos, por um funcionário superior da Administração Civil (Inspector ou Intendente) – um deles ligado à minha família.
João Santos Costa
Nelson, tanto quanto sei, e com conhecimento de causa, o ouro, como diz o Victor Pinho, era sempre entregue a Moçambique. Do BNU de LMarques era secretamente escoltado para o aeroporto para ser enviado por avião para Lisboa. Sei isto porque quem enviava a mensagem para o Banco de Portugal era um familiar chegado, e em conversa dizia-me. Eu nunca disse aos meus colegas estudantes para não arranjar problemas ao meu familiar.