FIGURAS MOÇAMBICANAS DO NOSSO TEMPO – Carlos Guilherme
De Moçambique para abraçar o mundo.
A resposta à pergunta feita no fim do post da Natércia Barreto:
– “Adivinha quem se segue em “Figuras Moçambicanas do nosso tempo”?
É fácil!
Porque ao incluir esta fotografia, e o texto que acompanha:
“Carlos Guilherme, (Quando o coração chora). Outro cantor moçambicano de projeção internacional eleito rei da rádio juntamente com a Techa em 1970.”
Não era difícil adivinhar, que seria ele a próxima “figura moçambicana do nosso tempo”.
Tenho de fazer “Mea Culpa”! Porque não sendo um seguidor devoto de ópera, estava longe de imaginar até onde tem chegado a carreira do Carlos Guilherme!
Depois de pesquisar, tenho para mim que, o Carlos, em palco, é o moçambicano do “nosso tempo”, com maior projecção internacional. E ganha até, à moçambicana Mariza. Porque entre eles, é o que mais tem sido solicitado para colaborar com as orquestras de outros países.
Ainda tenho presente o que, nos anos oitenta do século passado, os meus colegas de ensino na escola Emídio Navarro, Joaquim Estorninho e a esposa Maria José, ambos declarados fiéis devotos da ópera do São Carlos, me disseram:
– “Assistimos a uma ópera memorável com um tenor moçambicano de “encher o ouvido”!
Disse-lhe que sabia quem era! Conhecia-o de vista, tínhamos amigos em comum, mas nunca tinha calhado falar com ele.
Mas também sabia, que com a sua voz de tenor “dava cartas”! E não deixava os seus créditos por “mãos alheias”.
O Carlos, por afazeres profissionais, tem andado ausente do grupo de moçambicanos do “nosso tempo”. E por isso difícil de contactar! Consegui, depois de recorrer a alguns amigos comuns, por fim, bater-lhe à “porta”! – “Obrigado Eduarda por me teres facilitado o contacto”.
Foi meu convidado para um almoço de amigos do tempo de escola. Pela sua simplicidade de comunicação, postura e colaboração, constatámos que a “fama não lhe subiu à cabeça”! E não tem dificuldade em criar amizades.
Os dados que vos apresento, uns foram pesquisados; outros foram-me facultados.
Calos Guilherme Rebelo Nunes, nasceu em Moçambique na antiga Lourenço Marques no dia 23 de Abril de1945. Foi depois com a família para a cidade da Beira, onde frequentou o liceu Pêro de Anaia. De volta a L. Marques terminou a faculdade, e foi lecionar nas escolas; Industrial Mouzinho de Albuquerque. – A nossa saudosa EIMA! E na Joaquim Araújo.
Mas fez carreira como cantor lírico, possivelmente porque em miúdo o seu ídolo era o tenor Mário Lanza. E porque também tinha gosto, vocação e qualidades para isso!
UMA CARREIRA QUE FALA POR SI
- Em 1970, lançou um single pela editora Alfabeta e foi consagrado “Rei da Rádio” de Moçambique, juntamente com a Natércia Barreto, vencedora em femininos.
- Foi também galardoado com 4”Óscares” da Imprensa Moçambicana (a Moçambicana), durante 4anos sucessivos foi eleito o “Melhor cantor do ano”.
- Dono de uma voz tenor de excelência, recebeu aulas de canto, na antiga Rodésia do Sul, com Greta Muir. Onde fez parte da companhia de Ópera da cidade de Salisbury, hoje Harare.
- Em 1975 venceu o concurso Internacional de Eisteddfod.
Em 1976 veio para Portugal e foi viver para o Algarve, onde lecionou, mas sempre com o “Bichinho da Ópera” teve como professor Jonh Labarge, no Conservatório Regional do Algarve.
- Em 1980, por concurso, foi selecionado e tornou-se artista residente do teatro Nacional de São Carlos. Onde se estreou na ópera Macbeth.
Na sequência desta atuação seguiram-se uma série de papéis principais. Sempre a somar êxitos!
- Fez parte de Romeu e Julieta, onde obteve um grande sucesso com a célebre canção que todos nós ainda hoje soletramos: “Quando o coração chora”.
- Recebeu o prémio Tomas Alcaide em 1984.
- Com a companhia de Ópera de Florença, em 1987 cantou em França, o papel de Almaviva, em “O Barbeiro de Sevilha”.
- Seguiram-se Israel a convite da Nova Opera de Telavive em “O amor das três laranjas”.
- Em 1990 editou o seu primeiro álbum “Canções de Amor” onde aparece a célebre canção italiana “Guitarra Toca Baixinho” popularizada entre nós por Francisco José.
- O seu disco “Canções em Português” é lançado pela Edisom em 1993. Também neste ano abriu a Temporada Comemorativa dos 200 anos do São Carlos.
E continua a somar êxitos.
- A sua carreira lírica conta já com 88 óperas diferentes, nas quais desempenhou 45 papéis principais.
- Seguiu para Macau onde cantou a parte de tenor em “A missa de Santa Cecília” de Hayden.
- Em 1999 regressou ao São Carlos e estreou-se no papel principal na ópera “La Borghesina” de Augusto Machado.
- Colabora com a Banda da Força Aérea nos 50 anos dessa instituição aonde fez dueto com a Mariza numa versão de “Tudo Isto é Fado”, em 2002.
- Em 2003 atuou em Coimbra num concerto de José Carreras.
Teve actuações com a Anabela, Dulce Pontes, Mariza, António Pinto Bastos e… tantos outros!
- Convém referir a sua colaboração com a Sinfónica Emeritus de São Francisco, a Orquestra de Câmara de Pádua, as orquestras sinfónicas de Budapeste, Israel e Xangai, a Sociedade Filarmónica de Moscovo e a Orquestra do Teatro Comunale de Bolonha.
- No dia 2 de Setembro de 2011 para celebrar os 30 anos de carreira preparou um concerto especial no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde colaborou com a Orquestra de Bandolins da Madeira.
No dia 11 de Janeiro de 2019 esteve na RTP1 no programa Praça da Alegria onde os espectadores presentes cantaram com ele o êxito “Guitarra toca baixinho” e “My Way”.
E depois de tudo isto, muito mais havia para dizer! Possivelmente “coisas” também importantes!
Vamos esperar que, nos comentários, alguém das suas relações e amizade nos confidencie informação sobre essas “coisas também importantes”!
Obrigado pela tua colaboração, Carlos. Nunca é demais recordar às “nossas gentes”, e não só, a tua brilhante carreira internacional que ainda não parou no tempo!
Não percas a entrevista recente de Carlos Guilherme à RDP África (Clicar na imagem seguinte):
Contamos contigo muitas mais vezes no nosso “Ponto de Encontro!” e no grupo das “gentes que não esquecem Moçambique”!
Nesta fotografia “de família” das “gentes que não esquecem Moçambique” faltam o Zé Pedro Cardoso e o Lanzinha, e os restantes são: Manuel Braga, João Romão, João Silva, José Lamy, Francisco Marques, Matias Ferreira, Libório, José Matos, José Maria Matos, Rogério, Amin, José Russel, Mário Silva, Augusto Lopes, António Rendas Pereira, José da Costa “Casquinha”, Mário Machado, Constantino Poulos, Paulo Carvalho, Alberto Rodrigues Luís Pina, Artur Castro “White”, entre outros.
De joelhos: João Santos Costa, José Freitas “Saguim”, Fernando Picão, Carlos Guilherme e o Vasco Coelho.
Não perca a próxima “Figura moçambicana do nosso tempo” – O toureiro Ricardo Chibanga, recentemente falecido.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!
João Santos Costa – 2 de Julho de 2019
13 Comentários
Manuela Coelho
Caríssimo Carlos,
Que mais acrescentar sobre o grande talento deste nosso amigo?
Galgaste barreiras e estabeleceste a tua posição de Cantor com voz única e inegualavel.Desde os tempos da Universidade a lecionar na Escola Joaquim de Araújo e a culminar nos Coros da Universidade fiquei admiradora do teu desempenho em várias áreas.
Aquando da tua deslocação ao Canadá mais uma vez os amigos correram para te ouvir e abraçar. Incluindo eu, a convite do Alexandre Franco, já falecido.
Se tivesses ido para os Estados Unidos viver suplantarias qualquer desses cantores americanos e estarias multi milionário.
A tua tenacidade derrubou continentes. Que continues a cantar por muitos anos para teu regozijo e deleito de todos os que te escutam. BEM HAJAS Um grande abraço Ne Coelho
Carlos Guilherme
Caríssima Amiga:
Obrigado por seres minha Amiga e obrigado pelas palavras que me diriges. Estou contente com o caminho que tomei. Pude estar atento aos meus filhos e agora aos meus netos. Nunca fui escravo da “fama”. Prefiro fazer amigos e ser respeitado. Bem hajas por tanta simpatia.
Um beijo,
Carlos Guilherme
ABM
Muito bom. Não sabia da ligação coca-cola do CG, que nos honra. JSC e BS de parabéns.
ABM
Virgínia Pinto
Excelente reportagem. Soube muitas “coisas” do grande tenor Carlos Guilherme que desconhecia. Ouvi as melodias com alguma nostalgia. Obrigada pela partilha e continua a escrever os teus bons artigos
Manuel Martins Terra
Carlos Guilherme, foi efetivamente um grande senhor do nosso tempo e continua a ser no tempo de hoje. Dotado de um tom de voz invejável, desde muito jovem que começou a conquistar as plateias. A sua condição de professor, onde lecionou na Escola Técnica Joaquim Araújo e na EIMA, nunca foi obstáculo para a carreira artística que desenvolveu. Ainda me lembro de uma atuação sua,interpretando musicas de teor religioso, que teve lugar na Igreja da Munhuana, sublinhada por fortes aplausos do publico presente. Já em Portugal, acerca de três anos, vi-o em atuação na cidade de Valpaços, acompanhando a Orquestra Sinfônica do Norte.
Carlos Guilherme, tem um valioso currículo que fala por si e reconhecido além fronteiras. Creio sinceramente, que ainda pouco se fez no nosso país, para uma justa homenagem por parte da tutela da Cultura, a que justamente e por direito próprio tem direito. Uma palavra de apreço para o João Santos Costa, por o ter trazido para a coluna dos notáveis.
Carlos Guilherme
Peço desculpa por uma resposta que era endereçada a outra pessoa.
Agora comentando o seu comentário quero agradecer-lhe tudo o que diz a meu respeito e que muito me sensibilizou.
Pelo que vejo já nos cruzámos. Não estou a visualizar a sua pessoa mas os dados que me menciona são correctíssimos. Fui de facto professor tendo começado na Escola Industrial M.Albuquerque e depois passei para a Joaquim de Araújo. Nessa altura era artista amador no RCM e fazia esporádicos concertos na Igreja de Santo António da Polana. Nunca pensei em profissionalizar-me. Tal só aconteceu em Portugal quando aos 35 anos de idade entrei para a Companhia de Ópera no Teatro de São Carlos. Nessa altura fui requisitado ao Ministério da Educação pelo Ministério da Cultura. A partir da o canto passou a ser a minha ocupação a tempo inteiro.
Mais uma vez obrigado e um grande abraço
Carlos Guilherme
FERNANDO DE CARVALHO
Não conheci o Carlos pessoalmente mas, lembro-me bem de ouvir falar dele quando lá estávamos. Por ouvi-lo cantar GRANADA, lembrei-me de uma outra voz forte e com bom timbre que ganhou um concurso em Johannesburg, com essa mesma canção ( GRANADA ) . Foi BELO GRAÇA, de seu nome, e que nada mais soube dele. Alguém sabe o que é feito dele e o seu paradeiro, que me possa informar ? Fomos colegas nos C.F.M.
Carlos Guilherme
Lembro-me bem do Belo Graça. Fui amigo dele (embora muito mais novo) e ainda partilhámos alguns programas de variedades do Rádio Clube. Hoje em dia não sei nada dele.
Grande abraço
Carlos Guilherme
João Romão
João, mais um artigo com a tua chancela, que é o mesmo que dizer FANTÁSTICO.
M. Eduarda Rebelo Nunes
Obrigada João por mais esta publicação. Parabéns por ter sido incluída a Entrevista. Eu bem gostaria que ” portugueses de gema”, aqueles que nunca visitaram as colónias, a ouvissem, para compreenderem o que nunca lhes foi explicado: a guerra em Moçambique.
Falar eu do meu irmão, está fora de questão… a sua forma de estar, singela e tão desprovida de vaidades, não me deixaria comentar o que ficou, eventualmente por dizer. Para Carlos Guilherme, a família esteve sempre acima da sua carreira profissional. Rejeitou oportunidades de viver no Estrangeiro (a Itália foi uma das opções) para que não existissem ausências prolongadas em relação ao núcleo familiar. E mais não digo…
Maria de Fatima
obrigada João por partilhares connosco esta figura tão nossa conhecida. Adoro ainda hoje ouvir o Carlos Guilherme. Aliás tenho várias músicas dele no spotfire. Uma voz linda de tenor. Faz lembrar o grande Mário Lanza.
Candido Azevedo
Carlos Guilherme é um grande amigo e um grande Homem para além de excelente cantor. Quero realça uma coisa que aqui não foi referido: cumpriu o seu obrigatório serviço militar como Oficial miliciano. Na recruta fui seu companheiro de pelotão lado a lado . Eramos os primeiros por não sermos altos. Eu um miúdo acabado de sair do liceu. Ele já formado creio em engenharia. Então ao longo daqueles meses foi um autêntico “irmão mais velho” com as suas ajudas, o seu aconselhamento, o seu apoio quando eu ou outros ´íamos abaixo”. Acabada a recruta, cada um foi para o seu lado e creio desde então só me encontrei pessoalmente uma vez. Mas as amizades não têm datas, pelo que sigo com gosto a sua relevante carreira de cantor. Felicidades e até um dia destes amigo.
Cândido Azevedo
Carlos Guilherme
Caro Cândido. Que prazer tive em ler o teu comentário. Obrigado por tudo. Como bem dizes, a amizade não tem datas e a tua é preciosa para mim.
Grande abraço