FIGURAS MOÇAMBICANAS DO NOSSO TEMPO – O Gigante de Manjacaze
Tenho vindo a publicar no BigSlam, alguns artigos sobre “Figuras Moçambicanas do nosso tempo”. O último publicado foi sobre o “Piricas”, achei por bem lembrar outra!
Esta, conhecida além-fronteiras – “O Gigante de Manjacaze”.
Era o homem mais alto do mundo com cerca de 2,5 metros de altura.
Chamava-se Gabriel Mondlane. Nasceu em Moçambique na vila de Manjacaze em 1944 (?), e faleceu no hospital de Maputo, em 1990, com 45 (?) anos.
Ainda jovem, – para ver se os médicos conseguiam descobrir e travar as causas do seu crescimento anormal, – esteve internado no hospital Miguel Bombarda, da capital moçambicana.
Não me recordo de o ter visto em pessoa. Nem sequer de me cruzar com ele!
Porque, – ao contrário de outras figuras conhecidas que se podiam ver nas ruas e em locais públicos, – O Gigante de Manjacaze, – sem cometer crime algum, mas para o “negócio não ir por água abaixo”, via-se privado da sua liberdade! – Recatava-se e não aparecia em público.
Restou-me acompanhar o seu percurso de vida pelos meios de comunicação!
Lembro-me de, na antiga Lourenço Marques dos anos 60 do século passado, no cinema Manuel Rodrigues, o ver um curto filme inserido num documentário da série: “Assim vai o Mundo”, onde ele aparecia a actuar numa feira.
Foi por intermédio de um empresário de nome (?) ou alcunha, Chora, que veio para Portugal.
Nos espetáculos, como forma de evidenciar a sua altura, fazia dupla com o Toninho de Arcozelo, um anão que media 75 centímetros.
Teve projeção fora da sua terra natal. Porque além das principais cidades de Moçambique, esteve também em Angola, Portugal, Tailândia e outros países!
Onde era apresentado em espetáculos de feiras e palcos, a troco da cobrança de entradas.
– […] “De acordo com fontes documentais era explorado por empresários e promotores de espetáculos no período colonial. […] “ (In, Diário de Moçambique, 23-06-2011).
A sua biografia é apresentada no artigo do Rui Ochôa, publicada no Jornal Expresso a 3Out2009, com o titulo: – “Setembro de 1989 – A queda do gigante”.
– “[…] Chamava-se Gabriel Mondlane, media 2,45 metros, pesava mais de 180 quilos, e era considerado o homem mais alto do mundo, fazendo parte do Livro de Recordes do Guinness. O gigante de Moçambique, como era conhecido, veio pela primeira vez a Portugal em 1969, causando grande alvoroço e curiosidade: em circos ou eventos privados, Gabriel era exibido pelo país como coisa rara e insólita, tendo viajado por todo o mundo. Regressou a Moçambique após a independência da antiga colónia. Mas as coisas não lhe correram de feição e rareavam os espetáculos. Casou-se e teve três filhos, vivendo do que lhe dava o restaurante que criara com o dinheiro (pouco) ganho com as exibições. Voltou uma segunda vez a Portugal, em 1979, mas o infortúnio perseguia-o: no Coliseu de Lisboa deu uma queda ao tentar subir as escadas, o que lhe provocou danos graves numa perna e a necessidade de um implante que foi fazer na África do Sul. Regressou pela última vez a Lisboa em Setembro de 1989, alvo da mesma curiosidade de sempre, e vítima dos mesmos interesses que o faziam deslocar-se penosamente pelo mundo. Uma nova queda, em Janeiro de 1990, no quintal da sua casa em Mandlakazi, a sua terra natal, foi-lhe fatal: fez um grave traumatismo craniano, não recuperou, e morreu no Hospital de Maputo com apenas 45 anos….[…]”
Dizem que o seu “momento de glória” foi aparecer – ou mostraram-no (!!!) – em conjunto com o Toninho de Arcozelo no mosteiro dos Jerónimos em Julho de 1970 na vigília do funeral do Dr. Salazar.
Pelo que li e ouvi; tenho para mim que, entre outros, este percurso de vida do Gigante de Manjacaze mostrava o aproveitamento feito sobre pessoas com deficiência, para entretenimento das massas. Tal como são hoje os “reality shows” apresentados pelas televisões.
Fonte: Wikipédia
No próximo artigo sobre “Figuras Moçambicanas do nosso tempo” vamos todos cantar: “Os óculos de Sol”. Lembram-se?
Adivinhem de quem estou a falar?
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!
João Santos Costa – Maio de 2019
13 Comentários
Alonso Rubio
Yo lo ví en Badajoz (España), a finales de la década de los años sesenta o muy a principios de los setenta.
Creo recordar que fue con motivo de la ya desaparecida “Feria de San José”, cuyo real, mucho más reducido que el de la Feria de San Juan, se instalaba junto a Puerta Pilar, en los terrenos conocidos como ” Salto del Caballo “. Este señor, ” El Gigante”, era exhibido como una atracción de feria, como una rareza, lo mismo que si se tratase de “La Mujer Barbuda”, ” El Hombre con dos cabezas” o dos hermanos siameses unidos entre sí por la parte más inverosímil de su cuerpo.
Recuerdo que “el espectáculo” comenzaba con un presentador que anunciaba la inminente salida al escenario del “Hombre más alto del Mundo” Hecha la presentación, quien aparecía era un hombre que no llegaba al metro de altura, llamado Lucio, lo que desataba la risa de los espectadores. Deshecho el malentendido, aparecía “El Gigante”. La diferencia de tamaño entre ambos personajes suscitaba la admiración del público.
A pesar de mi poca edad, la figura del gigante me provocó una gran tristeza. Su rostro expresaba pena y sus ojos parecían perdidos. A todo ello colaboraba la sordidez de la barranca, una especie de tienda de campaña grande, de lona y mal iluminada.
Nunca más quise entrar en uno de estas atracciones de feria. Siempre tuve la impresión de que solamente servían para satisfacer el morbo de los visitantes a costa de la desgracia y el sufrimiento de otras personas.
Alonso.
FERNANDO CAPELA
Figura inesquecível.
dave adkins
Estive em LM de 71 a 74 e nunca vi o Gabriel. . simplamente li da sua vida fascinante, também triste e trágico. Não posso imaginar o seu descomforto de viajar, uma necessidade do seu trabalho. . .
Nuno Castelo-Branco
https://estadosentido.blogs.sapo.pt/262395.html
Martins Reis
Cheguei a velo no circo Mariano na cidade da Beira Moçambique assentado num caixote de madeira énorme ,nāo me agradou muito eu era ainda criança meados de 1968…
Luís Monteiro
Vi-o na feira popular em 1969 .Fazia dupla com um anão! Era realmente um gigante! Pagava-se um bilhete para os ver. Dizem que fraturou uma perna foi operado e levou como protese um osso de vaca. Paz à sua alma.
Isaac Santos
O Salazar, morreu a 27/07/1970, pelo que a indicação do gigante estar na sua vigília em junho do mesmo ano, não está correcta.
Cumprimentos.
BigSlam
Obrigado pelo alerta, já foi feita a rectificação, foi um lapso de escrita, julho e não junho. Aquele abraço.
Candida
Obrigada a quem nos faz avivar as memórias com narrativas muitas vezes desconhecidas na versão real, bem me lembro do doce olhar do nosso GIGANTE e da revolta que me provocava a exploração e sofrimento a que foi sujeito por gente sem escrúpulos, a indiferença da sociedade de então marcou bem a minha juventude. Saudades de ti pequeno Grande homem.
Maria decFatima
Quem não se recorda dele. Tenho uma foto dele tirada no Hospital Miguel Bombarda com uma enfermeira minha Amiga.
Katali Fakir
A História é memória, memórias do passado, boas ou más, são o registo dos momentos marcantes e/ou de pessoas notáveis que da lei da morte se vão libertando. O “gigante” de Mandjakaze, o nosso Gabriel ficou no nosso horizonte da memória não pelas nobres causas, outrossim por ser vítima de uma patologia que então não foi na circunstância tratada em tempo como soía. Em face ao seu infortúnio, para a vida teve de encarar todo o tipo de handicaps naturais decorrentes não só das barreiras culturais que teimam em existir como o aproveitamento de uma oportunidade de negócio com “o silêncio dos inocentes”. Quando o fenómeno do Gabriel eclodiu nos idos 60, eu como todo “mufanita” com os meus 7, 8 anitos, cuja curiosidade era imensurável maior do que o tamanho e o pensamento, fui ver o “espectáculo” , se bem me lembro apresentado numa loja em Lourenço Marques. Confesso que o instante, e não obstante a idade foi tão estranho e assustador que percebi essa minha estranheza, não foi nada mais nem menos do que uma instintiva e inocente negação de uma criança do que acabava de ver… Mais tarde, em Lisboa quando vi o filme com a interpretação de David Bowie, encarnando a personagem do “Homem Elefante” percebi quão nojenta e aberrante foi a exploração de uma Pessoa com Deficiência e Incapacidade, que era vítima injusta de uma ciência médica que ainda não chegava aos grupos socias mais desfavorecidos e das populações mais vulneráveis. Contudo, um enorme Kanimambo ao grande amigo João por mais uma belíssima reportagem. Aquele abraço, Katali.
Marília Manuela Ventura Nunes Marques
Recordo com saudade o tempo em que “conheci” o referido “gigante”. Em Agosto de 1967 regressei definitivamente a Lisboa com os meus pais (creio que no início do mês), viajei de Lourenço Marques para a Beira com o gigante de Manjacaze no mesmo voo (o aeroporto de Lourenço Marques não estava ainda preparado para receber os Boing 707) e daí seguimos para Lisboa. Recordo que vinha sentado um pouco mais atrás e do lado direito, dado que com a minha curiosidade de criança não podia deixar de olhar. Posteriormente e já adulta, senti que não era a atitude correcta, o facto de fazerem dele uma atracção. Penso que o seu percurso de vida foi quase sempre triste, salvo melhor opinião.
Rui Osório Gouvêa
Vi-o várias vezes em Lisboa e em Lourenço Marques “exposto” num circo e numa loja de pronto a vestir, respetivamente.
Sentimento de profundo pesar e de tristeza pela exploração humana de que era vítima a que se sujeitava para sobreviver.