Marracuene e Macaneta
Foi em 1962, ou 63? Já não me lembro!
Que o Zé Manel de Sousa (o Spit mais novo) e o Zeca Soqueiro, que Deus tenha ambos em descanso, me desafiaram para ir com eles de motorizada a Marracuene. O Spit na NSU dava boleia ao Zeca, e eu na Victória Avanti dava-lhe boleia no regresso.
A viagem coreu bem! Quando lá chegamos ainda pensamos apanhar o batelão até à praia da Macaneta, que nós não conhecíamos! Mas fazia-se tarde e desistimos.
Só conheci essa linda praia passados tempos!
Depois de um passeio de reconhecimento pela Vila, bebemos uma coca-cola, comemos uma arrufada e fizemos a viagem de regresso a Lourenço Marques.
O nosso itinerário está marcado a azul, pela EN1. No mapa está também indicado um itinerário a cinzento que na época era uma picada em muito mau estado que começava a seguir à praia dos pescadores da Costa do Sol, e que na estação das chuvas não dava passagem.
Esta nossa aventura para mim era grande, porque a estrada EN1 era/é a principal via que liga o sul ao norte de Moçambique, e por isso com muito movimento de veículos pesados. E eu nunca tinha feito uma viagem tão longa de motorizada. E também só conhecia Marracuene de, por uma vez ou outra, lá ir passear com a minha família para ver os hipopótamos.
Marracuene era/é a primeira vila moçambicana, cerca de 30 quilómetros ao norte da Capital. Encontra-se situada na margem direita do rio Incomáti. É atravessada pela Estrada Nacional 1.
Durante o período colonial, era conhecida pelo nome de Vila Luísa. E chamou-se assim durante muitos anos! Sendo a Luísa uma filha do conselheiro Joaquim José Machado (engenheiro, militar e político).
Mas a Vila foi sempre conhecida como Marracuene!
A origem do seu nome tem algumas versões, mas parece ser consensual que deriva do nome de um indivíduo, de nome Muzrakwen, operador do transporte de barco que fazia a travessia entre as duas margens do rio Incomáti.
Tudo leva a crer que desde 1920 fosse servida desde Lourenço Marques pelo comboio que fazia a linha do Limpopo e tinha ali uma estação.
A entrada pela avenida Mouzinho de Albuquerque era servida pelo caminho-de-ferro. A vila era um destino turístico para quem a visitava com os seus outrora esplêndidos jardins.
Nas décadas de 1920 a 1960, um dos passeios dos fins-de-semana das “gentes de Lourenço Marques” era apanhar o comboio até Marracuene e poder desfrutar a vista desde o salão de Chá situado num pequeno promontório junto ao rio Incomáti.
O Salão de Chá, com vista para o rio Incomáti, na altura com muitos hipopótamos e jacarés, que eram a grande atração! Organizavam-se excursões pelo rio acima para os ver.
Marracuene tem também valor histórico! Por ali próximo se ter travado no dia 2 de Fevereiro de 1895 a conhecida “batalha de Marracuene” em que pela primeira vez houve um combate militar entre tropas portuguesas, comandadas pelo major Caldas Xavier, e um exército ronga comandado pelo príncipe Zixaxa, integrante do exército Gungunhana, e que ameaçavam invadir Lourenço Marques.
Hoje Marracuene é uma vila moderna com muito movimento de rua, com oferta de hotelaria, e é um subúrbio que delimita Maputo pelo Norte.
Mas a grande parte desse movimento deve-se ao ser o principal ponto de passagem para a praia de Macaneta. Outrora servida pelo Ferry.
Porque a construção da ponte sobre o rio Incomáti, em Marracuene, está a imprimir um novo dinamismo na vida social e económica na localidade costeira da Macaneta, onde milhares de pessoas têm afluído, nos últimos tempos, para desfrutarem das suas potencialidades turísticas.
A Macaneta é uma ilha peninsular que dista uns 15 quilómetros a leste de Marracuene, e apenas a 33km ao norte de Maputo.
Desde o tempo colonial foi considerada um destino turístico devido à sua longa praia.
É constituída por uma estreita faixa de terreno arenoso, estendendo-se numa direção norte-sul com aproximadamente 12 km de comprimento, 2 de largura e forma uma barreira entre o estuário do rio Incomáti e o canal de Moçambique.
As suas praias são magníficas, com grande oferta de hotelaria e são o destino favorito para férias, por estarem relativamente perto da Capital.
O Vamili Lodge oferece acomodações de luxo para aqueles que desejam relaxar num ambiente tranquilo e exclusivo.
Tan-N’-Biki é um Lodge com acomodações confortáveis e uma variedade de opções de lazer para os visitantes.
Esta é a Macaneta que eu já não conheci!
- Fotos retiradas com a devida vénia dos blogs The Delagoa Bay e House of Maputo.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno…. Muito pequeno!
João Santos Costa – Janeiro de 2024
17 Comentários
Iris
Bem Haja João por este maravilhoso texto. Lembro me muito vagamente de Marracuene, mas pela descrição que li fico com imensa pena de não a ter conhecido melhor. Penso que havia um hospital bem conhecido S. José de … ? Penso que foi lá que nasci. Obrigada por esta viagem no tempo.
Augusto Martins
Amigo João,
Acabei de ler o maravilhoso artigo, que penhoradamente agradeço.
Eu vivi diariamente em Marracuene desde os 7 até aos 36 anos. E foi de lá que parti para Portugal, em 30/Dez/1976.
Aí assisti de perto e ao vivo a tudo o que por lá aconteceu. Foi lá que partilhei as primeiras carteiras da escola Roque de Aguiar, e as brincadeiras e tropelias da adolescência feliz. Foi de lá que me casei. Foi lá que conheci as centenas de pessoas que por lá passaram e viveram durante todo esse período. Foi lá que ficou e ainda continua a existir, a nossa casa e as várias propriedades onde semeámos, plantámos, cuidámos e deixámos obras feitas que representam o fruto do trabalho dos meus Avós, dos meus Pais e dos nossos descendentes.
Ainda hoje sou capaz de reconstituir, de memória, a localização das moradas de cada família, os seus nomes e actividades profissionais, assim como, de mencionar e localizar as casas existentes em 1946 e a sequência das que foram sendo construídas posteriormente, até 1975.
Por tudo isso, julgo que pode avaliar quanto me sensibilizou a leitura deste artigo, mesmo e apesar de uma ou outra, pequena e desculpável incorreção, mencionada nesta página da história daquela vila, onde passei um período inesquecível da minha vida.
Fico-lhe muito agradecido por tudo isso, enviando um grande abraço, com os meus votos de muita saúde.
Paula
“O gente da minha terra”
Marracuene, macaneta (no início não gostava de ir para lá porque não tinha ninguém a não ser meia dúzia de casinhas de praia… e hoje quem te vê zona privilegiada).
Vila Luísa onde havia o monumento do Kungunhana (não sei se é assim k se escreve) e onde nos picnics de família (que passávamos a vida a encurtar formigas) se fazia “excursões” para apanhar e comer o fruto que dá a castanha de caju (fresco e doce sabor exótico e áspero no nas fibras no fim).
Saudades na verdade!!! Mas um privilégio estas memórias que nada nem ninguém as leva ou tira e fazem de nós o que hoje somos!!! Abençoados foram todos os nossos antepassados no que construíram e contribuíram com a sua vida e existência para tanta grandeza!!!!
Abencoados todos nós que o vivenciamos.
Um abraço a todos
João santos costa
Quero vos agradecer o tempo que dispensaram a ler e comentar este meu artigo sobre a vila de “Marracuene e a praia da Macaneta.”
Pela amizade e consideração que tenho por todos, estão convidados a colaborar nas futuras publicações do BigSlam.
Bem hajam pela participação.
JSC
Joca Calheiros
Celeste, eu também vivi em Vila Luíza, hoje era dia de irmos ao monumento em memória da batalha de Marracuene,vivia na estação velha, aqui referida, já instinta,a linha passou para junto do rio, bjinho
Augusto Martins
Alô, JOCA CALHEIROS !
Quem és tu? E em que época viveste na Estação Velha ? Pelo que dizes eu fuiteu vizinho, porque en morava, desde 1946 até 1968 na casa mais próxima, que era a Central Eléctrica.
Grande abraço, ficando a aguardar notícias para “mairesau@gmail.com”.
Angelina
Amigo João, adorei o texto e as fotos!
Depois de ler fica o desejo de conhecer tão belas paisagens e paia, tenho uma vaga lembrança pois vim para Portugal em Agosto de 1974 apenas com 13 anos, regressei depois da independência mas só lá estive um ano e já nada era como antigamente.
Beijinho
Wanda Serra
Hi bom amigo João.
Como spre estas de parabens pelos fantasticos textos ,artigos que me deixam deslumbrada e me fazem reviver todo esse passasdo maravilhoso.
Mto obgda João
Beijinhos
antoniojosecuamba11@gmail.com
Bom dia facebookeiros amigos de Marracuene! Sou natural da Maxixe vivendo em Maputo desde Anos 60 do Século 19? Penso que Marracuene tem qualquer magia; quem a conhece não a larga mais. Minha humilde opinião. Aquele Abraço fraterno e ótima Praia de Macaneta 🙏🏼☕
Celeste
Tantas saudades que tenho de Marracuene, onde vivi a partir dos meus 8 anos de idade. O meu falecido pai, conhecido por sr. Costa, era o encarregado da mata enorme que existia em Marracuene. O lindo jardim á beira rio, era da responsabilidade dele. Obrigada, obrigada pela sua partilha
José Alexandre Bártolo Wager Russell
Marracuene um sítio onde eu e os meus pais íamos algumas vezes (especialmente aos fins de semana ), para naquela encosta ajardinada, com uma vista soberba sobre o rio, fazermos um piquenique, e aí almoçarmos. Lembro-me bem que se levava uma mala em verga, que se abria e ficava uma mesa, Dentro da mala, havia os pratos e os talheres. Rapidamente estava montada para se comer. Outras vezes, não era preciso, bastava uma manta no chão. Era só servirmo-nos da panela, e poisar os pratos e talheres na manta. O pior eram as formigas. Tinham a mania de se fazerem convidadas. Mas eram sacudidas a tempo. Bons tempos, e boas recordações caro João.
josé carlos alves da silva
Amigo João, fiz algumas viagens como as suas, por esses mesmos sítios e paragens. Resumo numa palavra…. saudades.
jose pedro cardoso
Boa João. Que belas recordações, das pessoas, o Spit (meu primo direito) e do Zeca Soqueiro,e das maravilhas que existiam e que lamentávelmente não as conseguem manter. Tem outras novas, também bonitas, mas……as antigas eram espectaculares.
Parabéns
Um abraço
ZP
Luis Batalau
CAROS AMIGOS
SIM ESTA NÃO É A VILA DE MARRACUENE QUE EU CONHECI, ATÉ 1974, PONTO DE PASSAGEM PARA INHARRIME E MORRUMBENE. MACANETA TAMBÉM NADA DO QUE É HOJE E LI NO BIG SLAM.pt.
OBRIGADO PELAS INFORMAÇÕES
João Carlos Guerra Mendes de Almeida
João, continuas a fazer com que continuemos a sentir tantas saudades daquela que era a nossa terra. Obrigado por isso e um grande abraço. Ambanine e Kanimambo.
Manuel Martins Terra
Caro amigo João, belos tempos aqui sublinhados e que nos recordam Marracuene e a Macaneta, de outros tempos. Hoje Marracuene, sofreu grandes alterações sobretudo na área de hotelaria, devido à deslocação da FACIM, para os seus terrenos. Também a Macaneta, ficou a ganhar com a passagem da autoestrada, que passou a ligar Maputo a Marracuene num troço de cerca de 25 Km, e que se elevava a partir do Bairro Triunfo. Um dos pilares está situado no terreno que o meu saudoso pai tinha comprado, e que se localizava na reta que ligava o Bairro das Mahotas ao Bairro dos Pescadores. Enfim, a vida tem destas coisas. Um abração, do amigo Manel.
Manel
Ana por aquilo que li é parte do que estás a escrever,as tuas memórias beijinhos