MOÇAMBIQUE: Do Rovuma ao Maputo (?)
Com as altas chefias militares instaladas no conforto do ar condicionado, no sul. E a insurreição de extremistas a alastrar, no norte!
Como espectador atento a tudo que se passa nos PALOP, mas com um interesse especial por Moçambique, tenho verificado que o governo moçambicano tem beneficiado mais as populações da capital, esquecendo as do norte!
Porque, a seguir ao acordo de paz feito com a Renamo, não ter reforçado a presença militar nas províncias de Cabo Delgado e Niassa, está agora com muitas dificuldades em conter os grupos terroristas que ali actuam.
E se continuar no conforto do ar condicionado na capital e não agir rapidamente, a situação militar no norte pode complicar-se muito mais!
Segundo o Jornal Sol 9Fev2020:
Até há pouco tempo, a insurreição era só no distrito de Cabo Delgado!
“ A misteriosa insurreição jihadista em Cabo Delgado
“….Há mais de dois anos que Cabo Delgado, uma província de maioria muçulmana no norte de Moçambique, muito rica em recursos naturais, enfrenta uma misteriosa insurreição de extremistas islâmicos, que ganhou novas dimensões nas últimas semanas: o saldo vai em mais de 350 mortos e dezenas de milhares de deslocados. «A população está assustada de tal maneira que se ouvir um tiro sai tudo para o mato», conta Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo de Pemba, sede da província, onde chegam cada vez mais refugiados. «Há muitas aldeias vazias, outras com menos pessoas porque fugiram para as vilas, que também estão sendo atacadas», explicou o bispo. Está sempre presente o receio de uma crise alimentar, após uma época de seca no sul do país e chuvas fortes no centro e norte, após os ciclones Idai e Kenneth. «Muita gente não está a plantar porque fugiu», lamenta.
“….O mais recente ataque foi no distrito de Quissanga, esta semana: sete pessoas foram decapitadas, segundo a Carta de Moçambique. Logo no início do ano, no mesmo distrito, foram destruídas habitações e edifícios públicos nos arredores de Bilibiza….”
Mas agora também já se estende à província do Niassa.
“ Niassa, As Forças de Defesa e Segurança (FDS) estacionadas no distrito de Mecula confrontaram-se esta quarta-feira (12/2) com um grupo armado de desconhecidos. O porta-voz da polícia, no comando provincial do Niassa, Alves Mate, explicou que, quando se aperceberam da presença da polícia, os indivíduos encetaram uma fuga. Quando se aproximaram a este acampamento, foram recebidos a tiro por estes indivíduos desconhecidos, o que obrigou a polícia a responder.
Houve troca de tiros e esses bandidos acabaram abandonando o acampamento. Nós encetamos uma intensa perseguição mas eles conseguiram escapulir, disse. Alves Mate reiterou que as autoridades estão no terreno para capturar os referidos indivíduos. (RM) P.”
Este “filme” que agora está a passar, e tem o “cenário” destas províncias, eu já o vi há muitos anos! Também participei nele como actor e figurante.
Porque, ao cumprir o serviço militar obrigatório para todos os jovens do “Império português”; durante a guerra colonial fui mobilizado para Vila Cabral (hoje Lichinga) na província do Niassa.
E mais tarde destacado para o quartel-general de Lourenço Marques (Maputo). Onde tinha acesso à informação enviada pelas companhias que actuavam no “ teatro de operações”.
Em Vila Cabral a minha missão era dar segurança em escolta, às colunas civis e companhias militares que chegavam, ou regressavam à Metrópole.
Por conhecer a zona, sei quão difícil era/é operar nas picadas e terrenos com aquela geografia!
Esta era também a opinião dos meus camaradas, e do cidadão residente, Daniel Roxo. Que por ter sido caçador profissional, falava o dialeto local e era quem melhor conhecia a província do Niassa.
Lembro-me de, em conversa com ele e outros camaradas, junto ao café em Vila Cabral, o ouvir dizer que: – “Era difícil entrar naquele mato e terreno! E só o conhecia bem, porque tinha a colaboração e apoio dos seus homens.”…Todos moçambicanos!
O Roxo, como era conhecido, pela sua colaboração com o exército português foi o civil mais condecorado!
A guerra colonial começou no distrito de Cabo Delgado, nos anos 60 do século passado. Estendeu-se ao Niassa, e depois a outros distritos. Só terminou com o 25Abr74.
Era “voz corrente” entre todos, civis e militares, que esta guerra teve como antecedente, entre outras causas: – “Por o governo de Lisboa ter votado ao abandono aquelas populações do norte”.
Possivelmente(?) por estarem longe da capital do “Império”, digo eu!
Hoje, para exploração dos seus recursos naturais, já começou a ser feito algum investimento nessas províncias.
Mas, se não houver um reforço militar, uma vigilância apertada nas fronteiras, não se proceder ao realojamento das populações deslocadas e não forem tomadas medidas para acabar com a pobreza! – Cada vez se torna mais difícil às forças da ordem acabar com estes ataques feitos por grupos islâmicos armados, vindos do exterior.
E no limite o governo pode perder o controle. E Moçambique, tal como o conhecemos, ficar dividido e separado dessas duas províncias.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!!
João Santos Costa – Março de 2020
5 Comentários
Francisco Velasco
Caro João
Não podia ser de outra forma vindo quem vem… Deu-me imenso prazer em ler o artigo que absorvi linha a linha, pois revelou-me trechos da vida em Moçambique que desconhecia de todo. Como é sabido estive fora de L.M. desde 1961 quando fui para Timor após o que, descontente com o ambiente que encontrei no meu regresso, em 1964, quando quasi tudo estava parado na minha área profissional, decidi “voar” mais uma vez, partindo para Johannesburg, onde permaneci 13 anos. Daí que a qualidade dos teus escritos e conteúdos vieram colmatar o buraco cavado como consequência das minhas ausências. E ver-te sentado na auto-metralhadora qual Silvester Stallone preparado para uma emboscada que acho não ter acontecido. Um fraternal abraço fraternal.
João Costa
Olá “Amigão”
Tudo das tuas passagens por Timor, ÁSul e Itália eu conheço! Assim como as tuas melhores jogadas do Grande mestre do hóquei que foste.
Quanto ao Stallone! Eu realmente conheci um. – Chamava-se Daniel Roxo.
falaste na emboscada? Olha, não sei se foi nesta escolta para Maniamba, junto à povoação do Bandece,que, entre outras, fomos “brindados” com uma! Com uma evacuação por helicóptero.
Enquanto este “míssil” a que chamam coronavírus estiver activo não dá para sairmos de casa! Pede ao Cláudio para ser ele a fazer as compras.
Um abração Chico.
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António Amorim Lopes
Tenho muita pena que as coisas levassem o rumo que levaram. As populações de todo o Moçambique merecem melhor sorte. Terra boa e óptimas gentes. Durante todos os anos em que ali vivi (onde nasceram os meus filhos) só tenho a dizer bem de com quem privei. Concordo plenamente com os comentários que apontam os principais culpados.
João Carlos Guerra Mendes de Almeida
João…nem sei por onde começar…ou se vale mesmo a pena começar!
Como sabes tudo isto é muito mais complexo do que podemos imaginar. O certo é que fomos um joguete na mão de quem nos entregou, de quem ficou com o que era nosso, de quem estava interessado em lá ir roubar os recursos daqueles novos países, completamente marimbando nos que de lá saíram de mãos a abanar, para começar uma nova vida sabe lá Deus onde, e para os que lá ficaram, convencidos que iam ficar com tudo que lá tínhamos todos construído…mas que era preciso saber e querer manter! Portanto João…pena, pena…tenho dos nosso pais, a que destruíram todos os sonhos. Os outros…que se amanhem! Espero que um dia, provavelmente só muito depois de partirmos, se conte a verdade e se venha a saber quem eram realmente aqueles heróis que hoje são aplaudidos, Otelo, Vasco Lourenço, Mário Soares, Almeida Santos …se fosse nomear todos não caberiam aqui.
Um grande abraço, ambanine.
Grande abraço
Fernando Fonseca
Trabalho de investigação perfeito aliaz não se esperava menos. O que vai acontecer a Moçambique?? E faço também a pergunta. O que irá aço tecer à Europa????
Em vez de prevenção, abrem-se as portas.
Cara João, vamos ver se ainda a Europa entende…. Abraço