Parabéns Moçambique!
Mais um ano de Moçambique independente. Parabéns ao povo moçambicano!
Ao passar mais um ano da independência de Moçambique, não vou falar da guerra colonial/libertação!
Embora reconheça que depois de passados todos estes anos está no esquecimento de ambas as partes. E por isso já não causa traumas e cada um pode expressar livremente a sua opinião.
Mas vou recuar no tempo!
Ao período anterior ao seu início e constatar o que nos poderia ter acontecido se a independência de Moçambique tivesse sido negociada com um “governo multirracial” que fazia parte do nosso sonho.
Como não sou político, tal como eles, também posso dizer disparates ao manifestar a minha opinião. Por isso aceito como válidas todas as correções que me possam ser feitas.
E se a guerra colonial não tivesse acontecido?
Era, e ainda hoje é, opinião de políticos e ex-residentes no ultramar português (eu incluído, porque na época também pensava assim!) que as guerras coloniais só aconteceram porque, o governo de Lisboa não soube compreender os “ventos da história” com o aparecimento dos novos países independentes.
E a partir dos anos 40 do século passado não quis, ou soube, preparar elites africanas para a formação de governos “multirraciais” nas suas colónias!
E se a formação desse governo tivesse acontecido com essas elites?
Vamos supor que Lisboa tinha sabido compreender os “ventos da história” e a independência das colónias tinha sido negociada com essas elites, ou com outros líderes moderados para que a formação desse governo “multirracial” tivesse sido uma realidade.
Todos sabíamos e estávamos a par que a situação social, económica, e política de alguns dos novos países que tinham adquirido a independências não era nada recomendável.
Sabíamos que essas populações não tinham segurança, estavam sujeitas a constantes “golpes de estado”, tumultos entre facções políticas, saques, assassinatos e procuravam apoio noutros países! Tal como ainda hoje se continua a verificar em alguns países africanos. Principalmente na África do Sul que, por ser um país rico e ter padrões de vida europeus, na época era uma referência para nós.
Mesmo a constatarmos tudo isto, ainda tínhamos ilusões! Que nada ia derrubar o “nosso governo multirracial” porque tinha sido negociado de boa-fé e tínhamos apoio dos países nossos vizinhos.
Estávamos esquecidos que o guião do “bota abaixo governos” seguido pelos países africanos tinha de continuar!
E que mais cedo ou tarde, iriam aparecer os novos “senhores da guerra” a favor da negritude, que por um golpe de “bota abaixo” acabavam com o nosso governo “multirracial”. E de seguida por inveja, começavam com as perseguições à classe média, empresários, políticos, …e outros!
E se assim fosse, qual era o nosso futuro nesse novo país?
Ou continuávamos lá, “com o coração nas mãos”, sujeitos a roubos, raptos, assaltos, e dependentes das “tropelias” dos novos ditadores do “quero posso e mando”!
Ou saíamos procurando vida nova e segurança noutro país. Tal como nos aconteceu anos mais tarde com a independência unilateral.
Ao constatar tudo isto verifico que, para nós na diáspora, com um “governo multirracial ou com a guerra colonial”, hoje estávamos nesta mesma situação, ou noutra que no limite, até podia ser pior!
E Moçambique já não passa de “um sonho lindo”! Difícil de apagar da memória o tempo que lá passámos.
O que fica para a história é que, passados estes 48 anos de independência, Moçambique é um país rico e, embora com algumas transformações, tem o seu povo no limiar da pobreza.
Esta é a minha opinião! Mas como não sou dono da verdade, considero como válidas todas as que aqui vierem a ser expressas num breve comentário.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno…. Muito pequeno!
João Santos Costa – Julho de 2023
14 Comentários
Estela Rodrigues
Parabéns João Santos pelo teu interessante artigo. É também a minha opinião que o governo de Lisboa era fechado e não acompanhou o evoluir da situação em África, mas também estou convicta que se outro rumo tivesse sido dado não estariamos melhor e vê se como o povo moçambicano sofre os desmandos de uma elite governamental pois, infelizmente, a ambição do homem não tem limites!
CTF
Desde o fatídico dia da proclamação pelas Nações Unidas (?) do direito dos povos à autodeterminação, direito que, aliás, subscrevo, e que levou a dezenas de eleições, referendos e outro tipo de consultas supervisionadas pela ONU criando condições únicas para auscultar as vontades dos povos. E o mundo ficou mais feliz, com os povos de todo o mundo debitando felicidade, harmonia e progresso económico, social e sanitário.
Infelizmente, a mesma autodeterminação não pode acontecer na Europa pois isso de liberdade é só para pretos. Por exemplo, se a Catalunha quiser iniciar um processo independentista não o pode fazer pois não dispõe de meios legais nem de apoio internacional para referendos ou guerras de independência dado que fica muito mal vista.
Por outro lado, os povos que, quer por via dos eleições armadas (vamos simplificar) quer por via de guerras eleitorais, se libertaram do jugo europeu sonham em ter residência (universitária ou de trabalho), passaporte ou cidadanias europeias mostrando um comportamento digno de síndrome de Estocolmo.
Qualquer um de nós conhece um brasileiro que rebusca origens italianas, alemãs ou portuguesas ou um moçambicano como eu, para conseguir ter acesso aos serviços de saúde, de educação e outros dos países europeus.
A excepção parece ser, para já, os sucessivos referendos que se fazem há mais de 40 anos nas possessões do Ultramar Francês, tipo ilha da Reunião, em que as populações gozam de direitos europeus com recursos escassos e é desesperante ver a França a tentar deles se ver livre.
jose alexandre russell
Já tinha pensado nisto. E, não estou longe do que aqui referes. é uma reflexão que, nos “assalta” de vez em quando. Bela reflexão.
nino ughetto
Tudo passou tudo acabou….Perdemos … é tudo. Agora, pensar o que seria se ? Se o qué ??? ninguém pode prever o futuro, Estavamos cercados de gananciosos desse Moç si rico.. Hoje é o que se passa, todos aparecem como bons samaritanos e é o que se passa em todos outos p Paise no mundo… Nada a fazer, acabou acabou,,, Temos recordaçoes nada mais. Eu perdi tudo, e tive que partir depois de 4 anos de serviço militar.Partir para o estrangeiro pois em Porugal poucas ou nenhumas oportinidades tive…Um abraço
wanda serra pedroso
Inteligente reflexão João
Onde concordo em pleno contigo.
Estas spre de parabéns .
Beijinhos
Manuel Martins Terra
Caro amigo João, já lá vão 48 anos que foi proclamada a independência de Moçambique, e situação que se vive no País é verdadeiramente desoladora para o seu povo, que sofre na pele os desmandos da elite governamental, mais preocupada com o seu bem estar e dos seus acólitos. Se recuarmos no tempos, todos os povos africanos que optaram pela guerra de libertação, vivem hoje uma situação idêntica ao dia a dia, do povo moçambicano, sempre em fuga a guerras civis ou outros tumultos, de luta pelo poder. Por trás desta constante agitação, estão os interesses daqueles que lhe forneceram armas e todo o tipo de apoio, e que hoje ainda continuam a cobrar essa ajuda, em nome da liberdade e do falso socialismo. Talvez por isso, Eduardo Mondlane, um politico visionário que defendeu junto de Salazar, no início da década 60 do século passado, e mandatado também pelo PAIGC e do MPLA, uma solução pacífica que não envolvesse as guerras que se desenrolaram na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, e de certa forma mostrar ao mundo, que os portugueses seriam praticamente a exceção. O plano contava ainda com o apoio dos EUA, que se propunham no caso e de forma excecional, aplicar o plano Marshall, que seria o projetar do desenvolvimento de Portugal, que só se tornou Estado-Membro da CEE, a partir de 1 de Janeiro de 1986. Esse acordo, diria eu e salvo melhor opinião, seria proveitoso para todas as partes. Infelizmente, Salazar (que nem conhecia as suas colónias) decidiu declinar esse acordo, e com todas as consequências conhecidas para os dois lados da barricada, optou pela guerra. Agora voltando ao plano proposto por Eduardo Mondlane, em busca de uma abordagem pacífica e negociada para alcançar a autodeterminação, tendo em conta o ambiente multirracial que reinava no território, e reconhecendo o respeito que imperava entre todos, estou convicto da relevância e eficácia dessas comunidades no progresso e desenvolvimento daquele imenso País, banhado pelo Oceano Índico. Dito isto, e considerando o cenário de mudanças políticas e sociais, de uma nova sociedade, atrever-me-ia afirmar que Moçambique poderia tornar-se num oásis, e muito naturalmente permaneceríamos naquela terra que tanto amamos. Passe este desabafo, desejos de que os atuais governantes, deixem o seu povo ser feliz. Um grande abraço, do amigo Manel.
Carlos Hidalgo Pinto
O Plano Marshall devia ter sido implementado e ter-se-ia poupado tempo e também seria adequado à situação de Moçambique. A relação de um país com uma Metropole e Colónias já era algo insustentável e anacrónica a nívelinternacional, pois já não existiam paises nessa situação, a não ser Portugal. Entretanto, J. S. Costa foca e acentua, o facto de os movimentos de libertação estarem imbuídos de um pensamento radical de negritude que conduziu a um dos maiores êxodos registados no século passado.
Os paises tanto da América Central, como da América Latina, inclusive o Brasil, mantiveram os descendentes de espanhóis, portugueses e crioulos nesses novos paises. Portanto paises como a Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela, Colômbia, Chile, etc., conservaram os espanhóis, portugueses e seus descendentes, assim como os crioulos nesses territorios tornados então independentes. De realçar que ainda aumentarm os fluxos de imigração provenientes das antigas metrópoles. Registou-se o mesmo desenvolvimento, aquando da independência dos Estados Unidos da América do Norte.
joão santos costa
Caro Carlos H. Pinto
Obrigado pelos seus comentários onde expõe muito bem o seu pensamento,e com os quais, creio que todos estamos de acordo.
Um grande abraço.
Carlos Hidalgo Pinto
O meu avô paterno, foi para Moçambique inserido no Corpo Expedicionário Português, no âmbito da I Guerra Mundial, onde combateu contra os alemães, ao longo do Rio Rovuma, tendo sido ferido. Foi um dos então designados “Heróis de Quionga” e era portador de um curso médio, obtido na sua cidade natal, Lisboa.
Penso que talvez possa ser útil, para uma maior e ampla elucidação, a leitura do livro “Os Fantasmas do Rovuma” que descreve os factos então vividos por milhares de portugueses, moçambicanos e também dos aliados ingleses, naquele território mais a Norte de Moçambique.
joão santos costa
Caro Manel
Possivelmente com a entrega de Moçambique a um governo multiracial presidido por Mondlane, numa primeira fase até corria bem! O problema aparecia a seguir. Como refiro no artigo e o Carlos H. Pinto também no seu comentário; é que em Africa, por mais voltas que se dê : “prevalece o pensamento radical da negritude”! E este governo multiracial, por um golpe de bota, abaixo era deposto.
E pelo que temos visto as consequências do golpe de estado sobravam para nós.
Um grande abraço amigo Manel.
Julio João da Conceição
Parabéns amigo João Costa pela sua análise, feita com honestidade e senso crítico. A sua análise, sendo hipotética, aponta uma das vias possíveis a que nos levaria a descolonização: a situação no limite, conduzir-nos-ia praticamente à mesma situação a que nos encontramos hoje, com algumas nuances. Os casos da Rodésia e da A. do Sul, corroboram quanto a mim, com a sua análise. As respetivas independências tiveram um cunho diferente ao nosso, foram envolvidas elites multirraciais, mas culminaram só longo do tempo, ao que se passa hoje em Moçambique. Houve um efeito de cascata que influenciou o Continente, aliado aos interesses das grandes potências da altura.
O maior dos erros quanto a mim ( entre outros, claro). Foi manter o povo na ignorância, com a maior franjida população ignorante.
Sabemos que a ignorância é a mãe de todas as desgraças.
Por aqui me fico com a certeza de não ter esgotado o assunto, que daria matéria para um livro extenso.
Obrigado a todos, e um grande abraço neste dia do amigo 👌
Angelina
Obrigado querido amigo por mais um belo texto, que reflete bem a opinião da maioria das pessoas que por essa linda terra nasceram, outros passaram e outros utilizaram ao seu belo prazer e proveito.
Passados 40 anos ficam as boas memórias e a dúvida persiste se tudo podia ter sido diferente e como estariamos hoje….!
Para nós foi mau, mas infelizmente para o povo Moçambicano não foi nelhor, somente foi bom para as elites .
josé carlos alves da silva
Amigo João Costa disse tudo. O meu pensamento é igual ao dele. As minhas ideias são iguais às dele. Como disse o João Costa aceitamos opiniões. Abraço amigo João
Carlos Hidalgo Pinto
Bem, trata-se de um interessante reflexão de J.S. Costa. A guerra colonial, onde tive 2 irmãos envolvidos, a partir de 1965, já se tinha tornado algo anacrónica. Os políticos deveria tê-la evitado, através de uma solução neo-colonial da implementação de um povoamento adequado e de acordo com o pensmento do general Norton de Matos. (Foi Governador em Angola).
O problema tinha a ver com a gierra fria e também com o pensamento de negritude levado ao e tremo tribal. Enquanto que os libertadores das colónias castelhanas na América Latina eram espanhóis, casos de Simon Bolívar, ou crioulos descendentes de funcionários coloniais espanhóis, caso de Francisco de Paula Santander Omaña, de Jean Michel Perú de La Croix que era francês. Posteriormente à libertação, tornaram-se presidentes ou dirigentes de paises como a Colômbia, a Venezuela, o Peru, etc, tendo os seus descendentes continuado a viver naqueles países, conjuntamente com crioulos e nativos desses territórios.
Em África a questão étnica, foi praticamente o principal critério adoptado. Entretanto há que ter a percepção de que os “Bantus” por exemplo, eram originários da zona dos Grandes Lagos,
nas proximidades dos Camarões, desceram e conquistaram territorios como Angola, Zâmbia, Tanzânia, etc., até chegarem à Africa do Sul e Moçambique. Os designados brancos colonos, os mestiços, os asiáticos que viviam nas ex-colónias portuguesas foram tratados como cidadãos estrangeiros.