Escola João Belo – Aprender para a vida
Por muito que ouça falar do romantismo do Inverno, pincelado de chuva, frio e neve, a verdade é que ninguém me retira o sentido do calor tropical que brota de mim, apologista do sol e da luz, e que me vejo agora a braços com o rigor da última estação do ano, que também aqui na cidade de Valpaços, coração da região transmontana se tem feito sentir como há muito não se via, que me gela o rosto e o ânimo. Está mesmo um frio de rachar, capaz de fazer bater o dente.
É um tempo de silêncios e agora de recolhimento, muito por culpa da malfadada pandemia que nos obriga a relaxar no sofá ou a recriar formas de passar o tempo. Em uma dessas rotinas, dei comigo a relançar o olhar sobre os livros que tenho na estante e fixo-me por momentos na coletânea de manuais de leitura, que durante mais de trinta anos vigoraram no ensino primário e que em boa hora a Editora Educação Nacional, resolveu reeditar.
Foi uma oferta carinhosa por parte da minha filha, tal a forma entusiasta como lhe falava sobre os livros do meu tempo. Não resisti e comecei a folhear as suas páginas, algo que mexeu com as minhas emoções e me fez regressar ao meu tempo de infância. Revejo-me no menino tímido, de calções de caqui e camisa de manga curta, com a mochila de cabedal às costas, a palmilhar o caminho desde o Bairro da Munhuana até à Escola João Belo, conduzido pela mão da minha querida mãe. No pátio da escola, fiquei a conhecer os meus colegas de turma que me acompanharam até à conclusão da quarta classe. Estranha sensação, quando me sentei na carteira indicada pela professora que esforçadamente tentava atenuar uma mudança de hábitos, entre a apreensão e o choro convulsivo dos estreantes alunos. Era também para mim, o primeiro dia de ensino e que faria toda a diferença para o resto da minha vida.
A Escola João Belo, sita no Bairro da Malhangalene, que crescia a olhos vistos indicando um forte crescimento da população, obedecia a um padrão de construção moderna, destacando-se as suas belas arcadas para proteção solar. Foi edificada em 1943 e posteriormente construída a ala gémea, denominada de D. Leonor de Sá Sepúlveda, destinada ao sexo feminino.
Este era o muro que separava as duas escolas
A entrada dos professores fazia-se pelo portão frontal à Av. Manuel de Arriaga, cabendo aos alunos ingressar pelo acesso da Av. Gomes de Freire.
Recordo o seu pátio de entrada, onde nos cabia formar para o início e términus das aulas. Marchava-mos para as respetivas salas, cantando o hino da mocidade “Lá vamos cantando e rindo”. Nos corredores ordenadamente entravamos para as salas de aulas. Lembro-me da minha turma multirracial, disposta a aprender o idioma de Luís de Camões. José Alberto, Mário Jorge, Carlos Gomes, Santana, Catalão, Palhau, Tomás, Alexandrino, Faruk, Leakataly, Chong, Ling, Tembe, Zacarias e Vassilos? Sim, esses nomes soam-me na mente, certamente colegas que fizeram parte daquela grande comunidade escolar. Vem-me à lembrança a minha sala de aulas e a carteira onde me sentava, localizada junto a uma das janelas moldurada em arco por onde o sol madrugador beijava os vidros, transmitindo-lhe uma luminosidade que dispensava acionar o interruptor. Do teto pendiam as ventoinhas de pás, que eram utlizadas quando o calor mais apertava. A minha carteira, tinha como muitas outras o tradicional tinteiro, ponto de abastecimento para os alunos que ainda escreveram com canetas de aparo ou tinta permanente.
Os da minha geração já utilizavam esferográficas, sobretudo as da marca BIC, que revolucionaram o mundo da escrita e que tinham a vantagem de não manchar os cadernos diários.
Voltando à sala de aulas, logo à entrada da porta principal situava-se a secretária da nossa professora, assente sobre um largo estrado de ligeira altura, que especificava a heráldica de quem lecionava, e que também tinha a particularidade de melhor se poder visionar os movimentos dos alunos. Ao lado, o velhinho quadro de ardósia sobre o qual pendia o cruxifixo presente em todas as salas, e nas paredes laterais figuravam as altas individualidades políticas e eclesiásticas do então Estado Novo. Ao canto, encontrava-se o armário que depositava no seu interior todos os utensílios que indiciavam as medidas de comprimento, de volume e capacidade, de massa, assim como toda a representação dos sólidos geométricos. Em cima do móvel estava colocado o globo rotativo, que nós fazíamos girar para localizar os continentes e oceanos da superfície terreste.
Retenho na memória a figura da professora que nos acompanhou desde a segunda classe; D. Maria de Jesus Almeida, senhora de trinta e muitas primaveras, de estatura altiva, com os largos cabelos a envolverem-lhe o seu rosto fino, a quem os óculos lhe conferiam um destacado requinte.
Era uma senhora afável, dotada de uma voz suave e pausada, que se fazia sentir na leitura dos textos escolhidos para os ditados, que procurávamos ouvir com atenção de forma a não cometermos erros de ortografia, falta de pontuação ou troca de acentos. As perguntas sobre a História de Portugal, tinham que estar sempre na ponta da língua e quando na disciplina da Geografia, subíamos aos estrado para observar os mapas de Portugal Insular e Ultramarino, que nos faziam crer que este minúsculo país se estendia do Minho até Timor, não podíamos vacilar.
Nos exercícios de Aritmética, saber a tabuada era fundamental. Nesse tempo ainda não tínhamos máquinas de calcular, e lembro-me tão bem que a conjugação da tabuada afigurava-se a um ensaio de canto coral. As chamadas ao quadro para a resolução dos problemas, eram por vezes um autêntico quebra-cabeças.
Antes dos períodos de férias, levávamos para casa a chamada Caderneta Escolar onde constavam as avaliações, e que tínhamos de retornar à nossa professora depois de rubricada pelos encarregados de educação.
Para a descompressão só mesmo o esperado toque da campainha para o lanche matinal, onde por baixo daquelas frondosas mangueiras e sobre as mesas e bancos de pedra, eram distribuídas graciosamente aos alunos mais carenciados as garrafas de leite engarrafadas pela Cooperativa dos Criadores de Gado, de 33 cl, com tampa móvel de alumínio. A esse propósito louve-se a criação da Caixa Escolar, um mecanismo de caracter social para a qual fazíamos um desconto de doze escudos e cinquenta centavos, fundo que servia para os colegas necessitados terem acesso a material escolar e outros afins.
Para venda, havia também o afamado chocoleite que tinha um paladar maravilhoso e que servia para empurrar a sanduíche que trazíamos de casa, embrulhada num guardanapo de pano.
O intervalo, traz-nos a recordação de alguém que representou muito para nós; tratava-se do Professor Macedo, um docente já entrado na idade que trajava o seu inseparável fato preto e camisa branca, em sinal de luto eterno pela sua esposa amada. Para tapar a sua calvície, usava um chapéu preto. Com toda a paciência do mundo e tolerando a nossa irreverência, transportava consigo debaixo do braço uma bola de basquetebol. Num ápice formavam-se rapidamente duas equipas para uma partidinha, disputada no pátio coberto e que dispunha de duas tabelas.
Quem se recorda, foi também o Professor Macedo que inventou o hóquei de palmadinha, que consistia que os jogadores em ação tivessem de jogar à palmada ou com o punho numa bola, que para golo teria que tocar no tampo de um largo banco de madeira, virado ao avesso. Alguém que nos marcou de forma vincada, sem desprimor para todos os professores da escola. Depois do toque para o regresso às salas de aula, tempo para saciarmos a sede nos bebedouros instalados nas traseiras do acesso aos corredores.
As manhãs de sábado, eram reservadas às atividades da Mocidade Portuguesa, havendo lugar a jogos de basquetebol, ginástica e ações de campo. E neste rol de memórias não poderia deixar de descrever o diretor de então, o Professor Renato (conhecido por “Corta Orelhas com a Unha do Polegar”). Homem de estatura média que carregava mais peso que idade e que não era para cócegas. Lembro-me da sua chegada à escola, conduzindo o seu velhinho Austin A40. Por norma não era muito cuidadoso a fechar a porta do carro, sendo habitual nele à saída do veículo dar um ligeiro impulso aos ombros, para melhor assentar o casaco. Quando já se encontrava no interior da escola, aquele seu olhar fixo e silencioso, de certa forma funcionava como um aviso aos mais irrequietos. Quando se dirigia para um de nós em passo acelerado e a morder a ponta da língua, era sinal de que alguém já tinha pisado o risco valendo-lhe a incúria um puxão de orelhas, que ficavam a escaldar.
Pior, só mesmo uma anunciada comunicação de comparência no seu gabinete. Porventura, num caso ou outro, algum excesso de rigor na forma como o nosso diretor expressava a sua autoridade.
Tenho a ideia que no final do ano letivo, no amplo hall de entrada da escola,
eram expostos os trabalhos desenvolvidos pelos alunos e lá se encontrava o tradicional Quadro de Honra, onde constavam os nomes dos que tiveram melhor desempenho escolar.
A minha meditação já vai longa e para trás ficou a Escola João Belo, onde aprendi a ler, escrever, calcular e que ajudou a construir os sonhos de várias gerações, sendo durante quatro anos a minha segunda casa onde moraram gratas memórias da minha infância.
Vejam de seguida algumas fotos com alunos da Escola João Belo:
Ano lectivo de 1957/58
Ano lectivo de 1959/60 (Turma do Prof. Américo)
(Foto tirada no dia do exame da 1ª classe)
Na foto: Reconhecem-se entre outros, Rui Pinheiro, Pinto, Ramos, Catarino, Samuel Carvalho, Rogério Machado, Rogério Amaral, Salauddine Hassan, José Sá, Alberto Jorge, Henrique e Félix.
Ano lectivo de 1964/65
Ano lectivo de 1970/71
- Se puderem identifiquem os alunos que aparecem nas fotos, através dos vossos comentários aqui no BigSlam.
- Algumas das fotos publicadas foram retiradas com a devida vénia do blog: terramagica-terra.blogspot.com e do grupo do Facebook: Nós andámos na Escola João Belo em L. Marques (actual Maputo). E tu?
Manuel Terra – Janeiro de 2021
25 Comentários
José Taboada
Caríssimos
Iniciei o ensino primário na escola João Belo , no ano lectivo 1960/61, no fim do mês de março, na 2◎classe, porque tinha chegado da metrópole naquele mês.
Tenho algumas lembranças, nomeadamente daquelas descritas por Manuel Terra. Infelizmente não recordo da fisionomia de meus ex-colegas.
Eu morava mesmo em frente à escola, na Av. Manuel de Arriaga.
Não sei se alguém se lembra de mim, José Maria Rodrigues Taboada, mais conhecido pelo Taboada.
Voltaremos a comunicar
Abraço de José Taboada
Manuel Martins Terra
Ao meu amigo José Gonçalves, envio um grande abraço e cá te esperamos por Valpaços.
Raul Palhau
Boas recordações, se bem me lembro ainda era um esticão das nossas casas à escola. O caminho era de facto pela Gomes Freire … tens boa memória, obrigado.
Manuel Martins Terra
Uma saudação muito especial para o meu colega de escola, Raul Palhau, que do Canadá entrou no espaço do Bigslam, e se recordou da Escola João Belo, e sublinhou os tempos do famoso Hóquei de Palmadinha, da autoria do saudoso Professor Macedo. Também me recordo, Palhau, das inúmeras vezes que palmilhamos a Av. Gomes Freire até à nossa escola. Tu moravas na Av. Caldas Xavier, mas muito próximo de onde habitava. a long time ago, meu grande amigo.
Salauddin Hassan
Caros amigos e companheiros .
Frequentei a escola João Belo desde o ano lectivo 1959/60, turma do Prof. Americo e passei 4 anos que me deixam muitas saudades.
De todos os colegas, reconheci todos os nomeados, lembrando me dos nomes e da fisionomia de todos.
Infelizmente perdi o contacto há decadas, exceptuano o amigo Samuel, num encontro em Cascais pela apresentação do livro sobre o desporto motorizado em Moçambique do autor João Mendes de Almeida
Lembro me também do colega Nelson, que morava esq.da Av.31 de Janeiro e Av. Augusto Castilho e de todos que faziam parte da turma. Também dos Professores e Directores.
O tema foi uma boa surpresa e bem narrado pelo colega Manuel Terra, a quem cumprimento pelo excelente trabalho desenvolvido. Outros colegas falaram e descreveram nos seus comentários, tudo o resto, nada mais havendo a descrever da minha parte.
Para o Samuel os parabéns pelo excelente Blog, bem como à sua equipa .
Espero reencontrar me com alguns dos colegas oportumamente.
Abraços
Salauddin Hassan
salau.hassan@gmail.com
Manuel Martins Terra
Caro colega Alexandrino, já lá vão 60 anos, quando entramos pelo portão da Av. Gomes de Freire, para o interior da Escola João Belo. Creio que tinhas também 6 anos, quando nos preparamos para o primeiro desafio da nossa vida. Foi o trepar tímido do primeiro degrau de uma escada que fomos subindo até outros patamares. Foste meu colega de turma, e tivemos como professora a D. Maria de Jesus Almeida, que se revelou ser uma excelente docente e que com muito afinco e trabalho, nos soube preparar convenientemente para o resto da caminhada que nos esperava. O facto de afirmares que já muito dificilmente te recordas dos nomes de muitos colegas de turma, isso é perfeitamente compreensível não só pelo tempo que já lá vai, mas também pela forma como dispersamos depois de concluído o ensino primário. Uns direcionaram-se para o ensino liceal, outros partiram para a Escola Técnica Elementar, que depois de concluído o primeiro ciclo,tiveram que fazer a escolha entre a Escola Industrial ou a Escola Comercial. Depois, houve os que entraram no mercado de trabalho e aqueles que prosseguiram no ensino para voos mais altos. Assim nos fomos separando, até que aqui no nosso “Ponto de Encontro” voltamos a cruzar as nossas vidas. Foi gratificante saber de ti e agrada-me a ideia que nos possamos juntar a breve prazo, logo que esta pandemia seja debelada, de forma a que os antigos alunos da Escola João Belo, possam conviver e recordar os nossos velhos tempos. Certamente, que assuntos não faltarão. Envio-te de seguida o meu e-mail: manuelmartinsterra@hotmail.com e o meu numero de telemóvel: 932832834. Para ti, um grande abraço do colega e amigo, Manuel Terra.
Fernando Lima
Caros,
Estou muito emocionado e confuso ao mesmo tempo com o texto da João Belo.
Tenho boa memória mas há algumas coisas que não encaixam bem.
Eu entrei no ano lectivo 60/61 vindo da Escola Primaria Paiva Manso, no Alto-Maé, que ficava junto ao esquadrão militar e a um quartel de bombeiros. Eu vivia atrás da Associação Africana e mais tarde mudei-me para a J. Serrão, mesmo junto à esquina com a Pêro de Alenquer.
Das fotografias consegui facilmente identificar o Jose Carmo Santos, que andou comigo da 1a. à 4a. classe e mais tarde na EP Joaquim Araújo, junto ao hangar dos autocarros dos SMV. Também identifiquei facilmente o David [Milhinhos] de Carvalho que considero amigo até hoje. O seu irmão, o Samuel, é o animador deste espaço.
Sou amigo dos tempos do basquetebol do Estácio, mas não me lembro de ter andado com ele na escola. Alias, acho que ele é bem mais novo que eu. Sou de 54.
Lembro-me que havia muita discriminação e que os poucos alunos negros se sentavam na parte de trás da sala de aulas. Habitualmente vestiam-se com calção e camisa de caqui e tinham uns grandes sapatos com solas de borracha, castanhos por cima. No intervalo do lanche tinham direito ao chocoleite e a meio pao de 1,20 escudos barrado com jam [doce] . O J. Caetano identificado na equipa de basquetebol era conhecido por Armindo, foi um grande amigo e meu protector [era preciso]. Se alguma coisa nao corria bem na escola, os mais velhos ameacavam-nos e tinhamos que ir lutar num baldio que ficava na esquina da Manuel de Arriaga com a Gomes Freire [hoje Karl Marx e Paulo Samuel Kakhomba]. Foram essas lutas terríveis que nos tornaram mais fortes, depois, quando enfrentávamos as rivalidades de ruas. O meu amigo J. de Carmo [falecido) era muito franzino, mas muito provocador. Por isso ficou conhecido na “Araujo” como “mosquito electrico”. Muitos anos depois fiquei a saber que o que nos acontecia era bulying. Enquanto eu joguei no Benfica, o Armindo e o David sempre foram do Malhangalene. Acho que o Armindo foi o namorado da Marina Novikov [muito famosa no basquetebol] e mais tarde casou com a Celeste [que ouvi que faleceu há uns anos] . De caminho tambem namorou a Maria João Gouveia, uma das minhas grandes paixões de juventude.
Os irmãos Pinto eram os únicos negros da minha turma. Ainda hoje são meus amigos. As irmãs deles estudavam na secção feminina, na Leonor Sá Sepúlveda. Uma das irmãs, a Susana, mais tarde atleta do Ferroviário, foi assassinado por uma comando sul-africano que a confundiu como uma militante do ANC. Habitualmente recebíamos a visita de régulos que vinham ver como os negros se integravam na escola pública. Lembro-me do prof. Renato que aparece numa das fotos. Lembro-me vagamente e não estou seguro) que a escola teve um director que se chamava Benjamim Areias, mais tarde sogro do Dr. Almeida Santos.
Estou confuso com a professora que aparece de nome Maria de Jesus. A minha ideia é que a minha professora se chamava Maria do Rosário, com a descrição física e fisionomia descrita. Mais tarde ela foi substituída por uma professora que, ou se chamava Maria Fernanda Almeida ou Maria Fernanda Mascarenhas e era a mãe de uma jovem que jogou basquetebol na Académica que, se a memória não me falha, se chamava Fernanda Almeida ou Fernanda Mascarenhas.
Nas recordações da escola, para além dos dois hinos, cantava-se uma música que tinha uma estrofe tipo “minhas botas velhas cardadas, palmilhando léguas sem fim, quando mais velhinhas e estragadas, tanto mais valor sinto em mim”.
Na saída da escola havia pirolitos, habitualmente de duas cores [verde e vermelho], acho que eram quatro um escudo. Havia tsintsiva, um fruto de um arbusto silvestre [acho] e “cones” em papel de jornal vendendo amendoim torrado com casca ou coberto de amendoim. Na rua circulava o “19”, o autocarro que vinha do Xipamanine. Muitas décadas depois, e a propósito do “19”, fiz uma crónica dedicada à Farida da Mafalala, um dos meus platonismos de sempre. [continuo a cruzar-me com ela pela cidade].]
Era muito miúdo mas fiquei muito impressionado e triste com a perseguição que se fez na escola contra os miúdos indianos a propósito da tomada de Goa. Alguns professores encorajavam insultos contra os miúdos e eles foram tirados das aulas. O meu pai disse-me que tinham sido todos colocados na Pousada dos Caminhos de Ferro, junto ao porto.
Já andava na Escola Comercial quando comecei a frequentar um grupo ligado ao mini-basquete, pessoal do Desportivo e da Académica, tipo Mila Senra, Guida Barriga, Cló Botelho de Melo e Dulce Gouveia, que já aqui postou as suas memórias.
Na escola, já não me lembro, provavelmente chamavam-me pelo meu nome próprio. Na rua era o “Teixeira”. Na minha vida adulta e profissional sempre fui conhecido por Fernando Lima. Tenho inúmeros amigos e companheiros de muitas, muitas décadas, aqui neste portal.
Quase todos os dias, ainda hoje, passo em frente da minha escola [a João Belo).
Obrigado ao autor das memórias sobre a nossa escola.
Espero que, eventualmente, por esta via, descubra, outros amigos e esclareça algumas das minhas dúvidas.
Ainda estou muito emocionado.
BigSlam
Excelente memória a tua. Quanto ao Eustácio ele é do teu ano: Maio de 1954.
Zé Carlos
Ao ler este artigo, refrescou-se a memória de coisas que andavam quase esquecidas, foi a primeira escola que frequentei…
Entrei p’ra Pré-Primária em 67, com aulas na sala ao lado do pátio coberto, onde se destacavam o ensino básico do abcedário e nùmeros, pinturas de aguarelas e jardinagem nos canteiros que rodeavam os lados externos da sala. Saì em 72 após completar a 4ta. Classe para ingressar no Ciclo Preparatório da Joaquim Araújo.
A João Belo deixou bem vincadas memórias de amigos e acontecimentos…
Dos amigos, destaco o Fernando, meu vizinho na J. Serrão, caminháva-mos juntos quase todos os dias e mais tarde, com o seu mano mais novo Luis. O Dinis Cordeiro (do Alto Maé)que também foi comigo para J.A, o Abreu e o Jaloto (tbm foram parar a J.A) o Yussef, o Lobo (morava na Anchieta entre J. Serrão e 31 Janeiro), o Jorge (da 31 Janeiro perto do Nacional e também foi para a J.A) e do “Açoreano”, um tipo uns 4 ou 5 anos mais velho que o resto da malta, na altura, chegado recentemente dos Açores, e apesar das diculdades iniciais em se perceber o que dizia, fez amizades fácilmente.
Na 1ra e 2da Classe, tive um grande professor, idoso mas com muita paciência e habilidade para ensinar. Tinha uma predileção em fazer-nos salientar os “ou’s” em os “OUtros” “OUtrora” etc… e quando tirava um Bom+, desenhava o “B” muito bonito e em prespetiva.
A professora que tive na 3ra e 4ta Classe, fazia parte do jurí de exame na prova oral. Nas aulas era muito exigente e gostava de distribuir réguadas plas mais pequenas infrações, mas ao mesmo tempo, ensinava e exigia o melhor possivél para os alunos não chumbarem.
Recordo os dias das vacinações e dos quininos tomados a frente do Sr. Contínuo para verificar o engolimento.
Dos Sábados de manhã para a ginástica e basketball.
Na 4ta Classe, os alunos mais responsávéis eram honrados como “Guardas de Trânsito” e uns 15 minutos antes do fim das aulas, íamos à secretaria pôr o boné e vestir a bata de kaki com a braceira vermelha e buscar as varas com o sinal STOP e o apito, para depois ir controlar o tráfico nas passadeiras das estradas à saída da escola.
Vou contar o que me levou à ùnica vez que fui parar ao gabinete do Diretor para ser punido.
A peripécia anconteceu na 4ta Classe a uns meses do fim do ano lectivo (’72) e teve a ver com uma luta travada entre mim e um bully (tbm de nome José Carlos) grandalhão com uns 14 anos que lá andava repetente e aterrorisava os mais frágéis e medrosos, “tirava-lhes” dinheiro, berlindes, carros Matchbox, lanches, etc.
Entre amigos faláva-se sobre o problema mas quase todos tinham medo dele.
Um dia o caldo entornou-se comigo e avisei-o que mais cedo ou mais tarde, ele iria pagar com juros e da única maneira que ele percebia, tudo mau que andava a fazer aos miúdos da escola.
A partir daì pôs-me um alvo às costas. De vez em quando fazia um empurrão outra vez tentava fazer-me tropeçar e por aì fora. A coisa andou meses a fermentar e um belo dia em que não estava de serviço à saída como “Guarda de Trânsito”, o bully perseguiu-me ao fim das aulas e decidiu agredir-me no passeio logo ao sair do portão para fora. Apesar da diferença de idade e tamanho, defendi me com tal fúria que os outros ao verem o enxerto que o bully começou a levar, incitavam me para continuar a exergar-lhe sem parar.
Eventualmente, os professores separam-nos e no final soube que o bully teve de ir receber tratamento ao hospital e ficou sem ir a escola uma semana.
A minha mãe foi chamada à escola p’lo Sr. Diretor e ficou resolvido que eu iria receber punição corporal.
No dia da punição fui convocado ao escritório do Sr. Diretor. O que sucedeu não vou detalhar, apenas digo que apesar do encenamento feito para parecer que sim, nunca fui castigado.
O Sr. Diretor, lembro-me que quando apanhava alguém em pleno delito, trilhava a ponta da língua e como que a toque de caixa, ia pegar o delinquente pla orelha e quase o arrastava donde estava até ao gabinete…
Tenho pena não recordar os nomes dos professores da inesquécivel João Belo.
Do meu tempo na João Belo, mais há para contar, mas fica para outra ocasião.
Rui Albasini
Frequentei esta Escola entre 1966 e 1970. Tive o azar de ser um dos que experimentaram o motivo da alcunha do Prof. Renato Silva (“Corta Orelhas com a Unha do Polegar”).
Apesar de saber que a maioria dos craques da minha meninice moraram no bairro da Malhangalene, principalmente os do basquetebol, não sabia que a maioria tinha estudado na mesma escola que eu.
Obrigado por estas recordações e histórias sobre a nossa querida escola.
Manuel Martins Terra
Caro amigo Ernesto Dias, felicito-te pela tua excelente memória e tens toda a razão no que afirmas, Entrei no ano letivo de 60/61, então com 6 anos e como tu dizes e bem, frequentei na 1ª classe aquela sala, chamada a cantina, quiça por excesso de turmas e de momento já não me ocorre o nome da minha professora de ocasião. Depois é que passamos na 2ª classe, para uma das outras salas, já tendo como professora, uma verdadeira senhora, a D. Maria de Jesus Almeida, que nos acompanhou até ao exames da admissão à Escola Técnica e ao Liceu. Ernesto lembro-me bem de ti, e do teu irmão Eustácio. Um grande abraço para ambos, do amigo Manuel Terra.
Victor Pinto
Morei mesmo em frente á Escola durante o tempo que estudei na Esc. Industrial. Lembro-me de ver pessoas a correr por causa de um enxame de abelhas alojado na arvore rente à escola. A mostra fotográfica é excelente, gosto e faz-me ter saudades Eu frequentei a Escola Rebelo da Silva, na Pinheiro Chagas próximo do Hospital
Graciano Mendes Moura
Obrigado pelas recordações fantásticas!
Também lá andei de 1967 a 1972!
Mario
Andei nessa querida escola de 72/74 e lembro me tão bem das aulas, do rigor, camaradagem, etc. O coberto onde marchávamos ao som do hino nacional … enfim, boas recordações.
Mário Cruz Martins.
Roberto Yeep
Wow, it is so amazing to reflect all those wonderful time I had spent as a young boy. Like many of you, I also attended Escola Joao Belo. I used to walk from my home to school on a daily basis. I used to live in Avenida Luciano Cordeiro (name of street has since changed).
After Escola Joao Belo I went to attended Escola Joaquim Araujo later I moved to higher education to Escola Comercial. If any of you remember me please get in touch on my email yeeproberto@gmail.com.
I currently live in London an have been in UK since 1965.
Tradução:
Uau, é tão incrível refletir todos aqueles momentos maravilhosos que passei quando era menino. Como muitos de vocês, também frequentei a Escola João Belo. Eu costumava ir a pé de casa para a escola diariamente. Eu morava na Avenida Luciano Cordeiro (o nome da rua mudou, agora chama-se Avenida Albert Luthuli).
Depois da Escola João Belo, fui para a Escola Joaquim Araujo, depois mudei para o ensino superior para a Escola Comercial. Se algum de vocês se lembra de mim, por favor, entre em contato através do meu e-mail: yeeproberto@gmail.com.
Atualmente moro em Londres e estou no Reino Unido desde 1965.
Manuel Martins Terra
Amigo Roberto Yeep, como não haveria de me lembrar de ti? Tu eras o meu vizinho do lado, no prédio que era do teu falecido e estimado pai. Conheci o teu irmão, Orlando Yeep, que infelizmente já nos deixou, um ilustre clínico, com quem estive em Valpaços, depois da partida dele para Portugal, encontrando-o por acaso na cidade de Chaves, em 1977, policlínico então no hospital local e com um gabinete médico no centro histórico da cidade. Fui ter com ele ao seu consultório e na semana seguinte, veio ter comigo à cidade onde resido, onde passamos uma tarde a recordar velhos tempos. Conheci também o teu irmão, Humberto e creio que tinhas uma irmã que se chamava Ermelinda. Como já tenho o teu e-mail,irei tentar entrar em contato contigo. Um forte abraço do Manuel Terra.
Fernando Lima
Nao tenho a certeza se conheci o teu irmao Orlando Yeep, baixinho, de franjinhas que jogava basquete. Acho que o conheci atraves do João Domingos, meu grande mentor e grande jogador do Malhangalene e o Ko Yat Ching [mais tarde Carlos Ko), grande jogador de basquete do Desportivo e meu colega na Escola Comercial. Da turma de 60/61 lembro-me do Araujo [nao consigo lembrar-me do nome proprio] que me acompanhou até à escola comercial e foi o nosso primeiro pivot nos juvenis do Benfica.
Dulce Gouveia
Excelente artigo e muito boa memória!
Recordou-me a minha 4a classe na Escola Sá Sepúlveda , prolongamento da Escola João Belo, quando fui morar para o Bairro da Coop, nos anos 60 e, cuja escola mais próxima era essa.
Ia a pé ou de boleia com a Madalena Sereno (que foi minha colega de turma na Escola General Machado, Escola Comercial e na Escola de Instructores de Educação Física e, por coincidência ou talvez não , nos encontrámos a morar no mesmo bairro em Paço de Arcos em 1977/78), que morava perto de mim e aproveitava o transporte no carro de sua mãe.
Pouca coisa me lembro: o telheiro onde todas as turmas se concentravam a cada manhã alinhando-se em fila indiana para cantar o hino nacional antes de nos dispersarmos nas respectivas salas de aula e era nesse mesmo telheiro que se realizavam as festas e grandes encontros, aulas de ginástica, jogos e que também servia de abrigo nos intervalos quando chovia.
Todas as salas de aulas de todas as escolas primárias, continham os apetrechos descritos na peça: carteiras, estrados, mapas, figuras geométricas, etc.
Obrigada por me fazeres recordar esses tempos e avivar as minhas memórias…
jose maria peixoto ferreira
Entrei para a ESCOLA JOAO BELO no ano letivo 60/61, juntamente com o EUSTACIO, RABECA, JOSE CARMO SANTO (recentemente falecido).
Na foto da MP acima, creio que num acampamento realizado nos terrenos anexos a entao CASA DO MINHO (hoje CENTRO DE MANUTENCAO FISICA ANTONIO REPING) eu sou o Primeiro em Pe do lado esquerdo.
JOSE MARIA PEIXOTO FERREIRA
Fernando Lima
Vou ver a foto. Acho que és tu que me interpelaste há semanas no Bilene. Mas ainda não cheguei à tua cara. O que me irrita porque sou bom de memória.
José Carlos Silva
Também frequentei a Escola João Belo, tal como os meus grandes amigos Manuel Martins Terra, autor desta magnífica crónica, e o seu irmão Aurélio Martins Terra.
Para os dois, um grande abraço, extensível a todos os moçambicanos que, aqui no BigSlam, partilham as suas memórias de um tempo que nunca esqueceremos.
Aurelio Terra
Pois é José Carlos. Tantas emoções à solta que nos remetem para período onde fomos tão felizes. Grande abraço
Manuel Martins Terra
José Carlos, meu grande amigo de infância e vizinho, que recordações tão gratas da nossa escola. Ainda me recordo que no período para o almoço, o teu saudoso pai passava pela escola, e com aquela carrinha de marca Tempo(raras), levava na carroçaria quase toda a malta do nosso Bairro. Só no prédio onde morava-mos, saias tu, o meu irmão Aurélio, o Vítor , o Neca e os demais. Como éramos felizes. Um grande abraço, José Carlos.
Fernando Brandão
Frequentei a Escola João Belo no período de 1946/1950.
Quantas recordações!!!!!
Obrigado por ter podido ter regressado à minha infancia.
Na época vivia na Malhangalene (perto da Igreja Nª Senhora das Victórias).
Abraços
Mario NEGRAO
Obg pelo artigo; ele transporta-me a um tempo que me marcou a vida (1956/1960)!