O Imbondeiro que caíu…
Caiu um imbondeiro em Tete. Foi derrubado porque muito provavelmente o objectivo era comercializar a sua madeira, muito embora muitos digam que essa madeira não serve para trabalhos de carpintaria. Uma notícia que deu que falar e ultrapassou as nossas fronteiras. Tenho conhecimento de protestos de associações e/ou pessoas singulares vindos de diferentes quadrantes, por onde a notícia se espalhou rapidamente que se interessam pela preservação da natureza. Sobrevivência … a quanto obrigas ?
Quem cometeu esse “crime” se calhar não teve em consideração que o imbondeiro é considerado uma árvore sagrada, inspirando poesias e ritos. Segundo uma antiga lenda africana, uma vez que um morto seja sepultado dentro de um imbondeiro, a sua alma irá viver enquanto a planta existir. Também se diz que a alma dos mortos se pendura nos seus ramos. Curiosamente, essa árvore tem uma vida muito longa, podendo chegar até seis mil anos. Só a sequóia e o cedro japonês podem competir com a longevidade do imbondeiro. Cabe salientar que esta planta foi amplamente divulgada no século XX, através da obra “O Pequeno Príncipe”, do escritor francês Antoine de Saint-Éxupery.
O seu nome científico é Adansonia Digitata, mas é também conhecida como Baobá Africano. O imbondeiro possui um tronco muito espesso na base, chegando a atingir nove metros de diâmetro.
O seu tronco vai-se estreitando em forma de cone e apresenta grandes protuberâncias. As folhas brotam entre os meses de Julho e Janeiro. Em geral, o imbondeiro floresce durante uma única noite, apenas no período de Maio a Agosto. Durante as poucas horas da abertura das flores, os consumidores de néctar nocturnos, particularmente os morcegos, procuram assegurar a polinização da planta.
Normalmente o imbondeiro cresce em zonas de clima tropical. No nosso país o imbondeiro pode ser visto em diferentes regiões das Províncias de Manica e Tete.
Tudo no imbondeiro serve para a sobrevivência do ser humano. Vale ressaltar que esta árvore também se constitui numa fonte preciosa de medicamentos. As suas folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lípidos, para além de serem usadas como um poderoso anti-diarreico e para combater febres e inflamações. Um pó feito de folhas secas vem sendo utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma, e é usado, ainda, como um tónico.
Em certas zonas de Moçambique o tronco desta árvore é escavado por carpinteiros especializados para servir como cisterna comunitária.
O seu fruto é denominado múcua. Em Tete este fruto recebe o nome de malambe, uma palavra da lingua xinyungwe. A casca do fruto, é utilizada pelas pessoas como tigelas. A polpa e a fibra dos seus frutos são capazes de combater a diarreia, a disenteria e o sarampo. O cerne da fruta combate a febre e inflamações no tubo digestivo; as sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas, moídas e consumidas como uma bebida que pode substituir o café. Em Tete por exemplo diz-se que o sumo do fruto do imbondeiro é um produto afrodisíaco. Há quem chegue a fabricar yogurte, a partir do malambe.
Por tudo isto … porquê derrubar o imbondeiro ? Em muitos países derrubar um imbondeiro é um sacrilégio.
João de Sousa – 13.03.2013
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