Oyá Dobradinha!
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria!
Disse delicadamente ao missionário da cozinha,
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria!
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei e foi comigo…”»
…(Fernando Pessoa através do heterónimo Álvaro de Campos na poesia “Dobrada à Moda do Porto)
Livros ou folhos, favos e a touca, eis a dobrada de vitela ou de vaca (entranhas, substantivo feminino plural, significando vísceras, tripas, a região dos órgãos localizados no ventre de um animal).
Dobrada (em português de Portugal), Dobradinha (em português no Brasil) ou Tripas à Moda do Porto, é um prato de culinária da cozinha tradicional portuguesa, nascido e criado na cidade do Porto, e que segundo a lenda remonta ao período dos Descobrimentos portugueses.
“A Lenda dos Tripeiros” segundo Joel Cleto com a origem dos tripeiros, em “Lendas Porto /Myths Porto” (7ª série, volume XXVII, Associação Comercial do Porto, 2008):
«”O Infante D.Henrique, precisando de abastecer as naus para a tomada de Ceuta na expedição militar comandada pelo Rei D.João_I em 1415, pediu aos habitantes do Porto todo o género de alimentos. Todas as carnes que a cidade tinha foram limpas, salgadas e acamadas nas embarcações, ficando a população sacrificada unicamente com as miudezas para confecionar, incluindo as tripas. Foi com elas que os portuenses tiveram de inventar alternativas alimentares, surgindo assim o prato “Tripas à Moda do Porto”, que acabaria por se perpetuar até aos nossos dias, e tornar-se ele próprio um dos elementos gastronómicos mais característicos da cidade. De tal forma que com ele nascia também a alcunha “tripeiros”, como ficaram a ser conhecidos os portuenses desde então.”»
Do Porto, da região, para o Portugal profundo, em restaurantes, casas de pasto, tabernas ou tavernas, sempre em «slow food», há «dobrada com feijão!».
Até no Brasil existem os apaixonados e defensores da dobrada (dobradinha, mondongo, bucho ou tripa, confecionada de diversas maneiras, à milanesa, com batatas, com feijão branco, com arroz e linguiça, …, _Só para quem gosta muito!, segundo o jornal www.avozdaserra.com.br).
Lá como cá o segredo estará sempre na preparação e até a «Bimby» faz! (lavam-se muito bem os livros/folhos, favos e a touca, esfregando-se com sal e limão, coze-se em água com sal, .., polvilhando no final segundo o gosto com cominhos ou salsa picada e acompanhada com arroz branco seco!). Para fazer crescer ou não, “água na boca”, há que ver e saborear a receita completa para as «Tripas à Moda do Porto /Dobrada» no sítio «www.myrestaurant.pt», tendo como fonte a receita no livro da “Cozinha Tradicional Portuguesa” (Editorial Verbo).
Por lá no Brasil, a «Escola de Samba Mangueira» no Carnaval de 2016 desfilou com o samba-enredo “Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá”, «num suspiro de liberdade para todas as pessoas que professam um mundo de respeito às crenças de cada ser humano, e no caso brasileiro, à valorização colectiva das culturas africanas estruturantes do país!» (Cidinha da Silva, no sítio «www.revistaforum.com.br»).
E de volta ao esplendor de Portugal e à nossa cozinha de excelência podemos destacar como prato do dia:
_hoje temos uma dobrada a sair, quentinha e boa, muito saborosa, já provei!
E tudo isto porque «dobradinha» em português de Portugal, também significa um duplo triunfo (vencer a taça e o campeonato no mesmo ano), feito histórico que o Benfica selou pela 11ª vez (1942-43, 1954-55, 1956-57, 1963-64, 1968-69, 1971-72, 1980-81, 1982-83, 1986-87, 2013-14, 2016-17), numa final intensa contra o Vitória Sport Clube de Guimarães, com quem tinha perdido em 2013-14.
Pode-se então afirmar-se que com 2-1 se ganha (a 26ª Taça de Portugal do SLB), e com 1-2 se perde (SLB perdeu 10 finais perdidas contra o Sporting_2, Boavista_2, Vitória de Setúbal_2, Belenenses, Porto e Guimarães).
E para terminar, volto ao enredo na entrada triunfante da «Mangueira» em 2016 no Sambódromo Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro:
_chegou a garra!
_chegou a emoção!
_…”A sua força me invade, o vento sopra e anuncia, Oyá …”
_Dobradinha! (…_Não é prato que se possa comer frio, mas trouxeram-mo frio, não me queixei, mas estava frio, nunca se pode comer frio, mas veio frio!).
Aos beijos e abraços, Paulo Craveiro, oBispo, v/Devoto Incensador de Mil Deidades – Figueira da Foz, 29 de Maio de 2017.