Dr. Denis Mukwege, Africano, Prémio Nobel da Paz 2018 – Um Exemplo para África
Eu ouço, falo e leio toda a gente. Sem qualquer selectividade à partida. Seja por pensarem diferente de mim, por seguirem ideologias políticas, religiosas e outras, que eu não perfilho, e, ainda, qualquer que seja a sua literacia, cultura, condição social, profissional, económica, etc., a sua origem e raça.
Para mim, eu estou em presença de pessoas, e isto é o fundamental, o primeiro critério.
A minha selectividade vem depois. Se falam, falam, falam e nada dizem; se escrevem, escrevem, escrevem e nada transmitem; se ao falarem ou escreverem transmitem ideias inaceitáveis, preconceitos, recalcamentos e ódios – em todas estas situações, desperta em mim o desinteresse, mas não desprezo os autores. O contrário de tudo o descrito, alimenta-me o interesse e, se possível, incentivo o diálogo e a leitura,
Tudo isto, a propósito de uma extraordinária personalidade, por acaso natural e residente em África, negro, médico ginecologista, Prémio Nobel da Paz 2018. Optou por dedicar-se a tratar dos mais desfavorecidos, nomeadamente de milhares de vítimas de crimes sexuais. Fundou o Hospital Panzi, na República Democrática do Congo.
Ao fazer esta opção de vida profissional, provavelmente também com simplicidade a sua vida privada, contrariou e contraria os cânones em muitos casos em vigor em África, e não só – motivo de crítica e preocupação o que se passa em Portugal. Quem tem possibilidades – e a personalidade de quem falo, e que passo a admirar, tinha e tem – de aceder ao poder, de pertencer aos círculos gravitando à volta do poder e dos negócios, usufruindo de favores, de benesses, do bom viver, do enriquecimento (não poucas vezes ilícito), não abdica de o fazer. E se essa possibilidade não surge com mais ou menos naturalidade, procuram -na (forçando-a e atropelando tudo e todos).
Que muitos governantes e outros altos responsáveis em África, principalmente os ditadores – alguns, assassinos (primeiros responsáveis) do seu próprio povo, de onde aliás eles provêm -, atentem neste seu irmão, Prémio Nobel da Paz, façam um exame de consciência e arrepiem caminho, em nome da Paz e do desenvolvimento dos seus países, e do fim das mortes, do sofrimento e do empobrecimento dos seus povos.
Passo a transcrever com a devida vénia, na íntegra e tal como recebi, o texto do e-mail reencaminhado por um amigo de longa data.
Aos leitores(as) sugiro que após a leitura atenta do curto texto, reflitam e tirem conclusões.
Não posso deixar de invocar a extensão (no aplicável) de tudo quanto ficou escrito e da transcrição que segue, ao Moçambique de muitos de nós, seja por nascimento ou por adopção, mas, para muitos, infelizmente, Moçambique terra natal ou terra prometida, mas não Moçambique seu País.
Segue a transcrição:
ÁFRICA
África está à beira da terceira colonização, diz vencedor do Nobel da Paz.
África está à beira de sofrer a terceira colonização, enquadrada pela globalização e pelo controlo monopolista das empresas asiáticas, disse hoje o vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2018, Denis Mukwege.
O médico ginecologista, que se tornou conhecido quando fundou o Hospital Panzi, na República Democrática do Congo (RDCongo), onde já foram tratadas milhares de vítimas de crimes sexuais, criticou a “regressão” das novas formas de organização social e afirmou que África está “à beira de sofrer a terceira colonização”.
“Depois dos tempos da escravatura e da colonização dos países ocidentais, hoje em dia as empresas asiáticas estão em vias de tudo monopolizar, no quadro de uma globalização inclusiva que não respeita nem mesmo o ambiente”, disse Denis Mukwege, durante a abertura da Bienal de Luanda-Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz.
A crítica foi estendida aos próprios africanos, mais interessados em zelar pelos interesses pessoais do que pelos do povo, questionando: “Onde está a nossa solidariedade? Onde está a nossa fraternidade? Onde está a nossa dignidade?”
Para Denis Mukwege, a cultura da paz “deve estar no centro das preocupações” individuais e coletivas e cabe aos africanos encontrar soluções para o caminho da paz e da prosperidade, com base nas suas culturas e tradições.
“O grande problema de África é não ter sabido capitalizar a cultura para desenvolver a sua identidade”, considerou, referindo que “a adoção de uma cultura importada” levou a uma incapacidade de dominar as próprias tradições africanas e apontou a instabilidade permanente como o maior impedimento à construção de uma paz duradoura.
O médico lamentou que a distribuição da riqueza não seja feita de forma equitativa e que as mulheres sejam relegadas para segundo plano, salientando que só será possível transformar África numa potência mundial desenvolvendo “uma identidade africana autêntica” e o respeito pelos direitos humanos e pela diversidade cultural.
“Estamos longe de satisfazer necessidades básicas da nossa população e de satisfazer as suas aspirações legítimas”, o que explica que muitos jovens procurem outras alternativas de sobrevivência, juntando-se a milícias e à ‘jihad’, como no Sahel, ou busquem o exílio arriscando as vidas no Mediterrâneo, declarou.
Segundo Denis Mukwege, África tem os meios materiais para trilhar um caminho de prosperidade, “tudo é uma questão de vontade política” e “boa governação dos recursos”.
O médico falou ainda sobre o seu próprio país, cujo ciclo de violência se mantém desde os anos de 1990 e já provocou mais de seis milhões de mortos, quatro milhões de deslocados e milhares de violações de mulheres e raparigas, incluindo bebés, apelando aos chefes de Estado, União Africana, Nações Unidas e sociedade civil para que se mobilizem em torno da justiça para punir os responsáveis pelos crimes.
Fim de transcrição.
Pierre Vilbró, Out./2019