O Menino Pobre da Mafalala
Inspirando-me no percurso de vida de um menino que habitou muito tempo o bairro da Mafalala, depois e antes de viver em outros bairros suburbanos de Lourenço Marques (Maputo, hoje), elaborei o poema que segue.
Poema com o qual pretendo enaltecer e homenagear todos os meninos que conseguiram e conseguem libertar-se do seu destino anunciado de pobreza, de carências de toda a ordem, e eventualmente de marginalidade, não se resignam e fazem eles próprios o seu destino. Não forçosamente destino futuro de estudos superiores, de enriquecimento, de grandes empresários, de figuras públicas, mas suplantando-se, qualquer que seja a actividade humana.
Tudo feito e conseguido com sacrifícios de toda a ordem, com persistência e com tenacidade, sem nunca renunciarem ao que realmente são, obtendo a medalha final da sua satisfação pessoal de terem conseguido. Méritos que muitos não reconhecem devidamente, simplesmente porque não estão à altura de o poderem fazer.
Embora focado o poema nesse menino pobre, este menino também será qualquer um, seja da Mafalala, de qualquer outro bairro, de qualquer outra localidade, de qualquer País, em suma, qualquer menino do Mundo. Em primeiro lugar, meninos com carências porque, nestas condições, o feito é maior, mas também meninos remediados e ricos. Porque o objectivo a valorar é a suplantação e a realização pessoal. Não é factor de desdém qualquer menino nascer remediado ou rico. Queria eu que todos os meninos nascessem ricos, tivessem uma infância sem carências, lhes fosse permitido serem crianças no seu tempo de o serem.
Lamentavelmente, muito do que é justo e obrigatório, é utopia.
O Menino Pobre Da Mafalala
Menino que o destino seu pai tirou,
de muitas carências viveu,
mas, porque com grande mãe ficou,
não se perdeu.
Menino que quase sem livros estudou,
muitas vezes mal calçado e não poucas vezes com fome,
se sacrificou, esforçou, curso superior tirou,
e na profissão criou nome.
Menino que cresceu e constituiu família,
que venceu a pulso na vida,
mas que nunca escondeu sua humilde condição,
pois nesta sempre encontra orgulho e inspiração.
Hoje, de pés bem calçados,
estômago sempre satisfeito,
na vida e na profissão realizado,
mas sempre aquele menino.
Pierre Vilbró, Abril de 2019
6 Comentários
José Godinho
Sensibilidade construída de realidade dura… Ficção ou… realidade?
Retrato muito nítido.
Um abração
Rui Gouvêa
Como já se disse, lindo e triste. Parabéns ao seu autor .
Augusto Martins
Parabéns pelo lindo poema, mas especialmente porque a sua maior beleza é a que retrata o sacrifício, o esforço e a tenacidade de uma criança, que se transforma no homem que consegue subir a difícil escada da vida, sozinho e à sua custa.
Obrigado pela lição e, especialmente, PELO GRANDE EXEMPLO
Tocha Santos
Muito bem, Vilbró. Tive que ler o teu cv para confirmar que eras o mesmo que eu conheci no LEM em 1972-75 (?), apesar do teu nome não ser nada vulgar. A que nos levou a Diáspora! Abraço e saúde!
Luis Lidington
GOSTEI! Grande Abraço, Pierre.
Do Amigo
Luis Alberto Lidington
Anibal Da Silva
kanimambo kokwana, espero que este lindo poema chegue aos meninos e meninas da Mafalala e do Xipamanine.