Os Porquês Do Benfica 1 – Sporting 3
Se eu me limitasse a sintetizar, diria que, em todos os aspectos, o Sporting foi competente e o Benfica foi o contrário. O Sporting esteve presente e o Benfica, ausente.
Mas porque o resultado, devido ao seu algo de surpreendente dada a realidade circunstancial anterior ao jogo, justifica uma análise detalhada, atrevo a manifestar a minha opinião, procurando fazê-lo desprovido de clubite, mas com isenção, e socorrendo-me da impressão com que fiquei do jogo.
Este resultado, embora surpreendente, não aconteceu por acaso. Houve razões objectivas para que tal acontecesse. Essas razões, e no que concerne ao Benfica, não são de agora. Várias mantêm-se, época após época. Como tudo na vida, nada (ou quase nada) acontece por acaso. E quase sempre acontecem por culpa ou incapacidade do lesado.
Começando pelo Sporting, notou-se a sua superioridade táctica, técnica, física, psicológica e anímica, aspectos que lhe permitiram desenvolver durante o jogo o querer, o pressing, a velocidade, a eficácia, e mostrar plano de jogo pré-elaborado, tudo apesar de não ter tido o domínio do jogo (posse de bola). Exerceu, ainda, entradas excessivamente físicas sobre alguns jogadores preponderantes do Benfica.
Este rendimento, quanto a mim, resulta de uma série de decisões e contratações que o Sporting tem levado a cabo recentemente (época passada e esta), que se têm revelado acertadas e, depois, felizes: mudança dos órgãos directivos e da política definida para o futebol, contratação criteriosa da equipa técnica e de jogadores, e aproveitamento acertado de jogadores da formação.
Passando ao Benfica, o futebol praticado continuou a enfermar dos mesmos erros e deficiências de sempre: sistema de jogo inexistente, ou impercetível, ou mal assimilado, futebol lento, lateralizado, pouco objectivo, sem pressão sobre o adversário, deficiente recuperação e preenchimento dos espaços, sectores afastados entre si, poucos remates à baliza, desmarcação/deslocação dos pontas de lança para as laterais ou para trás, abandonando a área (local dos pontas de lança e onde se marcam golos) – compreender-se-ia esta movimentação se fosse para deslocar os defesas adversários e criar espaço para a penetração de outro(s) jogador(es) e, assim, possibilitar a obtenção de golo, o que raramente se verifica, e correria individual com bola, terminando quase sempre com a sua perca ou com o desarme pelo adversário.
Tudo isto acontece porque a equipa é desequilibrada, carece de jogadores adequados para algumas posições, malgrado as contratações efectuadas e o dinheiro gasto. E neste aspecto, repetiu-se o mais do mesmo, ficando a impressão de contratações sem critério: não se reforçaram algumas posições carenciadas, comprou-se mais que um jogador para a mesma posição, sendo alguns de qualidade duvidosa, e na equipa existem alguns que, pelo seu rendimento habitual, deveriam ter sido substituídos.
Esta, a minha opinião (que já a tinha, e que este jogo só veio confirmar, mais uma vez).
As questões que a minha opinião abordou, ficam abertas ao juízo de quem gosta do desporto pelo desporto, e à reflexão dos outros.
Parabéns ao vencedor, respeito ao vencido.
Louve-se os cumprimentos entre os adversários após o jogo, e a presença dos presidentes dos dois clubes, sentados lado a lado na tribuna.
Cumprimentos e presença, exemplo a seguir por todos os clubes.
Pierre Vilbró, Dezembro 2021
Um Comentário
Manuel Martins Terra
Caro amigo Pierre, a tua narrativa sobre o dérby explica na perfeição os motivos que estiveram na base da vitória do Sporting. A multiplicidade dos movimentos ofensivos alicerçados na juventude e irreverência dos seus jogadores, a que se junta um exímio rigor tático, causaram mossa na equipa do Benfica, que como tu dizes e bem, esteve ausente do jogo, revelando falta de atitude e competência. Sobretudo o meio campo do conjunto “encarnado” foi uma sombra, não apoiando o ataque e tão menos a ajudar o trio de centrais, já quase todos sem grande vigor físico para conter as mudanças de velocidade da rapaziada de Ruben Amorim. Nada a dizer sobre uma vitória categórica do atual campeão nacional, que promete mais uma excelente temporada.